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Editorial: Lições a serem aprendidas

Diante da tragédia climática do RS nas últimas semanas, alguns questionamentos surgem sobre prevenção: o que deveria ter sido feito, que estruturas poderiam ser utilizadas, que atendimentos poderiam existir e não existem. Isso suscita uma série de questões, principalmente no que diz respeito à mitigação de danos. Brusque também é suscetível a transtornos causados pelo […]

Diante da tragédia climática do RS nas últimas semanas, alguns questionamentos surgem sobre prevenção: o que deveria ter sido feito, que estruturas poderiam ser utilizadas, que atendimentos poderiam existir e não existem. Isso suscita uma série de questões, principalmente no que diz respeito à mitigação de danos.

Brusque também é suscetível a transtornos causados pelo clima, e quando acontece uma cheia, esses temas são debatidos e somem na mesma velocidade em que a água baixa.

Temos uma barragem licitada, com edital pronto, para ser construída em Botuverá, e a obra não sai do papel. Há uma dificuldade de ter um responsável: primeiro a Casan faria a obra, depois passou para a Secretaria de Infraestrutura do estado, e agora é para ser a Celesc.

A barragem fica como uma peteca, indo de um lado para o outro, faltando um protagonista para assumir e tocar um dos projetos importantes para a contenção de cheias na região.

Hoje, ainda há dificuldade na medição do rio Itajaí-Mirim. Oficialmente, existe o medidor da Agência Nacional das Águas (ANA), mas a agência eventualmente deve desativar esse serviço, pois entende que não é mais de sua competência fazer o monitoramento nas cidades. A Epagri, por sua vez, poderia ter um empenho maior, ampliando a atividade, mas parece que deixa este assunto num segundo plano.

O que acaba acontecendo, dessa forma, é o monitoramento pela Defesa Civil, com algumas estações de telemetria, e utilizando-se de uma régua instalada no leito do rio para medir a profundidade das águas.

Já houve, no passado, um estudo desenvolvido pela Agência de Cooperação Internacional do Japão (Jica), o qual previa uma série de ações a serem tomadas para minimizar os efeitos das enchentes, com a construção de diques, barragens e canal extravasor. Esse projeto está sendo executado a conta gotas, evoluindo pouco a cada década. Há uma diretriz do que se deve fazer, mas na prática pouco é feito.

A própria estruturação da Defesa Civil está sendo questionada no RS, e levanta-se a mesma questão em Brusque. Há funcionários suficientes?

O órgão em Brusque tem alguns agentes concursados e poucos servidores comissionados. A equipe é claramente comprometida com seu trabalho, e atua bravamente durante as enchentes, mas será que isso bastará, caso tenhamos por aqui um evento climático da proporção do RS?

Não há no quadro meteorologistas, engenheiros, ou seja, pessoas com atribuição específica de traçar cenários de longo prazo e pensar de forma permanente na prevenção de desastres. Da atual forma, trabalha-se na prevenção de eventos de curto prazo e na mitigação de danos.

Além disso, estamos na iminência da aprovação do novo Plano Diretor da cidade, que necessariamente precisa ter como um dos pilares a prevenção de cheias, e precisa ter o crescimento urbano pensado do ponto de vista ambiental.

Se isso não for levado em conta, o trabalho de revisão do documento desenvolvido ao longo dos últimos anos falhou. O que se vê é, dia após dia, são aterros enormes próximos às margens do rio. Áreas inundáveis estão sendo aterradas com a anuência do poder público, e nada está sendo feito para mudar esse cenário.

A natureza, como aconteceu no RS, eventualmente cobrará seu preço. Durante a última enchente, o canal extravasor funcionou, mas a estrutura atual não é suficiente para o que esta por vir.

Um evento climático extremo pode acontecer hoje, ou daqui a 10 anos, e Brusque precisa olhar para o Rio Grande do Sul e se preparar adequadamente, com responsabilidade, colocando em prática tudo que pode ser feito nessas diversas áreas que envolvem a prevenção.

Depois do leite derramado, não adianta lamentar, quando a oportunidade de se evitar uma catástrofe é agora. É preciso como sociedade cobrar, pressionar, exigir das autoridades e órgãos competentes estas realizações