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Editorial: O paradoxo da pobreza

Em outubro do ano passado, publicamos uma matéria exclusiva que informava a estimativa de que cerca de 40 mil pessoas em situação de vulnerabilidade social são atendidas pela Secretaria de Desenvolvimento Social de Brusque. Para se encaixarem nos critérios e receberem assistência, essas pessoas, segundo o governo federal, precisam ter menos de meio salário mínimo […]

Em outubro do ano passado, publicamos uma matéria exclusiva que informava a estimativa de que cerca de 40 mil pessoas em situação de vulnerabilidade social são atendidas pela Secretaria de Desenvolvimento Social de Brusque.

Para se encaixarem nos critérios e receberem assistência, essas pessoas, segundo o governo federal, precisam ter menos de meio salário mínimo de renda mensal para cada membro da residência.

Mais recentemente, no início de janeiro, publicamos nova matéria sobre tema semelhante: a reportagem informava um aumento de 68% dos usuários que foram atendidos no decorrer de 2022.

Segundo a prefeitura, diversos fatores influenciaram no crescimento, sendo que a implantação do cartão cesta básica foi um dos principais motivos.

Anteriormente, o governo distribuía apenas as cestas básicas. Posteriormente, foi criado um cartão com o qual as pessoas podem usar o dinheiro para complementar a compra do mês e adquirir alimentos. Outro fator apontado foi o aumento do desemprego, com pessoas de outros estados vindo morar em Brusque para ter melhores condições de vida.

Esses números foram bastante comentados e viraram tema de debate na cidade. Principalmente pelos critérios utilizados. Tecnicamente, boa parte dos atendimentos não se trata de pessoas em situação de fome, mas sim de todos que se enquadram nos critérios para recebimento.

Se o critério é adequado ou não, é outra situação, que não cabe ser discutida neste editorial.

Mas os números impressionam. Isso porque eles são paradoxais a outras estatísticas também recentemente divulgadas. Neste mês, por exemplo, publicamos uma matéria em que são anunciadas mais de mil vagas de emprego abertas em Brusque.

No ano passado, os números eram parecidos, com muitas oportunidades abertas e poucos candidatos para preenchê-las. Na prática, existe uma situação de pleno emprego no município, com as empresas tendo dificuldades em contratar, devido ao número reduzido de pessoas procurando trabalho.

É um número extraordinário, que mostra uma economia forte e pujante, e ávida por pessoas que queiram trabalhar. Essas estatísticas, no entanto, mostram um paradoxo: de um lado, o aumento da quantidade de pessoas buscando benefícios sociais; de outro, a abundância de vagas de emprego não preenchidas.

Essas estatísticas mostram um paradoxo: de um lado, o aumento da quantidade de pessoas buscando benefícios sociais; de outro, a abundância de vagas de emprego não preenchidas

Esse paradoxo, aliás, derruba a tese de que faltam oportunidades de emprego, e que isso é motivador da procura do cidadão pelo governo para saciar necessidades básicas. Na nossa região, essa relação não acontece, a conta não fecha, a teoria econômica não se concretiza.

Porém, mais do que uma equação econômica, o que acontece é a propagação de um modelo de assistencialismo político. A quem interessa manter esses status quo, em que a população faz fila para o recebimento de benefícios da assistência social?

Entre os milhares de atendidos com certeza deve haver pessoas com dificuldade financeira, mas será que é todo esse universo de 40 mil moradores, conforme divulgado pela prefeitura?

Essas são perguntas que precisam ser feitas. Talvez Brusque possa ser estudada por especialistas que possam elucidar essa questão e apontar uma solução para a complicada equação.