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Editorial: “Pavimentando a eleição deste ano”

O Jornal O Município desta terça feira trouxe como destaque de capa a duplicação da rodovia Ivo Silveira (SC-108), que liga Brusque a Gaspar. O curioso é que a matéria pegou de surpresa tanto as autoridades de Brusque como a da cidade vizinha. Não que eles não estivessem atentos e reivindicando a obra, mas não […]

O Jornal O Município desta terça feira trouxe como destaque de capa a duplicação da rodovia Ivo Silveira (SC-108), que liga Brusque a Gaspar. O curioso é que a matéria pegou de surpresa tanto as autoridades de Brusque como a da cidade vizinha. Não que eles não estivessem atentos e reivindicando a obra, mas não foram devidamente avisados da repentina vontade do governo estadual em executar a obra, por meio do Departamento Estadual de infraestrutura (Deinfra).

O vice-prefeito de Brusque, Ari Vequi, pleiteava a duplicação junto ao governo do estado por meio de um possível financiamento do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). O prefeito de Gaspar, por sua vez, estava tentando a duplicação com o secretário de estado de Infraestrutura, Luiz Fernando Vampiro.

Além do anúncio surpresa, outras duas situações chamam a atenção. A primeira é a de que o Deinfra afirma que os recursos estão garantidos, mas não sabe ainda se será por um financiamento do Banco do Brasil ou diretamente do caixa do governo.

A segunda situação é a de que os prazos para apresentação do projeto, licitação e execução da obra serão para maio, junho e julho, com a determinação de serem cumpridos à risca, ou seja: antes da eleição, as máquinas devem estar na pista.

Quando o santo é muito bom dá para desconfiar. No mesmo dia em que saiu a matéria, a assessoria do secretário-adjunto da Secretaria de Estado da Infraestrutura, Paulo França, entrou em contato para dizer que talvez os prazos não vão ser bem esses, e que vai nos informar do novo cronograma.

Outro assunto de destaque na semana foi o anúncio da desativação de 15 Agências de Desenvolvimento Regionais (ADRs) em Santa Catarina, incluindo no pacote a de Brusque. Com a medida, 185 cargos comissionados serão eliminados.

As duas matérias, apesar de ângulos distintos, têm o mesmo objetivo: aumentar o capital político do atual governador. A duplicação da rodovia Ivo Silveira é um sonho antigo, uma luta longa que até agora não conseguiu sair do papel. Está em estado precário e é um gargalo logístico do estado. Sua duplicação é a melhor notícia que poderia ser dada, se não fossem as circunstâncias que estão acontecendo e que já foram elencadas acima.

Por outro lado, a extinção das ADRs era o principal alvo dos opositores e até de aliados do governo, como o deputado Gelson Merísio (PSD), que é pré-candidato ao governo do estado e que tinha como bandeira a extinção destes “cabides de emprego”.

O anúncio de duplicação sem projeto e recursos é vazio e o anúncio de extinção de ADRs com poucas exonerações soa como maquiagem

Com o anúncio de que serão extintas, o governo esvazia, em parte, esta pressão e pousa de bom moço perante a opinião pública. Se olharmos mais a fundo vamos ver que 185 cargos representam em torno de 20% dos comissionados, um número muito baixo para quem se propõe a enxugar a máquina pública. E como falamos, estamos só no anúncio, até hoje nenhum comissionado foi exonerado.

A impressão que dá é que talvez seja tudo um faz de conta, cujo objetivo, ao invés de pavimentar a Ivo Silveira, é pavimentar um caminho eleitoral. Afinal, um anúncio de duplicação sem projeto e recursos é vazio e o anúncio de extinção de ADRs com poucas exonerações soa como maquiagem.

De qualquer maneira, vamos acompanhar de perto os dois assuntos para saber se realmente estamos diante de fatos novos ou se vamos ter mais do mesmo, a prática da surrada e velha política que muito promete, mas pouco cumpre.