Editorial: Torneiras vazias
Nesta semana, o principal assunto nas ruas de Brusque foi a frequente falta de água, que acometeu moradores de diversos bairros. Em alguns casos o desabastecimento foi pontual, retornando durante partes do dia. Em outros, no entanto, a situação foi mais complicada, com registro de dias seguidos sem uma gota saindo das torneiras.
A falta de água nesta época do ano não é novidade. A estação mais quente do ano costuma trazer consigo a escassez de armazenamento e, consequentemente, secar as torneiras das residências, sobretudo nas áreas mais afastadas da Estação de Tratamento Central (ETA).
O que é novidade, porém, é o alto consumo registrado em 2023. Os números surpreenderam a direção do Serviço Autônomo Municipal de Água e Esgoto (Samae).
Conforme divulgado pela autarquia, o tamanho da população de Brusque indicaria um consumo diário de 120 a 135 litros por morador, em uma média considerada normal. Porém, em janeiro de 2023, o consumo registrado foi de 230 litros por dia para cada habitante. Na prática, a população brusquense utilizou 70% a mais de água do que a média normal.
O alto uso da água não foge à regra. Com o calor excessivo e o período de férias escolares, o percentual de pessoas que permanecem em casa, consumindo água, cresceu consideravelmente. Além disso, Brusque é uma cidade em plena expansão, tanto populacional quanto em número de negócios, o que se vê claramente demonstrado nas estatísticas divulgadas pelo Samae.
A situação, porém, poderia ser amenizada se houvesse maior planejamento por parte do poder público e consciência da população.
O poder público precisa fazer a sua parte e aumentar o investimento, mas depende também da população fazer o seu papel e evitar o desperdício
No que toca ao poder público, é evidente que a atual capacidade de produção e armazenamento de água do Samae não comporta mais as necessidades da população de Brusque em períodos de alto consumo. A autarquia está fazendo tudo o que pode com a estrutura atual. Ampliações pontuais tem sido feitas, mas obras maiores esbarram na falta de recursos e necessitam de muito tempo para ficarem prontas.
Cabe ressaltar, neste ponto, que diversas gestões anteriores passaram sem que houvesse uma real ampliação da capacidade de produzir e distribuir água tratada. A estação de tratamento da Cristalina, que está em andamento, é a aposta para melhorar a situação, mas ainda está longe de se tornar realidade.
Como o Samae tem uma capacidade limitada de fazer frente à demanda de abastecimento, também cabe à população contribuir para melhorar o cenário.
Em que pese as notícias frequentes sobre desabastecimento em diversos bairros do nosso município, e os apelos para que se economize água, essa ideia ainda não está incutida em toda a população.
Um passeio rápido pelas ruas de Brusque é suficiente para encontrarmos pessoas lavando calçadas e veículos com o uso de mangueiras, utilizando uma quantidade exorbitante de água.
Portanto, aqueles que moram em regiões mais próximas da ETA central não deveriam se dar ao luxo de desperdiçar água, enquanto os que moram em locais mais afastados têm o consumo restrito.
O poder público precisa fazer a sua parte e aumentar o investimento, mas depende também da população fazer o seu papel e evitar o desperdício de um ativo tão precioso.