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Editorial: O fenômeno climático em evidência

Nesta semana publicamos reportagem sobre o fenômeno El Niño, que pela primeira vez desde 2016 foi classificado como de intensidade forte em Brusque, de acordo com relatório elaborado pela Defesa Civil. Esse fenômeno de alta intensidade provocou um volume de chuvas fora do normal no município. O mês de outubro de 2023 entrou para a […]

Nesta semana publicamos reportagem sobre o fenômeno El Niño, que pela primeira vez desde 2016 foi classificado como de intensidade forte em Brusque, de acordo com relatório elaborado pela Defesa Civil.

Esse fenômeno de alta intensidade provocou um volume de chuvas fora do normal no município. O mês de outubro de 2023 entrou para a história de Brusque ao registrar um recorde de precipitação acumulada: 539,58 milímetros. Esse valor representa o maior volume de chuvas já registrado durante um mês de outubro, desde o início das medições em 1941, na estação localizada junto à ponte estaiada.

Inicialmente, esses dados nos assustam, pois a maior parte das pessoas, quando se fala de Brusque, pensa em enchente e transbordamento do rio Itajaí-Mirim. Isso, no entanto, não aconteceu na intensidade que se imaginava, devido ao espaçamento entre os períodos de chuva, e as obras de contenção existentes, como as avenidas Beira Rio, por exemplo.

Mas além da enchente, os fenômenos climáticos trazem mais transtornos, cujos efeitos perduram por vários dias. Há uma série de consequências das fortes chuvas, como os alagamentos e principalmente os deslizamentos de terra.

O grande volume de água que atinge o solo de Brusque em tão curto espaço de tempo acaba tornando-o mais suscetível à erosão.

Numa cidade em que milhares de residências estão na beira de morros e encostas, isso se torna um motivo de preocupação constante para os moradores, ainda que a água não suba a ponto de invadir as casas, como ocorreu em outras cidades do Vale do Itajaí.

Além disso, essa situação gera um esforço da prefeitura e da população, que precisa limpar, consertar e reorganizar a cidade. As margens do rio ficaram bastante destruídas, e a chuva traz consigo um rastro de destruição por onde passa, deixando cicatrizes na cidade.

Todos esses problemas colocam em xeque o próprio modelo de desenvolvimento econômico de Brusque, que é uma cidade construída em um Vale. Durante as chuvas, as preocupações vêm novamente à tona e, quando o sol volta, as pessoas começam novamente a construir em áreas de preservação permanente e, sobretudo, aterrar sem critérios as margens do rio.

Os aterros estão sendo feitos indiscriminadamente nas margens. Toda a parte que o rio ocupava originalmente está sendo, em maior ou menor grau, aterrada. Dessa forma, as lagoas naturais que a cidade costumava ter estão sumindo, por conta da especulação imobiliária desenfreada, fato que não está sendo devidamente coibido pelo poder público.

Claramente, as obras de contenção de cheias já existentes não serão suficientes para suportar fenômenos climáticos mais adversos. É preciso avançar em diversas questões estruturais que facilitem o enfrentamento do problema, como a construção da barragem de Botuverá, por exemplo, bandeira levantada pelo presidente da Acibr, Marlon Sassi, durante sua cerimônia de posse.

É preciso também continuar o prolongamento das avenidas Beira Rio, importante canal extravasor da cidade, e regulamentar adequadamente o aterramento das margens do rio e de áreas de preservação permanente.

O El Niño vai voltar a ter intensidade forte em Brusque, isso é inevitável. Diz-se que a pior enchente é sempre a que está por vir. Por isso, neste momento de calmaria, não podemos arrefecer e deixar de pensar na construção urbana sustentável do município, para tentar minimizar o problema, que, infelizmente, não deixará de existir.