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Editorial: O rio camaleão

No último dia 15, a cidade acordou com o rio Itajaí-Mirim diferente. Muitas pessoas entraram em contato com o jornal e enviaram imagens dele com uma coloração escura, com mal cheiro e espuma.  Em contato com a Fundação Municipal do Meio Ambiente (Fundema), fomos informados de que eles receberam também as denúncias e estavam verificando […]

No último dia 15, a cidade acordou com o rio Itajaí-Mirim diferente. Muitas pessoas entraram em contato com o jornal e enviaram imagens dele com uma coloração escura, com mal cheiro e espuma. 

Em contato com a Fundação Municipal do Meio Ambiente (Fundema), fomos informados de que eles receberam também as denúncias e estavam verificando a situação. A tese é que o problema foi do esgoto depositado na tubulação que, com as chuvas, acabou sendo levado para o rio.

O blogueiro do jornal o Município, Ciro Groh, não ficou na teoria e foi in loco verificar melhor. Percebeu que acima do Centro, nos bairros Rio Branco e Dom Joaquim, a situação estava normal, conforme fotos que publicou no seu blog na ocasião.

Já o chefe de Vistorias e Fiscalização da Defesa de Civil de Brusque foi mais realista e não rejeita a possibilidade da situação ser proveniente de algum descarte ilegal de efluentes. 

Nesta semana a poluição do rio Itajaí-Mirim voltou à tona, não mais como uma questão doméstica, mas como uma preocupação regional. O assunto foi debatido na audiência pública da Comissão de Turismo e Meio Ambiente da Assembleia Legislativa de Santa Catarina (Alesc) na última terça-feira, em Itajaí.

O presidente da comissão, deputado Ivan Naatz (PL-SC), propôs um acompanhamento de perto da qualidade da água, que serve, além de Brusque, as cidades de Botuverá, Itajaí e Navegantes. 

Não podemos ficar a mercê de um faz de conta enquanto presenciamos sistematicamente um rio camaleão, que muda de cor conforme o dia e o local

Essa visão mais ampla não vai aceitar as justificativas que os órgãos fiscalizadores estão apresentando. Há anos acontecem estes despejos ilegais e as desculpas se repetem: falta de efetivo, não localizaram o descarte, vão investigar, e, ultimamente, o esgoto que está nas tubulações. Sempre com raras punições aos infratores.

Também já tivemos casos de empresas que barraram a fiscalização e até um promotor que anos atrás disse que iria pelo cheiro descobrir quem estava fazendo descartes ilegais. São histórias pitorescas que mostram a fragilidade de nossas autoridades diante do problema.

É claro que existem boas iniciativas na cidade, como o “De Olho na Agua”, lançado em março deste ano pela Unifebe, que objetiva analisar a qualidade da água em 12 pontos do rio. Com esta análise mais regular será possível interpretar melhor a evolução dos resultados e apontar caminhos para melhorar.

Outras iniciativas também são bem-vindas como as campanhas de conscientização e as ações de limpeza do rio, mas é preciso um envolvimento efetivo de nossas autoridades. Não podemos ficar a mercê de um faz de conta enquanto presenciamos sistematicamente um rio camaleão, que muda de cor conforme o dia e o local.

Se essa discussão não for levada mais a sério por aqui vamos ver se intensificarem estas ações externas, como a da Alesc, dispostas a colocar o dedo na ferida e a exigir, com mais força, que Brusque trate com respeito o Itajaí-Mirim. 

Cabe às autoridades locais tomar a frente desta pauta, com ações para preservar o rio e evitar estes despejos ilegais. Assim vamos contribuir com a melhoria da água, do meio ambiente, da qualidade de vida e evitar o constrangimento de ser tutelado por autoridades externas.