Editorial: Pelo amor ou pela dor
Com a nova gestão municipal, antigas demandas e reivindicações voltam à pauta. Uma delas é a questão dos moradores de rua, um problema recorrente e complexo que retorna à mesa para ver de que forma e em que ângulo os novos líderes vão tratar o assunto.
Neste sentido, o tema foi pauta da reunião da Acibr desta semana que contou com participação do presidente do CDL, Fabricio Zen, do vice-prefeito de Brusque, Gilmar Doerner, do secretário de desenvolvimento social, Jocemar dos Santos Lima, do padre Lúcio Tardivo, além de lideranças e empresário da cidade conforme publicamos ontem aqui no jornal O Município.
A iniciativa foi proposta com a aproximação da secretaria de desenvolvimento social com o Lar Betânia, intermediada pela diretoria da Acibr. A ideia é que possa ser celebrado um convênio entre poder público e a casa de recuperação para acolher e tratar moradores de rua com mais propriedade e efetividade.
Esta seria mais uma das possibilidades além das já existentes no governo municipal como os Cras (Centros de Referência de Assistência Social), a casa de passagem, e as abordagens feitas pela equipe da prefeitura. Além disso, temos na iniciativa privada a Assistência Social da Paróquia São Luiz Gonzaga e de outras igrejas que atuam no atendimento a pessoas em situação de vulnerabilidade social.
Mesmo tendo toda esta estrutura, o número de moradores de rua aumentou muito nos últimos meses. Para se ter uma ideia, a casa de passagem que acolhia cerca de 20 pessoas no ano passado, hoje acolhe 60.
Nossa virtude é também nossa vulnerabilidade. Ajudando pessoas nos sinais e promovendo acolhimento a notícia corre e novos elementos vão compondo a cena urbana
O que também aumentou foi a presença de indígenas na cidade. Eles são exclusivamente mulheres e crianças trazidos para Brusque para mendigar ou vender seus artesanatos.
Este aumento se deve a dois fatores. Primeiro por conta da pandemia, que como efeito colateral gerou uma crise que levou milhares de pessoas à pobreza. O segundo motivo é a prosperidade e benevolência de nossa cidade, que atrai pessoas de outras partes do Brasil e da América Latina.
Com isso, a nossa virtude é também nossa vulnerabilidade. Ajudando pessoas nos sinais e promovendo acolhimento a notícia corre e novos elementos vão compondo a cena urbana.
Com mais gente na rua, maiores também são as discussões do que se deve ou não fazer. Uma ala da sociedade defende uma abordagem mais humanista e outra defende um recrudescimento com ações coercitivas.
Assim, enquanto se discute a nova parceria da secretaria da assistência social com o Lar Betânia para acolhimento de dependentes químicos, também se discute leis mais rígidas, que proíbem o consumo de bebidas alcoólicas em lugares públicos, por exemplo.
Também se discute o próprio ato de dar esmola, que mantém a pessoa na rua sem precisar buscar nenhuma das soluções propostas.
A questão indígena é um capítulo à parte, pois a Lei do Povos Indígenas, promulgada em 1973, é tão arcaica quanto seu conceito de segregar o índio da sociedade. Neste caso não há santo nem governo que possa fazer alguma coisa, só a Funai, que por aqui sequer atende o telefone e deixa o indígena abandonado à própria sorte.
Neste cenário, por amor de iniciativas louváveis ou pela dor da força da lei, vai se buscando o caminho que melhore esta situação e integre estas pessoas a sociedade, afinal somos uma cidade que tem de tudo, oportunidade, emprego, e acolhimento, e usando estratégias de amor ou dor não queremos deixar ninguém na rua.