Editorial: Precisando de ajuda
Na semana passada encerramos nossa série de matérias sobre “Janeiro Branco” que é o nome da campanha dedicada à conscientização e respeito à saúde mental. Na matéria especial do dia 27 trouxemos a história de Ariel, que tem transtorno esquizoafetivo. De forma muito corajosa, esse jovem de 17 anos compartilhou sua experiência e desafios no […]
Na semana passada encerramos nossa série de matérias sobre “Janeiro Branco” que é o nome da campanha dedicada à conscientização e respeito à saúde mental. Na matéria especial do dia 27 trouxemos a história de Ariel, que tem transtorno esquizoafetivo.
De forma muito corajosa, esse jovem de 17 anos compartilhou sua experiência e desafios no tratamento da doença e nos ofereceu relatos importantes abordando preconceitos e tabus em relação ao tema.
Chamou a atenção o relato de que ele demorou a aceitar que precisava de ajuda porque tinha aquela ideia de que quem fazia tratamento psicológico ou psiquiátrico eram pessoas loucas. Mas que sua vida mudou a partir do momento que iniciou um acompanhamento pelo Caps (Centro de Atenção Psicossocial).
Ainda falando em matérias de campanha, começamos esta semana o Fevereiro Roxo, que é dedicado à conscientização sobre o Alzheimer, Lúpus e Fibromialgia.
A matéria de abertura foi com a cuidadora Rosângela Amaral. Ela falou sobre sua experiência no cuidado de doentes com Alzheimer e fez um alerta: “ é importante que a pessoa que cuida tenha ajuda, porque senão acaba adoecendo junto”.
Em ambos os casos a ação de ajudar e ser ajudado é o pilar de sustentação do tratamento. Muito além das medicações, a conduta humana é o bálsamo que alivia essas dores.
Este tema sempre é delicado, pois no momento que se pede ajuda, se expõe uma fraqueza e somos educados a esconder estes sentimentos. Por isso é tão difícil as pessoas se abrirem , o que motiva a realização dessas campanhas e dessas histórias, para que se conheça a realidade e as possibilidades que temos.
Ser ajudado faz parte de nossa natureza humana, afinal não somos perfeitos e na trajetória da vida podemos tropeçar e cair
Nunca se falou tanto em saúde mental e não é por acaso. Segundo a OMS, a ansiedade afeta 18,6 milhões de brasileiros e os transtornos mentais são responsáveis por mais de um terço do número de pessoas incapacitadas nas Américas.
Talvez na história da humanidade nunca estivemos tão vulneráveis e nunca precisamos tanto de ajuda. Além das campanhas que falamos, a própria realidade imposta pela pandemia pode gerar transtornos mentais e agravar quadros existentes.
Em Brusque, profissionais da área têm sentido este aumento da demanda e os principais diagnósticos são de Síndrome do Pânico, Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC), ansiedade e depressão.
Mesmo com este aumento significativo dos atendimentos acredita-se que a extensão do problema é muito maior e muitas pessoas que precisam ainda não têm acesso. Além das questões financeiras e da falta de uma orientação, o preconceito ocupa lugar de destaque como obstáculo.
Tanto as matérias de Ariel e Rosângela são emblemáticas e servem como inspiração, para que possamos tratar o tema com transparência, com coragem, com amor. Ser ajudado faz parte de nossa natureza humana, afinal não somos perfeitos e na trajetória da vida podemos tropeçar e cair.
Mas ficar no chão não pode e não deve ser uma opção. Há sempre alguém disposto a estender a mão. Assim nesta nova fase da humanidade ajudar e ser ajudado entrou definitivamente na agenda, pois apesar de parecermos fortes, Homo Deus, como preconizou Yuval Harari, o ser humano ainda é um ser frágil e carente que precisa de ajuda mais do que nunca.