Editorial: a curva que virou reta
Desde o início da pandemia temos recebido um volume intenso de informações sobre o coronavírus e baseado nestas informações foram construídos protocolos e ações na tentativa amenizar seu contágio.
Desde então percebemos que muitas destas informações vem mudando com o tempo e o que era verdade absoluta passa a ser uma dúvida, assim como muitas dúvidas foram sendo esclarecidas à medida que o tempo passou, quando conhecemos melhor o comportamento do vírus.
Neste sentido um dos fatos mais emblemáticos é o da tal curva de contágio criada pelo jornalista Rosamund Pearce, da revista Economist e modificada pelo especialista em saúde pública Drew Harris. Eles criaram aquele gráfico que tem uma curva mais acentuada mostrando um contágio sem precauções e uma curva mais achatada se fossem tomadas medidas necessárias.
Este gráfico, mostrado a exaustão, pressupunha um crescimento vertiginoso de contágio, tendo no seu ápice um “pico” e que, a partir dele, haveria uma queda na mesma proporção que a subida. Neste pressuposto a saída adotada foi o lockdown para evitar o contágio acelerado e não sobrecarregar o sistema de saúde.
Em junho estudos apontavam um novo pico para o contágio, sugerindo um gráfico em W, ou seja, após uma queda no contágio ele novamente subiria e atingiria um alto patamar.
Hoje o que estamos vendo é que nem um nem outro destes modelos estão acontecendo. A evolução no Brasil apresentou um crescimento e depois, com pequenas oscilações, tem mostrado uma tendência de manutenção, de reta. Assim também acontece em todos os estados, sendo o que muda é a tendência desta reta podendo ser crescente, estável ou decrescente.
Temos que aprender a conviver com este novo e incômodo inquilino enquanto não houver uma vacina eficaz
Entendendo esta configuração percebemos que o contágio teve uma grande ascendência e se mantém, muito além dos prazos inicialmente previstos. Esta constatação nos faz ter novas formas de enfrentamento, mais afastado de um lockdown e mais dentro de uma ideia de convivência.
Temos que aprender a conviver com este novo e incômodo inquilino enquanto não houver uma vacina eficaz. E, como estamos vendo, a intensidade da queda depende muito das ações que realmente são eficientes, como o distanciamento social, uso de máscaras, higienização das mãos e assim por diante.
Em Brusque, os números do contágio começaram a diminuir e outra preocupação aumentou: o grande número de ocorrência de aglomerações.
Conforme noticiamos esta semana, nos últimos 30 dias foram 3,8 mil casos atendidos pelos fiscais de Saúde. O destaque foi o fim de semana que registrou números recordes com 85 casos na sexta, 99 no sábado e 75 ocorrências no domingo.
Precisamos manter a nossa tendência de contágio em baixa e para isso não basta ter todos os cuidados no trabalho, no comércio e depois promover algum tipo de aglomeração em encontros sociais e confraternizações.
Tudo indica que a redução dos casos não será no estilo de uma curva de descida abrupta, como foi inicialmente previsto. Ela tem mais cara de reta e a sua direção vai depender de como vamos nos comportar daqui para frente.
E como uma reta é a menor distância entre dois pontos, quanto mais cuidarmos, mais depressa podemos sair desta situação, fugindo destas curvas que nos fizeram dar uma volta indesejada no nosso caminho.