Editorial: fraternidade e fome
Nesta semana, a Igreja Católica lançou a Campanha da Fraternidade de 2023, com o tema “Fraternidade e fome”. A iniciativa capitaneada pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) busca chamar a atenção para a situação de milhares de brasileiros que convivem diariamente com a insegurança alimentar. Conforme divulgamos no jornal O Município, a CNBB […]
Nesta semana, a Igreja Católica lançou a Campanha da Fraternidade de 2023, com o tema “Fraternidade e fome”. A iniciativa capitaneada pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) busca chamar a atenção para a situação de milhares de brasileiros que convivem diariamente com a insegurança alimentar.
Conforme divulgamos no jornal O Município, a CNBB estima que, no Brasil, mais de 33 milhões de pessoas estão em situação de fome, de acordo com a Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional. Isso significa que o país voltou a aparecer no Mapa da Fome das Organizações das Nações Unidas (ONU) depois de uma década.
A fome, no Brasil, é sempre um assunto delicado. Não parece concebível que, num país com tantos recursos, existam pessoas que não têm nada para pôr à mesa na hora das refeições.
Aqui no jornal O Município, por exemplo, já tivemos muitos questionamentos sobre a quantidade real de pessoas em situação de fome. Cada estatística, dependendo do emissor, pode mostrar um dado diferente. Na prática, o número de pessoas em situação famélica muda de acordo com o critério utilizado.
Na eleição chegou-se a dizer que havia 40 milhões de pessoas passando fome no Brasil. Depois o número mudou para 30 milhões e, posteriormente, a quantidade de 10 milhões também foi citada. Agora volta-se a falar em mais de 30 milhões. Dessa forma, ainda não se tem claramente uma dimensão exata do número de brasileiros passando fome.
Sabemos que ela existe, está presente em todos os municípios em maior ou menor grau, é um problema real, uma chaga social, mas não se sabe exatamente o tamanho do problema. Dependendo da fonte, os números se contradizem.
A nossa região, neste ponto, pode ser considerada privilegiada. Embora saibamos que existam pessoas em situação de vulnerabilidade, em Brusque e nas cidades vizinhas pouco se vê a formação de favelas e, nas ruas, pessoas em situação de extrema pobreza. Mas isso não quer dizer que não existam, apenas que é menos aparente do que em grandes centros e outros estados.
É inadmissível que um país com tamanha arrecadação permita que haja sequer um cidadão sem alimentos básicos
Brusque é uma cidade tradicional e bastante religiosa, e a campanha da fraternidade sempre tem um apelo junto à sociedade. Entendemos que o tema deste ano é oportuno ao trazer essa discussão.
Por outro lado, a campanha é focada no papel da sociedade para o combate à fome, para ajudar a reduzir a desigualdade e a vulnerabilidade social. Já o governo, que tem uma parcela significativa de responsabilidade sobre o assunto, se exime das cobranças e fica à margem da discussão.
No Brasil, todos pagamos muitos impostos, que em tese deveriam ser suficientes para que o Estado pudesse criar políticas públicas e suprir as necessidades dos que têm fome. É inadmissível que um país com tamanha arrecadação permita que haja sequer um cidadão sem alimentos básicos.
Na prática, no entanto, essa responsabilidade recai sobre voluntários, como o trabalho da Ação Social da Paróquia São Luís Gonzaga, que contribuiu diuturnamente para ajudar a matar a fome e melhorar as condições de brasileiros menos afortunados.
Neste sentido, a discussão que precisamos fazer é mais ampla: a fome que o brasileiro sente não é só no sentido fisiológico, há também fome por justiça social, igualdade de oportunidades e melhores condições de vida. Há fome pela destinação correta dos impostos arrecadados, criando-se condições para que o Brasil torne-se um país mais justo, onde fazer as refeições diárias seja possibilitado a todos.