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Editorial: Claudia Bia, contracorrente

Nesta semana nos despedimos de nossa colaboradora, Claudia Bia, e pedimos licença, caro leitor, para utilizar este espaço e falar um pouco desta pessoa extraordinária que deixou marcas profundas na cultura brusquense. Claudia Bia não era um estereótipo de sucesso que estamos acostumados a cultuar. Não tinha um carro zero e nem era afeita a […]

Nesta semana nos despedimos de nossa colaboradora, Claudia Bia, e pedimos licença, caro leitor, para utilizar este espaço e falar um pouco desta pessoa extraordinária que deixou marcas profundas na cultura brusquense.

Claudia Bia não era um estereótipo de sucesso que estamos acostumados a cultuar. Não tinha um carro zero e nem era afeita a bens materiais. Não era empresária, nem ligada a padrões estéticos. Sua beleza fluía de sua inquietude, de sua inteligência, capaz de arrebatar, à primeira vista, quem cruzasse seu caminho.

E neste sentido fomos felizardos, por ter nossos destinos entrelaçados nos últimos 13 anos, contando com sua verve jornalística das artes e da cultura pop nas páginas do jornal O Município. Sua coluna nunca foi a mais popular, mas com certeza foi a que teve as raízes mais profundas, tocando a alma de seus leitores como uma obra de arte. 

Nossa jornalista era santista e veio a Brusque na década de 80, para mudar definitivamente a cena cultural da cidade. Mergulhou fundo no movimento de Rock, trazendo bandas de fora e incentivando as locais, contribuindo assim para que Brusque recebesse o título de capital do rock, reconhecido até na Folha de São Paulo.

Assim, deixou seu legado, enriquecendo o que é mais difícil enriquecer, lapidando o que somente um mestre consegue

Mas nossa querida paulista queria mais e fundou um jornal alternativo, chamado Contracorrente. Num texto refinado e um pensamento afiado, desbravou o Brasil e ganhou admiradores de todos os cantos, como o músico e apresentador de TV Thunderbird, que ficava admirado com tanta inspiração que vinha da pequena Brusque. Era muito conteúdo para uma cidade tão puritana.

Mas ela não queria estar sozinha, por isso envolvia, provocava, invocava as pessoas a caminhar junto. Identificava e canalizava os talentos da cidade a saírem de seus porões para ganharem as luzes da ribalta. Foi assim no projeto Beltranas, que escreveu até seu último dia, instigando sua equipe a mostrar o que pensa, o que sonha, mesmo diante da maior adversidade.

E como disse o professor Deschamps, “ela sempre deixava as coisas pela metade” não porque fizesse mal feito, mas porque sabia que tudo ainda poderia ser melhor, mais intenso, dando a sensação de que sua obra ainda não terminou.

Assim, deixou seu legado, enriquecendo o que é mais difícil enriquecer, lapidando o que somente um mestre consegue, fazendo com que nossa cidade não seja apenas tijolos, pessoas e carros, mas que tenhamos uma alma cultural, uma oportunidade de elevar o conhecimento, elevar o ser. 

Claudia Bia foi assim, “Contracorrente”, contra a mesmice, contra o marasmo, oferecendo sempre uma oportunidade ímpar de interpretar a realidade de outro ângulo. Quem lia suas colunas experimentou um pouco desta fonte e quem a conhecia teve o privilégio de ser tocado pelo seu entusiasmo e conhecimento.

O Município se despede com muito carinho da jornalista Claudia Bia, já com saudades de seus textos e das boas conversas, que agora vão ecoar em outras dimensões.