Editorial: Nada será como antes
A pandemia lançou, sobre o mundo todo, novos e enormes desafios. Um deles, de extrema complexidade, atinge diretamente o sistema educacional. E, por extensão, todas as famílias com crianças e jovens em idade escolar.
Dois aspectos parecem os mais relevantes e comportam análises e soluções diferentes: a transmissão do conteúdo das aulas, que pode ser feito a distância com o uso das tecnologias adequadas e a convivência com os colegas, cujo valor pedagógico e psicossocial tem sido comprovado e valorizado ao longo dos anos e de inúmeros estudos multidisciplinares.
No caso do ensino, a pandemia tem feito escolas, empresas e pessoas acelerarem um processo de imersão na tecnologia que, de resto, era inevitável.
À medida em que se ampliava o acesso à internet e se melhoravam as velocidades de transmissão de dados, surgiam novas formas de acesso ao conhecimento. E em muitas áreas não faz sentido ficar apenas na exposição verbal, acompanhada por alguns dados rabiscados num quadro, quando se pode complementar com tantos recursos audiovisuais de maior apelo e com capacidade de retenção, pelo aluno, de forma mais eficaz.
Então, mesmo que a pandemia estivesse controlada e todos pudessem voltar às salas de aula com segurança, o ensino não seria mais o mesmo.
A discussão sobre os métodos, a pedagogia, os recursos e qual o nível de uso da tecnologia que a pandemia acelerou, não se encerrará.
A pandemia tem feito escolas, empresas e pessoas acelerarem um processo de imersão na tecnologia que, de resto, era inevitável
Ao contrário, será cada vez mais intensa e, se espera, proveitosa. E em Brusque e região sobram exemplos de boas soluções para fazer os conteúdos circularem de forma atraente e criativa.
Da mesma forma que muitas empresas “descobriram” que nem todos os funcionários precisam estar num mesmo ambiente o tempo todo, as escolas agora sabem que é possível diversificar as formas de levar as informações aos alunos e tornar as aulas menos aborrecidas.
Já a outra questão, a dos benefícios, para a formação humana, da convivência escolar, não tem uma solução fácil ou suficientemente discutida e clara. Não tem como manter crianças pequenas num mesmo ambiente sem que ocorra, entre elas, muita interação e proximidade.
Faz parte da natureza humana essa curiosidade e essa necessidade de brincar, interagir, fazer contato visual e tátil. E aí, no nível em que a transmissão do vírus se encontra no Brasil, é inevitável que, ao voltar pra casa, a criança ofereça algum risco a quem mora com ela.
Antes da pandemia as famílias que tinham crianças pequenas em creches e escolas conviviam com uma situação normal e frequente: quando alguém da turminha tinha um resfriado ou gripe, logo outros também “pegavam” e quando a criança, em casa, tinha esses sintomas, não era raro que o pai, a mãe ou algum irmão também “pegasse”. É isso que os vírus fazem: vão “pulando” de hospedeiro em hospedeiro.
Então, o desafio, principalmente no ensino pré-escolar e fundamental, é avaliar, com seriedade, as consequências: tanto dos problemas da falta de convivência com os coleguinhas, quanto dos riscos, de certa forma inevitáveis, dessa convivência, enquanto a pandemia não estiver em níveis aceitáveis de controle.