Editorial: Eleições e instabilidade
Em julho deste ano, o ministro Alexandre de Moraes, do TSE, decidiu, ao negar pedido para suspender o afastamento do ex-prefeito Ari Vequi do cargo, que não convinha uma nova alternância no poder Executivo, uma vez que André Vechi já havia assumido a prefeitura e isso “causaria instabilidade local”. No entanto, o simples fato de […]
Em julho deste ano, o ministro Alexandre de Moraes, do TSE, decidiu, ao negar pedido para suspender o afastamento do ex-prefeito Ari Vequi do cargo, que não convinha uma nova alternância no poder Executivo, uma vez que André Vechi já havia assumido a prefeitura e isso “causaria instabilidade local”.
No entanto, o simples fato de haver uma eleição extemporânea, por si só, já causa uma grande instabilidade. Talvez o ministro nunca tenha vivenciado a rotina de uma cidade com alternância no poder fora de época, mas para nós, de Brusque, o cenário já é conhecido, devido à cassação de Paulo Eccel em 2015 e agora a de Ari Vequi, oito anos depois.
Algumas coisas inusitadas são registradas neste período. Como esta é a única eleição municipal em andamento em Santa Catarina, políticos proeminentes do estado e do país, que normalmente não se envolveriam no pleito, vem até a cidade dar seus pitacos e participar da eleição local.
Por conta disso, temos visto em nossa cidade, fazendo campanha, o governador Jorginho Mello, diversos deputados federais, senadores, o ministro Carlos Lupi, que veio pessoalmente para inaugurar a nova sede do INSS, o que provavelmente não aconteceria em tempos não eleitorais. Por fim, até mesmo o vice-presidente da República, Geraldo Alckmin, se deslocou a Brusque exclusivamente para apoiar seu candidato.
A frequência de participação e o calibre dos personagens participantes aumentou consideravelmente nesta eleição, ao contrário das eleições gerais, em que esses políticos têm outras preocupações maiores do que o pleito em uma cidade do interior.
Além disso, a nova eleição também afeta consideravelmente a estruturação das forças políticas na cidade. Um prefeito chegou ao poder com um determinado número de apoiadores que, após a marcação da votação, do dia para a noite passaram a ser adversários e a compor coligações antagônicas. Com isso, os candidatos de três chapas, que estavam juntos poucos meses atrás, agora são opositores políticos em campanha eleitoral.
Há outro fato também se destacando nos últimos dias. Trata-se das pesquisas eleitorais, que sempre foram importantes para a cidade, inclusive com diversas contratadas pelo jornal O Município em eleições passadas, sempre com resultados assertivos com a realidade da votação.
A realização de nova eleição, sem entrar no mérito se é certa ou errada, traz em todos os aspectos uma instabilidade total para a cidade
Na eleição atual, houve o registro efetivo de quatro pesquisas, e todas estão sub judice, com intervenção judicial e limitação de publicação, porque a Justiça está encontrando problemas nestes levantamentos. Estranhamente, das quatro pesquisas registradas, três têm como contratante o próprio instituto realizador. Será que nestes casos os institutos estão tão interessados em nossa eleição a ponto de fazer o serviço para si? Ou quem de fato os contratou não quer aparecer.
Os três candidatos da direita entendem que possa haver o voto útil contra o candidato da esquerda e, caso isso se confirme, avaliam que as pesquisas podem ser um importante aspecto de convencimento do eleitor, para que este o escolha em vez do adversário.
Fora isso, o que tem causado instabilidade são as pretensas pesquisas eleitorais sem registro que circulam nas redes sociais. Há casos de materiais apócrifos, sem indicação de CNPJ ou qualquer informação que possa levar ao responsável, circulando com dados provavelmente falsos, no intuito de iludir o eleitor de que este ou aquele candidato está em vantagem na disputa. Existe, portanto, uma guerra de informação em que a pesquisa fake é o astro principal.
O próprio Judiciário e nosso sistema de leis também se torna um ator relevante na causa da instabilidade.
A candidatura de Paulo Eccel já foi rejeitada na primeira instância, autorizada a continuidade da campanha por uma liminar do TRE-SC e, em julgamento nesta quinta-feira, a sentença de primeiro grau foi reformada, desta vez pelo colegiado da Justiça Eleitoral.
Da mesma forma, ainda tramitam na Justiça solicitações do ex-prefeito Ari Vequi para retornar ao cargo, o que, caso confirmado, também geraria uma grande confusão no processo político.
Mas, independente de tudo, a vida segue e a cidade se abre para escutar esses candidatos em sabatinas realizadas por entidades e veículos de comunicação. Eles se movem com seus planos de governo em busca de convencer a maior fatia do eleitorado, tudo isso com os temperos das alianças, das traições e das coligações que se formaram.
E por fim e ainda mais triste é que tudo isso vai custar caro para o cidadão. Existe os custos da própria organização da eleição por parte do TRE-SC, o custo das campanhas com o fundo eleitoral, o custo da transição que gera atraso e interrupção de projetos e obras importantes, o custo do tempo que temos que dedicar a conhecer e escolher quem será o próximo prefeito.
Dessa forma, a realização de nova eleição, sem entrar no mérito se é certa ou errada, traz em todos os aspectos uma instabilidade total para a cidade de Brusque.