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Editorial: O novo Inquilino

  Chegamos ao fim de mais um mês de enfrentamento a pandemia do coronavírus. Neste mês que passou, uma parte das atividades econômicas voltaram a funcionar e os números de casos aumentaram tanto em Santa Catarina como em Brusque, chegando a 2394 no estado e 50 aqui na cidade. Foi um mês turbulento, em que vimos a […]

 

Chegamos ao fim de mais um mês de enfrentamento a pandemia do coronavírus. Neste mês que passou, uma parte das atividades econômicas voltaram a funcionar e os números de casos aumentaram tanto em Santa Catarina como em Brusque, chegando a 2394 no estado e 50 aqui na cidade.

Foi um mês turbulento, em que vimos a curva do contágio crescer e a curva da economia cair, ceifando mais de 400 mil empregos no estado e comprometendo sobremaneira a saúde financeira. O mês passou e muitas promessas continuam no ar como o aumento de leitos, a chegada dos testes e respiradores, os recursos para os cidadãos e para as empresas. 

Foi um mês que continuamos com a orientação de ficar em casa, de usar máscaras, álcool gel, de manter o distanciamento social. Foi mais um mês que vimos a presença deste vírus no mundo todo, arrefecendo sua atuação na China e ganhando envergadura nos Estados Unidos.

Agora, com quase dois meses de confinamento e um novo mês chegando, todos queremos saber quando isso vai terminar, quando voltaremos à nossa vida normal? A grande verdade é que a Covid-19 é um novo integrante do planeta e como tal não vai desaparecer como todos os demais vírus que já existem.

O vírus pode ter nascido no Instituto de Virologia ou no mercado de animais de Wuhan, mas em ambos os casos a inquieta mão humana interferiu na natureza e criou um inimigo novo e poderoso, que ainda não sabermos como vencer.

Ao contrário de outras ameaças a nossa evolução, ele não tem o tamanho de um dinossauro, que amedrontava nossos antepassados, mas era fácil de ver, de ouvir. Naquela época também fugíamos para cavernas para esperar o perigo passar. É claro que nossas cavernas atuais são muito mais confortáveis que as daquele tempo, mas hoje não sabemos onde está o perigo.

A Covid-19 veio para ficar, é uma nova inquilina do planeta, e sua presença nos força a ter novos comportamentos

Para nossos antepassados, bastava dar uma espiada pela entrada da caverna para ter um diagnóstico da situação. Hoje espiamos pela TV, pelo celular, para ver os especialistas dar seus diagnósticos, muitas vezes imprecisos e conflitantes, aumentando a ansiedade de quem está na toca.

Também pelas telas podemos assistir a forma como nossos líderes realizam o enfrentamento, batendo seu tacape no adversário, na toca, no povo, ao invés de enfrentar o bicho. E para não serem jogados para fora, mantém um sistema de comunicação complexo, que distorce a realidade e mantém os entocados entretidos e divididos. 

Também usamos estas telas para driblar o aborrecimento do confinamento. Aprendemos novos pratos olhando um aplicativo, fazemos exercícios com a dica remota de um personal, curtimos um show numa live, encontramos a família e amigos em videoconferências e trabalhamos home office.

Tudo isso ajuda, mas nada substitui a liberdade e a interação social. Elas são característica intrínsecas do ser humano, insubstituíveis. Talvez por isso este vírus é tão perverso, pois nos atinge justamente nestes pontos vulneráveis, além de sua letalidade.

E como ele ainda está à nossa porta, devemos continuar em nossas tocas, esperando o anúncio de um remédio ou de uma vacina que nos de um alento e nos permita conviver com o vírus em vez de só fugir dele.

A Covid-19 veio para ficar, é uma nova inquilina do planeta, e sua presença nos força a ter novos comportamentos. Ela vai mudar de forma indelével nossa sociedade, mostrando que não estamos mais no controle, mostrando a fragilidade humana diante de um ser invisível, mostrando que a natureza não perdoa, ainda mais quando é desafiada.