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Editorial: É organizado, mas continua sendo crime

No cinema e na TV os grandes roubos, dramatizados e cheios de efeitos especiais, têm sempre audiência numerosa. E alguns são mesmo muito divertidos de se assistir, com planejamento meticuloso, explosões sensacionais, fugas espetaculares, policiais às tontas e bandidos que acabam virando mocinhos. Na vida real, a coisa perde a graça e os bandidos são […]

No cinema e na TV os grandes roubos, dramatizados e cheios de efeitos especiais, têm sempre audiência numerosa. E alguns são mesmo muito divertidos de se assistir, com planejamento meticuloso, explosões sensacionais, fugas espetaculares, policiais às tontas e bandidos que acabam virando mocinhos.

Na vida real, a coisa perde a graça e os bandidos são apenas ladrões que não merecem qualquer admiração. Por mais inteligentes que tenham sido ao planejar o ataque. Em ações como as realizadas esta semana em Criciúma, no sul do estado, cometem dúzias de crimes e o roubo do dinheiro é apenas um deles. Não é possível romantizar, ou ver graça, em um grupo de celerados que chega atirando, abrindo caminho com fogo e explosões, colocando em risco uma população e debochando de todos nós, que gostamos de paz e tranquilidade nas nossas cidades.

O resultado mais provável de qualquer enfrentamento entre gente pega de surpresa e assaltantes preparados para defender-se é um banho de sangue

Também de nada adianta usar o episódio para propagandear sandices, como aquela suposição de que se os criciumenses estivessem armados (provavelmente com revólveres e pistolas), poderiam enfrentar bandidos treinados, com fuzis, metralhadoras e armamento a que os civis, mesmo os mais ricos, não têm acesso. O resultado mais provável de qualquer enfrentamento entre gente pega de surpresa querendo reagir sem saber direito contra o que e assaltantes preparados para defender-se, é um banho de sangue. 

O fato é que esses assaltos espetaculares não podem ser evitados facilmente. A “bandidagem” não tem medo da polícia, não se assusta com o Judiciário, não respeita as leis. E, quanto menos treinada, preparada, equipada e respeitadora das leis forem as forças policiais, melhor para os bandidos. E quanto mais venais, despreparados, e argentários forem os juízes, desembargadores e demais operadores da Justiça, melhor para que o crime se organize e compense.

Claro que uma imensa maioria de policiais e juízes são honestos, trabalham muito, sabem o que fazem e como aplicar corretamente a lei. Mas é preciso um projeto nacional, um programa amplo e elaborado com tanto cuidado e minúcia quanto os planos dos assaltantes, para dificultar a vida de quem pense em lucrar com o crime. Antes que o “modelo” carioca de substituição do Estado por milícias se espalhe país afora derrubando, definitivamente, o muro (frágil, mas ainda um muro) que separa quem deveria defender a lei, dos criminosos.

Ah, e quanto às ações em Santa Catarina e no Pará, como nos demais assaltos semelhantes, em pouco tempo vários serão presos, algum dinheiro recuperado, um ou outro autor identificado. Quem planeja um assalto envolvendo tanta gente (falam em cerca de 30) reserva, claro, um contingente “descartável”, que será presa fácil, para acalmar a polícia e os cidadãos indignados. 

E, dependendo da competência e da eficiência dos investigadores e dos recursos colocados à disposição, talvez se chegue ao núcleo, dos espertos que ficam com a parte do leão e não correm tantos riscos. Depois vem a outra parte da novela, o indiciamento e o processo. Onde, da mesma forma, tudo depende do nível de resistência do sistema e seus componentes, às facilidades oferecidas por quem tem dinheiro (roubado) sobrando.