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Editorial: Sensação de segurança

Nestes últimos dias, o atentado em Blumenau, no qual um homem invadiu uma creche e matou quatro crianças com um machado chocou a região e o país como um todo. O pânico se instalou, assim como uma sensação de insegurança generalizada, com os pais temerosos em deixar seus filhos na escola, um lugar que teoricamente […]

Nestes últimos dias, o atentado em Blumenau, no qual um homem invadiu uma creche e matou quatro crianças com um machado chocou a região e o país como um todo. O pânico se instalou, assim como uma sensação de insegurança generalizada, com os pais temerosos em deixar seus filhos na escola, um lugar que teoricamente deveria ser seguro para as crianças.

Somado a isso, novas ameaças de que episódios semelhantes aconteceriam foram relevadas. Algumas delas falsas, mas outras reais, com adolescentes sendo apreendidos com facas e armas.

A criação de sistemas de segurança é relativamente fácil de ser feita. Difícil é tratar a causa do problema: uma sociedade que se mostra doente

Logicamente, se exige uma reação por parte do poder público, uma resposta a esse tipo de situação. E a resposta que tem vindo é na linha de que precisamos de policiais armados vigiando as escolas, como anunciou recentemente o governo do estado.

Uma outra vertente traz a ideia de que se mure melhor as escolas, e prefeituras da região já estão projetando aumentar a proteção física nos educandários, com muros altos e arame farpado em espiral, aos moldes dos que temos em presídios.

Outras pessoas, por sua vez, defendem a intensificação do monitoramento por câmeras de vigilância, ideia que também já encontrou guarida no poder público e está sendo providenciada por diversas prefeituras.

Todas essas são coisas que o poder público faz no afã de tentar mitigar a possibilidade de um novo atentado, dar uma resposta aos preocupados pais de alunos.

Mas, é preciso levar em conta que, quando uma pessoa dessa tem a determinação de levar a cabo um atentado desta magnitude contra crianças indefesas, por mais que haja um aparato de segurança, nada impede que o mal se concretize. De uma forma ou outra, ele achará um jeito de furar os bloqueios e executar sua maldade.

Se criminosos conseguem se organizar para assaltar um banco, que tem a melhor estrutura de segurança possível, como serão impedidos de entrar em uma escola por um vigia armado e um par de câmeras de vigilância? Além disso, essas ações terão alto custo para a sociedade, e tornarão nossas escolas cada vez mais parecida com prisões.

A criação de sistemas de segurança é relativamente fácil de ser feita. Difícil é tratar a causa do problema: uma sociedade que se mostra doente, fragilizada nas suas relações, com pessoas mostrando um lado sombrio e desumano sem qualquer pudor.

Como combater isso, que muro erguer para afastar o mal que está dentro das pessoas? Um muro de cimento não será suficiente, é preciso que se construa, enquanto sociedade, uma parede de valores humanos, empatia, amor ao próximo.

A solidez do muro não serve de nada sem a solidez do amor e da compaixão. A espiral da cerca não protege tanto quanto uma espiral de carinho, afeto e bondade. A câmera transmitindo imagens não gera o mesmo efeito que a transmissão do respeito ao próximo de geração a geração.

Não que as iniciativas sejam equivocadas, muito pelo contrário. Toda ação para proteger as nossas crianças é válida. Mas isso só traz uma sensação superficial de segurança. A segurança de fato só teremos com o ser humano se desenvolvendo plenamente, respeitando e amando ao próximo, e não fazendo essas barbaridades inimagináveis.