Editorial: Duplicação da Antônio Heil: ignorância ou má-fé
Na edição de sexta-feira, 17, O Município publicou a matéria “Sem solução a curto prazo” que tratou da audiência pública realizada na Câmara de Brusque e que contou com a presença do secretário de estado de Infraestrutura e Mobilidade, coronel Carlos Hassler, que também é presidente do Departamento Estadual de Infraestrutura (Deinfra).
O evento foi mais uma tentativa de entender o que está acontecendo com a obra de duplicação da rodovia Antônio Heil e, infelizmente, foi mais um capítulo frustrante desta novela que estamos assistindo há mais de seis anos.
A expectativa era de que este novo governo pudesse ter uma atuação mais contundente na execução do projeto, mas o que se vê é o oposto disso. Primeiro porque o secretário vem fugindo do debate, não respondendo aos questionamentos e não comparecendo em reuniões, como a ocorrida no início deste mês (dia 6 de maio) no bairro Limoeiro.
Agora que compareceu teve uma participação preocupante. Já no início da audiência o secretário deixou claro que seu objetivo era ouvir as reivindicações, o que soa muito estranho, pois o projeto já está definido desde 2013, os recursos garantidos pelo BID, as empresas contratadas para executar a obra e quem tem a obrigação de saber o que está acontecendo é ele.
Mas esta aparente ignorância do assunto pode estar escondendo outras intenções. O secretário sabe que até outubro a obra deveria estar concluída pelo BID e sem este desfecho não haverá mais recurso do banco, como o projeto BID 7. Assim, ele apresentou como alternativa ao banco, de substituir a obra da Antônio Heil por outra já executada pelo governo, e assim repassar o recurso que falta para que o governo termine a obra.
A proposta gera uma enorme desconfiança, pois não se tem precedentes de que o banco do porte do BID aceite tal manobra. Mesmo que o banco aceite, fica difícil acreditar que o governo do estado vai terminar a obra, pois não se tem notícias de uma grande obra que tenha sido realizada pelo governo nos últimos anos e por aqui não consegue fazer sequer a sinalização. Este fato, aliás, gerou outra dúvida, o secretário não soube informar qual a obra que seria permutada por este crédito milionário.
Nada impede que tenhamos outro projeto para realizar melhorias no futuro, com outros recursos, mas se modificarmos o projeto agora corremos o risco de ficar sem nada
Um outro desencontro de informações é em relação à sua afirmação de que “quem estava tocando a obra era a Triunfo, que por problemas de mercado não teve como dar continuidade ao serviço. Fomos obrigados a rescindir o contrato e agora estamos analisando a possibilidade da outra empresa continuar”.
Acontece que o contrato com a Triunfo ainda não foi rescindido e há uma pendência da empresa como governo de cerca de R$ 1,5 milhão, que poderia ser negociado e a obra retomada.
Em relação ao entroncamento da BR-101, o secretário definiu como “um capítulo à parte, devido aos custos e dificuldades de desapropriação e da obra em si”. Ele quer encontrar uma solução diferente do que está traçado atualmente. Trata-se aqui de uma manobra clara do governo em não assumir sua responsabilidade no projeto e pagar as indenizações. Todo o resto é retórica para criar uma cortina de fumaça e desviar o projeto inicial de um trevo completo para uma gambiarra.
O estímulo à mudança do projeto inicial também é um engodo, que promete mil maravilhas para um suposto novo projeto, que desvincula do atual e passa a não ter mais compromisso com a data para sua realização.
As lideranças políticas e empresariais das regiões de Brusque e Itajaí não podem e não vão cair nesta armadilha. Precisamos apenas exigir a execução do projeto inicial, tal qual foi concebido, aprovado, executado e agora precisa ser finalizado com os recursos do BID.
Nada impede que tenhamos outro projeto para realizar melhorias no futuro, com outros recursos, mas se modificarmos o projeto agora corremos o risco de ficar sem nada, nem rodovia, nem melhorias. Ao que parece deixar tudo como está é a real proposta atual do governo.