Editorial: Primeiro ‘turnover” das eleições
Turnover é um termo da língua inglesa que significa “virada”, “renovação”, “reversão”, sendo utilizado em diferentes contextos. É um conceito frequentemente utilizado na área de Recursos Humanos para designar a rotatividade de pessoal em uma organização, ou seja, as entradas e saídas de funcionários em determinado período de tempo. Transpondo este conceito para o campo […]
Turnover é um termo da língua inglesa que significa “virada”, “renovação”, “reversão”, sendo utilizado em diferentes contextos. É um conceito frequentemente utilizado na área de Recursos Humanos para designar a rotatividade de pessoal em uma organização, ou seja, as entradas e saídas de funcionários em determinado período de tempo.
Transpondo este conceito para o campo político, podemos dizer que, neste primeiro turno, os eleitores demitiram um rol de políticos conhecidos, fazendo um dos maiores turnovers do Brasil. Começando pelo Senado, das 54 vagas em disputa neste ano, 45 serão ocupadas por novos nomes, renovando mais de 85% da casa, a maior da história desde a redemocratização.
Na Câmara dos Deputados a taxa de renovação foi a maior em 20 anos, com 52%. Com isso, 267 novos deputados federais vão assumir o mandato no próximo ano. O interessante é que nas duas outras ocasiões em que este número foi superior foram nas eleições gerais em 1990 e na eleição de 1994, que consolidaram a redemocratização.
Mesmo assim, 79% dos atuais deputados disputaram as eleições, sendo que 60% destes conseguiram novo mandato. Portanto, dos 407 deputados que concorreram à reeleição, 246 foram reconduzidos ao cargo.
Na Assembleia Legislativa mais da metade da atual legislatura não estará presente a partir de 1º e fevereiro. A renovação foi de 55% no parlamento, com 22 deputados eleitos que se juntarão aos 18 que foram reeleitos.
Esta taxa de renovação é a maior desde 2002. Além do clamor por mudança, este número também foi influenciado por 11 deputados que não concorreram à reeleição, aumentando a chance de renovação.
O eleitor também quis mudanças no Executivo, tanto nacional como estadual, e entrou na onda Bolsonaro, hipotecando 65,82% dos votos aqui em Santa Catarina. Em nossa região estes números foram ainda maiores, com 77,32% dos votos em Brusque, 78,42% em Guabiruba e 80,93% em Botuverá, num movimento de voto útil e de negação absoluta a partidos de esquerda.
Esta onda também atingiu em cheio o cenário estadual, com o Comandante Moisés tirando da disputa a forte coligação de Mauro Mariani e Napoleão Bernardes, e deixando em xeque a candidatura de Gelson Merísio.
A lição que fica é que, além da eleição causar um turnover no poder, promoveu também um turnover de ideias
E, com tantas novidades, não dá para não lembrar da frase do pensador francês Victor Hugo: “nada é tão poderoso no mundo como uma ideia cuja oportunidade chegou”.
Esta eleição foi um marco em vários aspectos que podem mudar a nossa história. O candidato Jair Bolsonaro, assim como muitos outros, conseguiram uma votação expressiva sem contar com os milionários marqueteiros, que até então eram astros na maquiagem de políticos.
Chegou sem fundo o partidário, que torrou R$ 2,5 bilhões dos contribuintes para tentar perpetuar os feudos no poder. Chegou sem coligações, que são vergonhosos balcões de negócios. Não precisou do tempo de TV da grande imprensa, que era disputadíssimo e não teve serventia.
Também é uma eleição que colocou em xeque as pesquisas eleitorais, pois nenhuma foi eficiente. Nem Ibope, nem Datafolha acertaram os resultados dentro de suas margens de erro.
Aqui em Santa Catarina o instituto Mapa divulgou uma pesquisa de boca de urna com Mauro Mariani liderando as intenções de votos com 26,3% contra 14,7% do Comandante Moisés.
E depois de tantos paradigmas quebrados, talvez o mais importante foi o valor e o limite da livre expressão. Se por um lado o poder constituído não conseguiu barrar as fake news que ameaçam a nossa democracia, incentivando anonimamente a mentira, por outro exercerem seu poder para censurar a expressão de empresários que manifestaram seu voto e suas convicções políticas.
A lição que fica é que, além da eleição causar um turnover no poder, promoveu também um turnover de ideias, que geraram estes questionamentos sobre o próprio modelo de eleições e os limites que temos e teremos para o futuro.
Vai ser uma jornada interessante e esperamos que os eleitos a tragam de novo ao debate estes fatos, para que a democracia sempre prevaleça e possamos continuar com o poder de demitir e contratar nossos representantes.