Editorial: Sempre alerta
As fortes chuvas ocorridas na terça-feira causaram grandes alagamentos em Guabiruba. Em Brusque o rio saiu da calha e a enxurrada também causou transtornos com alagamentos e quedas de barreiras, conforme publicamos aqui no jornal O Município e no portal omunicipio.com.br.
As chuvas e enchentes sempre estiveram no topo das preocupações de nossa cidade. Sabemos que podemos sofrer com este fenômeno a qualquer momento, afinal, nossa região é um vale. Juntando esta característica topográfica com condições climáticas adversas, temos as condições perfeitas para uma enchente.
Este estado de alerta existe desde a fundação de nossa cidade, que logo nos primeiros anos foi assolada por duas terríveis enchentes, a de fevereiro de 1861 e de agosto de 1862, alagando as terras lavradas e colocando à prova a determinação de nossos antepassados.
De lá pra cá muitas outras enchentes aconteceram (sendo as mais lembradas as de 1954 e 1984) mas as medidas para mitigá-las foram lentas e complexas. A primeira delas foi a retificação do rio, realizada depois da enchente de 1961 e que mudou drasticamente seu formato, dando mais fluidez.
Depois veio a construção do canal extravasor na década de 1990, em resposta à enchente de 1984, que originou a Beira Rio margem direita e que já se mostrou muito eficiente em várias ocasiões.
Percorremos um longo caminho, mas muito ainda precisa ser feito. Lutamos contra o relevo, contra a característica de nossa bacia e agora contra os novos fenômenos naturais
Em 2012 o governo do estado apresentou o Projeto de Prevenção de Desastres na Bacia do Itajaí, que inclui sistema de alerta e alarme, construção de barragens, entre outras, como resposta à enchente de 2011. Algumas destas ações tomaram corpo, outras ainda estão só no papel.
Neste ano, outra obra importante está sendo concluída, a Beira Rio margem esquerda. Ela não foi oficialmente inaugurada, mas já foi testada pelo Itajaí-Mirim na terça-feira, servindo como canal extravasor e reduzindo o impacto da elevação do nível do rio.
Outro avanço importante é da informação. Se antes elas eram escassas e parciais e nos deixavam às cegas, hoje são bem estruturadas e acessíveis. Neste sentido, além das informações oficiais geradas pela Defesa Civil, temos também um trabalho paralelo e confiável do blogueiro Ciro Groh.
Através de suas réplicas de estações meteorológicas, consegue saber com precisão a precipitação em vários bairros de Brusque e nas cidades vizinhas, conseguindo assim uma leitura exata dos acontecimentos.
Foi assim nesta semana quando informou no seu blog, aqui no portal omunicipio.com.br, que as precipitações foram elevadas em Brusque, Guabiruba e Botuverá, mas foram baixas nas cabeceiras do rio, em Vidal Ramos e Presidente Nereu, motivo pelo qual não tivemos enchente.
Com todos estes avanços em termos de infraestrutura e informações, a chuva forte e o rio ainda assustam. Ainda precisamos de novas medidas para minimizar os impactos de uma enchente.
A bola da vez agora e a construção da barragem de Botuverá. Lideranças políticas e empresariais da cidade reivindicam a sua construção como mais uma alternativa a contenção das cheias.
Percorremos um longo caminho, mas muito ainda precisa ser feito. Esta é uma luta difícil, pois lutamos contra o relevo, contra a característica de nossa bacia e agora contra os novos fenômenos naturais. Também lutamos contra a política e a burocracia que represam investimentos e obras necessárias. É preciso estar sempre alerta, ao tempo e à vontade política para não parar nunca de buscar novas soluções para este velho problema.