Editorial: correndo com os andarilhos
Na quarta-feira, 8, O Município repercutiu o balanço feito pela Secretaria de Assistência Social sobre o atendimento a andarilhos. De acordo com o secretário Deivis da Silva, nos últimos 12 meses a Prefeitura de Brusque gastou R$ 1,6 milhão com a população em situação de rua. Neste valor está incluído o gasto com passagens de […]
Na quarta-feira, 8, O Município repercutiu o balanço feito pela Secretaria de Assistência Social sobre o atendimento a andarilhos. De acordo com o secretário Deivis da Silva, nos últimos 12 meses a Prefeitura de Brusque gastou R$ 1,6 milhão com a população em situação de rua. Neste valor está incluído o gasto com passagens de volta para a cidade de origem, construção do albergue e Centro Pop, alimentação, servidores e campanhas sócio educativas.
A coletiva aconteceu um dia antes da reunião da Câmara dos Dirigentes Lojistas (CDL) cujo tema também foi os andarilhos na cidade. Se na coletiva a intenção era mostrar o que foi feito, na reunião do CDL o tom foi para uma atuação ainda maior, conforme publicamos nesta quinta-feira, 9, aqui n’O Município.
A CDL apresentou ocorrências de situações problemáticas com os andarilhos, reportadas por lojistas presentes, bem como sugestões para melhorar esta situação, como as abordadas na matéria pelo delegado Fernando de Faveri. A entidade reivindica uma atuação ainda mais contundente em relação ao assunto.
Mas se é fácil constatar e ver o problema, já não se pode afirmar o mesmo em relação à solução. O tema dos andarilhos não é recente, já abordamos aqui em várias oportunidades, e também não é uma exclusividade de Brusque.
A sociedade quer “correr” com os andarilhos, mas o ritmo deles é
diferente e a lei assegura sua
liberdade de locomoção
Estima-se que em todo mundo cerca de 258 milhões de pessoas estão deslocadas ou são migrantes. Isso representa 3,4% da população mundial. No Brasil estes números são bem menores e correspondem a 0,3% da população.
Apesar de não termos números mais precisos dos movimentos de migração que ocorrem dentro do paÍs, a percepção que se tem é de que estão aumentando. Segundo Silva, em Brusque estão mapeados entre 60 e 70 andarilhos.
Eles geralmente são migrantes que não foram bem-sucedidos em suas tentativas de mudar de cidade em busca de oportunidades e fixar-se. São pessoas que tiveram a sua expectativa de mudança frustrada e não voltam por falta de condições financeiras, e tem vergonha de voltar sem dinheiro.
Mesmo tendo um número de andarilhos relativamente baixo, eles impactam a cena urbana com sua presença e incomodam parte da sociedade ao ocupar espaços públicos e privados. Em países europeus e nos Estados Unidos há uma verdadeira xenofobia em relação ao assunto, pois lá são estrangeiros que migram a acabam ocupando empregos que poderiam ser de nativos. Também sobrecarregam serviços públicos, como os relacionados à saúde.
Por aqui não temos o impacto dos estrangeiros e também não há a preocupação de ocupar postos de trabalho. Mas o fato de se apropriar de espaços como o ocorrido no ano passado, na antiga sede dos correios e atualmente em nossas praças, não agrada a sociedade.
Também não podemos dizer que é barato mantê-los, visto se todos fossem atendidos, cada um teria custado aos cofres municipais em torno de R$ 24 mil nos últimos 12 meses.
A sociedade quer “correr” com os andarilhos, mas o ritmo deles é diferente e a lei assegura sua liberdade de locomoção. Também não se pode obrigar que um cidadão trabalhe ou siga uma religião, como foi proposto, tornando complexa a situação.
Neste cenário, não há uma solução fácil ou definitiva. O importante é manter o debate em relação ao tema, seja por parte do governo municipal, seja por parte da sociedade organizada.
O assunto é oportuno e necessário e somente com o engajamento de todos será possível buscar soluções que consigam dar um bom encaminhamento a estas pessoas sem causar maiores traumas à sociedade.