Editorial: precisamos falar sobre suicídio
Com esta frase o jornal O Município estampou sua matéria de capa de segunda-feira, iniciando uma série de reportagens especiais sobre o tema. A ideia foi trazer o assunto para debate buscando uma conscientização e prevenção do problema.
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS) uma pessoa tira a vida a cada 40 segundos, tornado o suicídio a segunda principal causa de mortes no mundo com a marca de 800 mil em 2018.
Em Brusque, a realidade também é alarmante. De 2012 até hoje foram 147 óbitos em nossa região, sendo que deste número, 80% são homens. Também entre os jovens com idade entre 15 e 29 anos os números são preocupantes, aparecendo em segundo lugar em casos de mortes, atrás apenas das causadas por acidentes no trânsito.
Entre 15 e 19 anos o suicídio aparece como a segunda causa de morte entre as meninas, após as complicações da gravidez e terceira entre os meninos, depois de acidentes de trânsito e violência.
As tentativas de suicídio também cresceram num ritmo galopante por aqui. Em 2012 foram 12 e em 2019, 102, um crescimento de quase dez vezes em sete anos.
Esses números mostram porque este tema se tornou uma questão de saúde pública e porque precisa entrar na agenda dos governos. Eles precisam mais do que nunca empenhar esforços para diminuir essas estatísticas.
A valorização do ser humano não pode estar em segundo plano. Suas aflições e suas dores precisam ser ouvidas e acolhidas
O suicídio é multifatorial, ou seja, não tem um único fator ou culpado para o ato. Especialistas, entretanto, apontam que em grande parte dos casos há um histórico de transtornos mentais, diagnosticados ou não, como depressão, ansiedade, esquizofrenia, bipolaridade entre outros.
Segundo o psiquiatra Felipe Gesser Cardoso, todo suicida era uma pessoa com doença mental, que pode ser potencializada quando há um abuso de substâncias químicas como álcool e drogas.
A grande verdade é que o suicídio é um indicador de que nossa sociedade esta adoecendo. Muitas vezes em busca do ter, das exigências da vida moderna, deixamos de prestar atenção aos nossos jovens, ao nosso semelhante, que pode estar sofrendo esta dor.
Não podemos ficar apáticos com a situação. Não há como deixar uma pessoa chegar no limite de tirar a própria vida. Neste sentido, além da conscientização, precisamos apoiar as forças que vêm agindo no combate a este mal, como o Centro de Valorização da Vida (CVV), que num gesto de amor e generosidade conta com voluntários trabalhando 24 horas. Eles atenderam 9.571 ligações somente em 2018 aqui em Brusque, evitando que as estatísticas fossem ainda piores.
Também precisamos apoiar o Centro de Atenção Psicossocial (Caps), sediado na rua Hercílio Luz e que tem uma estrutura para atender pessoas que precisam de cuidados especiais, bem como igrejas, Ongs e entidades que trabalham em prol desta causa.
O tabu do assunto suicídio precisa ser quebrado e, neste sentido, o jornal se alinhou à campanha nacional “Setembro Amarelo”, divulgando o assunto e a realidade local. Entendemos que a valorização do ser humano não pode estar em segundo plano. Suas aflições e suas dores precisam ser ouvidas e acolhidas e uma das melhores armas é a informação.
Ela é uma semente que queremos plantar neste mês, mas que esperamos que floresça o ano todo, despertando a atenção e o amor que este assunto demanda, para transformar esta nossa vulnerabilidade numa fortaleza e diminuir ao máximo esta dor na sociedade.