Editorial: Primeiro de Maio
O dia primeiro de maio, comemorado esta semana, tem um forte vínculo com a história do Brasil. Neste dia, no ano de 1500, Pedro Alvares Cabral toma posse da “Ilha de Vera Cruz” (atual Brasil) em nome do rei de Portugal, e Pero Vaz de Caminha anuncia o feito do descobrimento ao rei Dom Manuel, […]
O dia primeiro de maio, comemorado esta semana, tem um forte vínculo com a história do Brasil. Neste dia, no ano de 1500, Pedro Alvares Cabral toma posse da “Ilha de Vera Cruz” (atual Brasil) em nome do rei de Portugal, e Pero Vaz de Caminha anuncia o feito do descobrimento ao rei Dom Manuel, por meio de uma carta datada em 1° de maio, que conhecemos como o mais importante relato à descoberta de nosso país.
Muitos outros fatos históricos aconteceram nesta data, mas o mais emblemático e comemorado até hoje é o Dia do Trabalhador ou o Dia do Trabalho. No Brasil e em vários países do mundo é um feriado nacional em homenagem à luta de trabalhadores por melhores condições de trabalho, que começou em 1886 com a greve de Chicago.
Em Brusque o primeiro de maio era marcante e motivo de grandes confraternizações nas empresas. Assim como no Brasil, a data ganhou força após a implantação do Estado Novo, como uma comemoração às conquistas advindas da nascitura CLT (Consolidação das Leis do Trabalho), proclamada em 1º de maio de 1943 por Getúlio Vargas.
Com o tempo estas comemorações tomaram corpo na cidade e as empresas, no feriado, promoviam verdadeiras festanças para os funcionários. Os mais saudosistas podem lembrar das festas da Irmãos Zen, Fischer, das Têxteis Renaux e de tantas outras que em suas associações atléticas ou clubes promoviam atividades esportivas e de lazer regadas a cerveja e churrasco.
Estas festas foram muito comuns até a década de 80, quando a nova Constituição restabeleceu o poder aos sindicatos. Estes, a medida que foram tomando forma, idealizavam um cunho mais reivindicatório à data do que de confraternização entre “capital e trabalho” prevalente por aqui até então.
Assim as empresas foram esvaziando as comemorações nesta data e transferindo este caráter de confraternização para a o fim do ano, dando musculatura às festas natalinas.
O grande mote do conflito entre o capital e o trabalho, que deu origem à data, já não é mais o combustível que mexe com as massas nem para confraternizar nem para reivindicar. O trabalhador atual está muito mais assustado com outro explorador voraz: o Estado, que lhe suga cada vez mais sem lhe dar contrapartida.
Para exemplificar, basta olhar outros dois acontecimentos da semana passada. O primeiro foi no dia 30 de abril, prazo limite para a declaração do Imposto de Renda. Este imposto, por estar há mais de 19 anos sem correção da tabela, mexe num dos direitos fundamentais do trabalhador, que é o seu salário. Esta injustiça já passou por vários governos, inclusive pelos ditos populares, que preferiram a arrecadação à correção deste absurdo.
Outro acontecimento estarrecedor às vésperas do primeiro de maio foi a notícia de que o investimento público caiu para 1,17% do PIB atingindo o menor nível em 50 anos. O dinheiro aplicado pelos três níveis de governo não foi suficiente sequer para garantir a conservação de estradas, prédios e equipamentos que pertencem ao poder público.
Assim o trabalhador pode ver neste primeiro de maio mais uma vez o apetite estatal que tira muito e dá cada vez menos para quem trabalha. E não estamos falando apenas do poder federal. Aqui em Brusque, segundo matéria publicada na última terça feira, 1, cada brusquense paga R$ 135,00 mensais para manter o funcionalismo público o que equivale a quase 15% de um salário mínimo.
A cada ano temos a esperança de ter um bom motivo para comemorar esta data, mas percebemos que desde o primeiro de maio que requereu o Brasil dos silvícolas em 1500 para o rei Português até hoje, continua igual o raciocínio do Estado em extrair o máximo possível de nossas riquezas, estejam elas na mão do trabalhador ou do patrão para o privilégio de uma casta ao invés de dar condições para o país progredir.