Editorial: Queremos ter patrimônio histórico?
Nesta quinta-feira, 28, o jornal O Município publicou uma matéria sobre a solicitação da Associação Empresarial de Brusque (Acibr) pedindo uma revisão do catálogo do patrimônio histórico de Brusque. Entre as reivindicações, os empresários pedem critérios claros sobre a preservação de imóveis.
Segundo a matéria, a prefeitura converge com a solicitação da Acibr e, de acordo com o diretor-presidente do Instituto Brusquense de Planejamento (Ibplan), Rogério dos Santos, a resolução do problema passa pela contratação de um profissional especializado que possa prestar uma assessoria técnica neste sentido.
A menos que este profissional preterido pela prefeitura tenha poderes sobrenaturais para fazer esta revisão, a prefeitura vai ter muito trabalho pela frente e o assunto ainda vai ser muito discutido na sociedade.
A primeira grande questão que se apresenta é se Brusque quer ter, realmente, um patrimônio histórico. Apesar de termos um “sim” como resposta óbvia, um setor da sociedade acredita que o “não” é mais adequado. Esse “não” é externado, além de palavras, pelas ações, como as demolições que já aconteceram e acontecem em nossa cidade.
A lógica das demolições é a grande valorização imobiliária que estes casarões tiveram nos últimos anos. Eles saem para dar lugares a galpões, prédios e salas comercias, que são muito mais vantajosos economicamente do que sua manutenção.
E nesta história não são só os casarões que vão ao chão. O símbolo maior da cidade, que era a charmosa igreja matriz, foi ao chão para dar lugar à nova. A igreja da Santa Terezinha teve o mesmo destino. Fica uma mensagem de que não é pecado demolir se até o patrimônio da igreja pode ser.
Entendemos que ter um patrimônio histórico é vital para a cidade. Não há como romper com nossos laços, nossa história, nossas origens
A outra grande questão é o que é patrimônio histórico, arquitetônico e urbanístico de Brusque. A primeira ação neste sentido foi o lançamento do catálogo, em 2011, pelo Conselho Municipal do Patrimônio Histórico (Comupa), que teve como base um levantamento feito por professores e alunos do Colégio Consul Carlos Renaux. Apesar da boa intenção o catálogo está sendo questionado, inclusive judicialmente, no caso do casarão Strecker, quanto aos critérios utilizados.
Nesta linha há uma corrente que questiona quais são os fatos históricos que merecem a preservação de um casarão. Qual é a arquitetura que tem que ser preservada, a que imita a alemã? Existe um estilo “próprio” brusquense que mereça atenção ou basta a casa ser antiga para virar patrimônio? Estas são só algumas das perguntas que estão sendo colocadas na mesa.
Outro ponto crítico é a localização dos imóveis. São raros os locais onde há um contexto, um conjunto de edificações que deem um sentido histórico. A grande maioria são casarões isolados, ladeados por construções novas que desfiguraram completamente o ambiente.
Mas mesmo que estas questões sejam transpostas, um outro enfoque que precisa ser esclarecido é se vai haver compensações pelo patrimônio histórico que será definidos. Qual a contrapartida que será dada a quem tiver seu patrimônio tombado pelo município. Vai bastar uma isenção de impostos? Vai haver algum suporte financeiro ou subsídio para a preservação? E mesmo depois de restaurado, que ocupação será permitida neste imóvel?
Sem compensação e definição da ocupação passa a ser um castigo ter um patrimônio histórico, pois o proprietário fica responsável por restaurar, que é muito mais caro que reformar, e manter um imóvel para que outras pessoas possam usufruir deste visual retrô.
Não dá para partir do pressuposto de que quem tem um imóvel destes tem recursos ilimitados para transformá-lo, tal qual acontece no quadro Doce Lar, do programa do Luciano Huck, no qual num piscar de olhos uma casa velha ressurge novinha. Muitas pessoas têm casas antigas como único patrimônio e não tem condições de mantê-las.
Por fim, entendemos que ter um patrimônio histórico é vital para a cidade. Não há como romper com nossos laços, nossa história, nossas origens. Por isso é imprescindível o enfrentamento das questões apresentadas para que possamos achar um caminho viável de preservação, mesmo que tardiamente. Muitas oportunidades e contextos históricos já foram perdidos, como por exemplo a destruição dos casarões das ruas João Bauer, Barão do Rio Branco, Hercílio Luz.
Não dá mais para ficar neste meio de caminho que não leva a lugar nenhum, senão à incerteza de ficar no presente sem olhar para o futuro de nosso passado histórico.