Editorial: Somos todos migrantes
Nas histórias dos municípios catarinenses e na própria história catarinense não são poucos os exemplos de gente corajosa que, diante das dificuldades na sua pátria natal, enfrentou as agruras dos navios sem conforto e os riscos dos mares para tentar a vida em outro lugar. Os relatos dos que chegaram primeiro soam assustadores, com aquelas […]
Nas histórias dos municípios catarinenses e na própria história catarinense não são poucos os exemplos de gente corajosa que, diante das dificuldades na sua pátria natal, enfrentou as agruras dos navios sem conforto e os riscos dos mares para tentar a vida em outro lugar. Os relatos dos que chegaram primeiro soam assustadores, com aquelas florestas intocadas e aparentemente invencíveis, os animais desconhecidos, a dificuldade para toda e qualquer coisa. Mas também nos chegam cheios daquela força que só a esperança de dias melhores fornece.
O tempo passou, os filhos e netos dos imigrantes já estão completamente integrados à nova pátria, mas esse movimento planetário não para. Nunca parou. Sempre tem gente mal instalada num lugar que espera encontrar, em outro, melhores condições. Às vezes tudo dá muito errado. Como tem sido o caso de centenas de brasileiros que tentam entrar ilegalmente nos Estados Unidos, são presos e depois reenviados para cá. Sem falar em alguns que morreram pelo caminho.
Esta nossa região, que foi colonizada por gente que veio de muito longe, não parou de receber imigrantes (nem de despedir-se de emigrantes que foram tentar a sorte em outros locais). A boa fama que temos, local limpo, seguro, com possibilidades de trabalho e emprego, é, compreensivelmente, um atrativo muito especial num mundo onde explodem crises todos os dias.
A primeira reação de quem esquece (ou nem se preocupou em saber) como seus avós ou bisavós chegaram aqui, é pensar em formas de impedir o acesso “dessa gente de fora”. Felizmente esse pensamento mesquinho não representa a maioria. E muitos compreendem que o fato de alguém ter que sair da sua pátria, da sua cidade, do seu estado, não significa nada. É mais importante valorizar a força de vontade, a esperança de dar dias melhores para sua família, a disposição para trabalhar, estudar e se integrar ao novo local.
A pessoa que conseguiu coragem para enfrentar o desconhecido, merece crédito por ter tido essa iniciativa
Não é difícil encontrar, em muitas cidades catarinenses, haitianos, paraenses, mineiros, cearenses, venezuelanos, argentinos, uruguaios, moçambicanos, guineenses. A origem, assim como a cor da pele e a situação econômica não querem dizer nada. A pessoa que conseguiu coragem para enfrentar o desconhecido, merece crédito por ter tido essa iniciativa. E é claro que muitos dos que mudam de país, estado, cidade, precisam se reinventar, provar que são capazes, conquistar a confiança de seus novos vizinhos e colegas e finalmente poder sentir-se em casa.
O México tem uma tradição secular de hospitalidade. A expressão “mi casa es su casa” (minha casa é sua casa) representa bem o sentimento de quem abre as portas e coração para acolher desconhecidos. Não é fácil, nem sempre é coisa simples, às vezes ocorrem problemas.
Mas é preciso ter sempre em mente que, assim como essas pessoas, pelos mais diversos motivos, chegaram até aqui, daqui a pouco poderemos ser nós, ou nossos filhos, ou nossos netos que, por algum motivo, aportaremos em outro continente, em outro país, em outra cidade, cheios de esperança e dispostos a se reinventar num ambiente novo e desconhecido, ouvindo uma língua desconhecida e tentando se enquadrar nos usos e costumes. O mundo é assim. Os seres humanos são assim.