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Editorial: Brusque exaltada 

Desde de sua aparição como candidato a presidente em 2018, Bolsonaro conquistou a admiração e simpatia de grande parte dos eleitores brusquenses. Seu lema Deus, pátria e família soou como música aos ouvidos e incorporou a verve de direita em nossa tradicional cidade.  Esta simpatia se expressou nas urnas, que sempre foram generosas por aqui […]

Desde de sua aparição como candidato a presidente em 2018, Bolsonaro conquistou a admiração e simpatia de grande parte dos eleitores brusquenses. Seu lema Deus, pátria e família soou como música aos ouvidos e incorporou a verve de direita em nossa tradicional cidade. 

Esta simpatia se expressou nas urnas, que sempre foram generosas por aqui com o presidente, lhe garantindo uma vitória esmagadora nos dois pleitos que participou. 

Com o fim desta eleição e o anúncio da derrota, a passionalidade de muitos destes eleitores militantes desencadeou um fenômeno raro, uma vigília em frente ao Tiro de Guerra. 

Brusque já viu grandes manifestações como as do Impeachment da Dilma, mas nunca tinha visto uma vigília de tantos dias com tanta gente por uma motivação política.  

Este fenômeno se deu pelo sentimento de inconformismo com o resultado das urnas que geraram reivindicações diversas. Entre as mais citadas há o questionamento do processo eleitoral, a rejeição às condutas do STF e TSE e até solicitação de intervenção.

Assim o assunto tomou conta da cidade. Não há uma roda de conversa que não tenha o tema como epicentro. Teorias, conjecturas, teses, ataques, fakes, exaltação, e muitos outros predicados florescem nestas discussões. 

Mas nem sempre há consenso em relação aos pontos de vista e muitas conversas tem trazido brigas e desunião entre familiares, amigos e colegas de trabalho. 

Nunca vimos uma eleição que despertasse tanta exaltação nas pessoas. Talvez a pandemia nos fez mais sensíveis ou mais agressivos, mas a verdade é que polarização não ficou restrita à política

Com ânimos exaltados as pessoas deixam de lado suas relações afetivas para impor seu posicionamento político conforme publicamos na matéria especial de hoje “Divididos pela política”. Assim, o mais importante não é o tempo nem todas as vivências que você teve com determinada pessoa e sim que lado ela tomou na discussão. 

Alguns casos extrapolam as questões de opiniões e se tornam crimes, como a elaboração e divulgação de uma lista de empresas supostamente petistas que foram elaboradas e divulgadas nas redes sociais para boicotar esses estabelecimentos.  

Mas as divergências não são somente para quem pensa diferente. Até para pessoas que são do mesmo lado ideológico acontecem atritos. Não basta, por exemplo, você ser bolsonarista, você precisa provar, militar, ir na manifestação. 

Neste cenário, nunca vimos uma eleição que despertasse tanta exaltação nas pessoas. Talvez a pandemia nos fez mais sensíveis ou mais agressivos, mas a verdade é que a polarização não ficou restrita à política. Ela entrou nas casas, no cotidiano das pessoas causando estragos.

Com a divulgação do relatório das forças armadas e com a negativa de muitas das teses compartilhadas entre os participantes, as manifestações vão perdendo força.

Mas mesmo com o frenesi terminando e as pessoas indo para casa muitas marcas profundas deste período vão ficar. Vai ser difícil restabelecer as pontes que uniam famílias e amigos. 

Vai ser preciso que o orgulho e as convicções políticas dêem espaço ao perdão e respeito. Só assim cada um vai poder continuar com sua liberdade política sem que isso afete suas relações pessoais.