Editorial: O fim dos acampamentos
Nesta semana foi encerrada a mobilização em frente ao Tiro de Guerra de Brusque. Depois de quase 70 dias, os manifestantes que acampavam nas proximidades da unidade militar desmontaram suas barracas e se retiraram do local, dando fim ao protesto político iniciado em 2 de novembro de 2022. Tudo começou após a proclamação do resultado […]
Nesta semana foi encerrada a mobilização em frente ao Tiro de Guerra de Brusque. Depois de quase 70 dias, os manifestantes que acampavam nas proximidades da unidade militar desmontaram suas barracas e se retiraram do local, dando fim ao protesto político iniciado em 2 de novembro de 2022.
Tudo começou após a proclamação do resultado da eleição pelo TSE, dando a vitória a Lula, com 50,9% dos votos, contra 49,1% do ex-presidente Jair Bolsonaro, que concorria à reeleição. Insatisfeitos com o resultado, apoiadores foram às ruas e se instalaram em frente aos quartéis em todo o país, com uma pauta de reivindicações que, no fim, não foi atendida.
Nesse período, o movimento se manteve firme, com participação constante, e grandes eventos, como o registrado no feriado de 15 de novembro, no qual uma multidão vestida de verde e amarelo se reuniu nas ruas.
O movimento teve características peculiares. Uma delas é que não houve uma liderança única e consolidada. Pelo contrário, diversas pessoas, às vezes até em forma de rodízio, se alternavam como representantes dos milhares que passaram pelo acampamento. Além disso, houve um descolamento da classe política tradicional. Ainda que políticos apoiassem a manifestação, em nenhum momento foram protagonistas da ação em frente ao Tiro de Guerra.
O local, durante mais de dois meses, teve uma rotina intensa, com jantares compartilhados, e espécies de rituais programados: a oração diária, a execução do hino nacional e homenagem à bandeira, entre outros.
Além disso, a concentração nunca permaneceu vazia. Os participantes foram se alternando por turnos, até mesmo divididos em faixas etárias – os que podiam iam pela manhã, outros somente à noite.
O movimento tinha a esperança, alimentada em redes sociais e grupos de Whatsapp, de que poderia haver uma mudança do cenário político que não a determinada nas urnas. Mesmo que fosse uma teoria muito remota e com poucas chances de prosperar, a narrativa criada em torno dos acampamentos era de que a resistência da população poderia impedir a posse de Lula.
Manifestantes desocuparam o Tiro de Guerra, mas as ideias que levaram ao protesto continuam a ocupar a mente de muitos brusquenses
Porém, as promessas feitas pelas lideranças foram esvaziadas. As ideia de intervenção, novas eleições e restrição dos poderes do STF – frequentemente reclamada pelos manifestantes – se mostraram frustradas, principalmente depois do dia 1º de janeiro, quando Lula tomou posse.
Ao fim da mobilização, nada do que queriam os manifestantes se concretizou. A expectativa de uma intervenção ou de uma ruptura, fora dos grupos interessados, não encontrou guarida em nenhum dos poderes constituídos, tampouco no Exército, a quem o pedido era frequentemente dirigido.
O estopim dessa frustração foi a invasão às sedes dos poderes em Brasília, ocorrida no último dia 8, que resultou, além de muitas prisões, na decisão do ministro Alexandre de Moraes de desmantelar os acampamentos definitivamente.
De qualquer maneira, Brusque nunca viu um movimento tão forte, por tanto tempo, engajado em uma questão política e ideológica. O movimento que terminou no dia 9, inédito na história da cidade, deixou marcas que não devem se apagar.
Os manifestantes desocuparam o Tiro de Guerra, mas as ideias que levaram ao protesto continuam a ocupar a mente de muitos brusquenses. Eles saíram da frente do quartel, mas continuam a indignação com o poder constituído.