Editorial: Cadê o eleitor?
Em nosso cotidiano lamentamos a situação que o Brasil se encontra. Reclamamos dos políticos, da situação econômica. Postamos e compartilhamos em nossos grupos de amigos, família e nas redes sociais críticas ao atual sistema que vivemos. Até vídeo para a Globo as pessoas estão produzindo para dizer o Brasil que querem. Infelizmente tudo isso é […]
Em nosso cotidiano lamentamos a situação que o Brasil se encontra. Reclamamos dos políticos, da situação econômica. Postamos e compartilhamos em nossos grupos de amigos, família e nas redes sociais críticas ao atual sistema que vivemos. Até vídeo para a Globo as pessoas estão produzindo para dizer o Brasil que querem. Infelizmente tudo isso é em vão.
O primeiro e mais importante instrumento de mudanças é o voto. Por meio dele é que vamos escolher as pessoas que vão nos representar nas esferas de poder. Por mais que tenham campanhas chamando a atenção para a importância do voto, ou pelo voto consciente, o brasileiro continua a ignorar e votar mal, subutilizando este poderoso meio de mudanças.
A primeira constatação neste sentido vem daqueles que não regularizaram sua situação junto à Justiça Eleitoral. Só em Brusque foram mais de 17 mil eleitores que não poderão votar nesta eleição, conforme matéria publicada na quarta-feira aqui n’O Município.
Só estes cidadãos representam mais votos do que recebeu Claiton Salvaro Brolessi (PSB), que se elegeu deputado estadual na eleição de 2014, com 14.986 votos. Se somarmos ao número de Brusque os cancelamentos dos 2.529 eleitores de Guabiruba, teríamos mais votos do que três deputados eleitos em 2014.
Estes eleitores estão fora do processo eleitoral deste ano e, ao não regularizarem o seu título, vão permitir que outras pessoas escolham aqueles que vão lhes governar. Também estão passando uma procuração em branco para terceiros desconhecidos aqueles que podem votar, mas se abstêm, votam em branco ou nulo.
Os números neste caso também são expressivos. Somente em Santa Catarina, nas eleições de 2014, tivemos 4.855.732 eleitores aptos. Compareceram 4.058.912. Se levarmos em conta a votação para senador em nosso estado, vamos contabilizar 490.195 votos branco e 512.610 votos nulos. Em resumo, de 4,8 milhões de catarinenses que poderiam eleger um senador, 1.799.625 (37%) não compareceram ou votaram branco ou nulo.
Aqui em Brusque, nas eleições municipais de 2016, de um total de 84.382 eleitores aptos, 22.178 votaram branco, nulo ou não votaram. O número é muito próximo de 25.171 eleitores que elegeram o atual prefeito Jonas Paegle. Podemos perceber que se estes eleitores tivessem participado das últimas eleições, poderíamos ter resultados completamente diferentes em todos os níveis de poder.
Este desânimo aliado a uma grande oferta de candidatos pode traduzir uma maior volatilidade nas escolhas: hoje penso num candidato, mas amanhã posso votar em outro
Além destes cidadãos que estão aptos a votar, mas não votam ou votam branco e nulo, temos os que não sabem votar. Não estamos falando aqui da ideologia do voto, se para esquerda, direita ou centro, mas pela completa incapacidade de entender as necessidades de nosso país.
Outra horda vota em troca de benefícios, cargos, influência, interesses espúrios. Esta categoria é a mais manipulável e de fácil “convencimento”. Para estes grupos faz sentido uma lei da ficha limpa, pois sozinhos não têm discernimento de votar, precisam de um estado tutor que lhe impeça de votar em bandidos, o que é lamentável.
Os demais eleitores, que não estão nos dois blocos anteriores, não estão lá tão animados a votar. Mostram uma apatia e distanciamento das discussões. Este desânimo aliado a uma grande oferta de candidatos pode traduzir uma maior volatilidade nas escolhas: hoje penso num candidato, mas amanhã posso votar em outro.
Neste cenário morno, o que não pode acontecer é o eleitor perder de vista o valor de seu voto. Muitas pessoas lutaram e morreram para termos este direito e escolhermos os nossos líderes. Mesmo que tenhamos escolhido mal em outras eleições, ainda permanecemos com este direito.
O que é perigoso é buscar um salvador da pátria ou achar que outro estilo de governo que não permitirá nem sua participação nem sua liberdade de expressão assuma o comando. Neste caso, você pode ser descartado e nem pelo WhatsApp poderá mais reclamar.