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Editorial: o lado bom da notícia ruim

A corrupção é um dos conceitos mais discutidos, comentados e também um dos menos compreendidos. Normalmente se associa o termo à ideia de algum político cobrando propinas milionárias ou juízes e desembargadores “vendendo” sentenças, também por alguns milhões. Mas nossa atenção e condenação a comportamentos desonestos, fraudulentos ou ilegais não deve se restringir aos “peixes […]

A corrupção é um dos conceitos mais discutidos, comentados e também um dos menos compreendidos. Normalmente se associa o termo à ideia de algum político cobrando propinas milionárias ou juízes e desembargadores “vendendo” sentenças, também por alguns milhões.

Mas nossa atenção e condenação a comportamentos desonestos, fraudulentos ou ilegais não deve se restringir aos “peixes grandes”. Esses, é claro, repercutem mais, aparecem no noticiário com mais destaque e seus nomes e feitos (verdadeiros ou inventados) ficam circulando nos grupos de Whatsapp por muito tempo.

Uma sociedade que se pretenda decente, honesta, respeitadora da lei, precisa aplicar, nas suas tarefas cotidianas, o princípio da correção, do fazer bem feito. Mais ou menos como o gesto de lavar as mãos. Todos sabemos que muitas doenças são causadas por infecções resultantes da contaminação das mãos. 

Por isso, mesmo sem ter alguém olhando, fiscalizando ou obrigando, lavamos as mãos depois de usar o banheiro, quando chegamos da rua e depois de recolher o lixo ou fazer outras atividades que possam ter deixado resíduos (mesmo invisíveis) nas mãos. Fazemos isso porque prezamos nossa saúde e dos que nos cercam. Porque somos inteligentes o suficiente para não querer ficar doentes por causa de uma mão suja.

Pois bem, tratar do bem público (ou mesmo privado), com correção, evita o apodrecimento ético que nos leva a pensar que só os desonestos se dão bem. Da boca para fora, vemos muita gente condenar o “tem que levar vantagem em tudo, certo”, que deu (má) fama ao pobre do Gerson, que falou isso num comercial de cigarros. Mas, na intimidade, é assustador o número de pessoas que acredita mesmo que é preciso “levar vantagem em tudo”.

Há um grupo grande de pessoas e entidades que estão atentos e que levam as denúncias a sério

Por isso, a notícia que este nosso O Município publicou esta semana, da investigação que está em andamento sobre suspeitas de fraude no âmbito da prefeitura, nos enche de esperança. 

Pode parecer paradoxal, afinal, é sempre grave que tentem roubar dinheiro público, qualquer que seja a quantidade. Mas, se olharmos com atenção, veremos que há um grupo grande de pessoas e entidades que estão atentos e que levam as denúncias a sério. Não se nota, nesse episódio, tentativas corporativistas ou de falta de espírito público, para esconder a sujeira sob o tapete. 

A Controladoria, a Procuradoria, o Observatório Social e demais envolvidos cumpriram seus papeis investigando, denunciando, reunindo provas para conseguir romper a blindagem da impunidade e levantar o manto do silêncio cúmplice. 

É preciso parar de achar que “isso é tão comum que nem adianta mais falar”. A fraude, o roubo, o desvio, o malfeito não podem ser considerados “normais”. E o “esperto” não pode achar que nunca será pego. E quem presenciar ou tiver conhecimento desses fatos e calar, é tão culpado quanto. Essa é a consciência que uma comunidade precisa desenvolver, para mudar de patamar civilizatório.

Agora, roubar no peso dos alimentos incluídos na cesta básica destinada aos mais necessitados, não é só corrupção, é uma demonstração de falência total dos valores humanos dessa gente.