Editorial: caindo na tentação
O assunto da semana foi a aprovação da criação do cargo de assessor parlamentar, na última terça-feira, na Câmara de Vereadores. O projeto foi da mesa-diretora, aprovado em votação única, e deve entrar em vigo em janeiro do ano que vem, conforme publicamos no Jornal e Portal O Município.
Na prática, cada vereador vai poder indicar seu assessor que teoricamente vai auxiliá-lo na elaboração e redação de proposições, pronunciamentos e pareceres, preparação de matérias para imprensa, organização da agenda, entre outras atribuições.
O projeto foi duramente criticado pela sociedade organizada que se manifestou nas redes sociais, em entrevista e notas oficiais. Todos são contra este aumento repentino de mais 15 novos cargos na Câmara.
A Acibr em sua nota oficial, estranhou a falta de diálogo sobre este tema tão sensível e mostrou-se preocupada com o funcionamento e orçamento da casa legislativa. Fabrício Zen, presidente da CDL foi na mesma linha contrária e questiona inclusive a falta de espaço físico para abrigar estes assessores.
O observatório social de Brusque, mantido por várias entidades da cidade, levanta a questão dos custos que estes assessores vão ter e que estes recursos poderiam ser utilizados de outras formas, em áreas de mais necessidade.
Já o Sindilojas, através de seu presidente, Marcelo Gevaerd, questionou a falta de transparência, afinal não houve a publicidade do projeto e ele sequer aparecia no sistema de projetos da Câmara no dia da votação.
Nesta linha, outras entidades também assinaram uma nota em conjunto comentando sobre o cenário econômico em que todos estão se ajustando, cortando custos e buscando novas tecnologias e que a aprovação desta lei vai na contramão.
A verdade é que os nobres vereadores caíram na tentação de aumentar seu capital político e querem empregar um bom cabo eleitoral
No calor das manifestações foram feitas sugestões interessantes, como a de contratar estagiários de universidades, que trabalham nas áreas afins como direito, administração, contabilidade, etc, e que poderiam atender as demandas dos edis na plenitude.
Mas a verdade é que os nobres vereadores caíram na tentação de aumentar seu capital político e querem empregar um bom cabo eleitoral. Decidiram na surdina, sem alarde, pois sabem que temos muitas outras prioridades.
Somente dois vereadores votaram contrário, Ivan Martins e Rogério dos Santos, mas o tempo vai dizer se realmente vão abrir mão deste privilégio ou foi uma atitude demagógica, diante da iminente aprovação pela maioria.
De qualquer forma, o fato foi uma grande decepção. A esperança de que a renovação dos vereadores e a “nova” política fossem diferentes, mas a realidade tem mostrado que é tão surrada quanto à velha.
O que se esperava era outra postura. A busca de vereadores que tivessem capacidade, por si só, de elaborar suas proposições, fazer sua agenda ou se comunicar com seus eleitores e imprensa, sem intermediários.
Esperança que os vereadores buscassem soluções inovadoras, tecnológicas, que aumentassem a eficiência sem aumentar custos. Que não precisassem de novos palácios (uma nova Câmara também está na pauta) e nem de súditos prontos a lhes servirem, afinal esta tentação medieval não combina mais com nossa era digital.