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Editorial: A responsabilidade de cada um

Ainda estão vivas, nas retinas de todos nós, as imagens impressionantes da explosão de nitrato de amônia em Beirute. Depois que a fumaça dissipou, viu-se uma cratera enorme no lugar onde estava o armazém em que cerca de 2,7 mil toneladas daquele produto, matéria prima de fertilizantes e explosivos, estavam depositadas. E o que temos […]

Ainda estão vivas, nas retinas de todos nós, as imagens impressionantes da explosão de nitrato de amônia em Beirute. Depois que a fumaça dissipou, viu-se uma cratera enorme no lugar onde estava o armazém em que cerca de 2,7 mil toneladas daquele produto, matéria prima de fertilizantes e explosivos, estavam depositadas.

E o que temos a ver com isso? Muita coisa: somos um estado industrializado, lidamos com inúmeros produtos e situações de risco, que são inerentes ao progresso, que fazem parte da evolução das atividades humanas.

Em setembro de 2013, o mesmo nitrato de amônia, armazenado de forma igualmente irregular, aqui perto, em São Francisco do Sul, teve uma combustão química (sem chamas) e por pouco não provoca um desastre ainda maior que o de Beirute. A quantidade do produto, em São Francisco, era de 10 mil toneladas, quatro vezes mais do que o que explodiu no Líbano.

Uma série de fatores, que não cabe aqui relembrar, fez com que a temperatura não chegasse aos 280°, que provocaria a explosão (os 200 bombeiros envolvidos no combate ao fogo conseguiram resfriar o galpão, cuja temperatura chegou a ameaçadores 265°).

Pois bem. Temos esse e outros produtos perigosos armazenados ou circulando pelo estado. E na maioria dos casos nem faz sentido proibir a circulação ou o uso. Mas faz todo sentido tomar cuidado. Da mesma forma como, em casa, tomamos cuidado com o gás do fogão e com a própria chama na qual prepraramos os alimentos.

Seremos uma sociedade melhor se essas avaliações, sobre os perigos que nos cercam, forem levadas a sério e providências forem tomadas

Ao pagar impostos esperamos que o governo mantenha funcionando, com eficiência e zelo, organismos de fiscalização e controle. Mas é impossível, mesmo que essas instituições funcionem bem, controlar tudo. É fundamental o engajamento de todos nessa preocupação de segurança.

Assim como não queremos nem gostamos quando ocorrem vazamentos de dinheiro público para o bolso de particulares, não podemos admitir que ocorram vazamentos de produtos químicos e outros dejetos nos cursos de água que vão abastecer as cidades. A morte de um rio, pela poluição, pela toxicidade dos despejos industriais, é um desastre. Não tão visível e audível quanto a de Beirute, mas com consequências também graves.

Os responsáveis por galpões, armazéns e mesmo caminhões, quando carregados de produtos perigosos, que podem explodir, que podem envenenar, que podem corroer, precisam estar conscientes do papel que têm na sociedade em que vivem. 

E deveriam querer entrar para a história como agentes da prosperidade de suas comunidades, que respeitaram a flora, a fauna e os humanos e não como os desleixados incompetentes que permitiram a morte, a destruição e a contaminação de ambientes, pessoas e animais.

Depois da explosão não adianta muito, para as famílias de quem morreu ou ficou com sequelas, saber com detalhes que a coisa estava mal armazenada, que faltaram essa, aquela e aquela outra providências. 

Seremos uma sociedade melhor se essas avaliações, sobre os perigos que nos cercam, forem levadas a sério e providências fossem tomadas, a tempo, para evitar o pior. Para isso, é necessário que cada um assuma sua responsabilidade. E todos somos responsáveis, em alguma medida. Nada é pior do que fazer de conta que não viu, que não sabe ou que o perigo não existe. “Vocês estão exagerando”, deve ter dito algum burocrata libanês sobre aquele fertilizante jogado num armazém do porto quando alguém advertiu sobre o perigo.