Editorial: O fio e a energia
Nestes tempos de pandemia não há quem não esteja sendo impactado. Seja no convívio familiar, na forma de consumo e no trabalho tudo mudou. Esta mudança, porém, atinge de forma diferente as pessoas e as empresas, forçando cada qual a se adaptar para sobreviver.
Em nossa região, com vocação empresarial, estamos submetidos aos mais diversos desafios. Desde o início da pandemia as empresas viram seus faturamentos desabarem com o lockdown, depois veio a readequação de seus quadros funcionais, com o afastamento decorrentes da covid-19.
Os empresários também viram a dificuldade de acesso ao crédito, especialmente as tão propaladas linhas emergenciais, que chegaram a conta gotas. E agora, com o mercado reagindo, a dificuldade da compra de matéria prima é a bola da vez, conforme noticiamos na segunda feira aqui no jornal O Município.
E se as empresas de Brusque e de nosso país tem sofrido esta maratona de desafios com grandes sacrifícios, não se pode dizer o mesmo do setor público e as empresas geridas por ele. Por lá as coisas são bem mais fáceis de resolver.
O aumento na conta de luz anunciado na semana passada pela Celesc é emblemático neste sentido. A empresa fez um reajuste médio de 8,14% que já entrou em vigor no sábado. Ela alega que teve aumento nos custos de transmissão e encargos setoriais e que precisa repassar o custo para o consumidor.
Estes dois casos mostram o abismo que existe entre a iniciativa privada e a pública e a forma como vêm e agem diante do problema. Aqui as empresas vão ter que readequar contratos de compras, deixar de vender e produzir, buscar formas de financiamento e até demitir para poder se adequar ao aumento do fio.
Estas situações precisam ser revistas e a sociedade organizada está correta em contestar e exigir uma atitude coerente com o momento
Já na Celesc basta repassar os custos para o consumidor, sem precisar cortar os polpudos salários dos executivos nem reduzir quadro de pessoal. Não precisam buscar novos fornecedores nem clientes ou fazer qualquer movimento de redução de custos. Basta repassar o valor da ineficiência ao setor produtivo e ao cidadão.
Este aumento é uma total falta de sensibilidade e desrespeito ao momento que vivemos e gerou uma série de contestações. Só em Brusque mais de 12 entidades empresariais, sindicais e de serviços assinaram, em conjunto, uma nota de repúdio endereçada ao presidente da Celesc, ao governador e aos 40 deputados estaduais.
Na terça feira, a Câmara de Brusque também aprovou em a moção de repúdio à Celesc, alegando que o aumento vai abalar ainda mais a coletividade e que o aumento pode suspender atividades, promover demissões, retrair o consumo e elevar o custo da moeda, trazendo incontáveis percalços à economia.
Mesmo com todo este movimento e com a notificação do Procon pedindo a suspensão do aumento, a Celesc não parece muito disposta a voltar atrás. Prefere continuar no seu modelo de negócio, garantido por um monopólio, e pelas benesses que o sistema proporciona, muito diferente da realidade de uma empresa privada.
Estas situações precisam ser revistas e a sociedade organizada está correta em contestar e exigir uma atitude coerente com o momento e com a própria Celesc.
A empresa que se diz comprometida com o programa da ONU de melhorar a qualidade de vida de todos parece mais um açoite num dos momentos que a sociedade mais precisa dela.