Editorial: Uma represa de expectativas
Na segunda-feira, o secretário de estado da Defesa civil de Santa Catarina, David Christian Busarello, esteve em Botuverá. O objetivo da vinda foi anunciar novidades sobre a construção da barragem. Segundo ele, a licitação deve ser aberta ainda neste ano e a previsão é que o início das obras seja em 2022, conforme publicamos aqui no jornal O Município.
A visita pegou todos de surpresa. A imprensa começou a ser avisada no domingo à noite, pelo prefeito Alcir Merizio. Também era esperada a vinda do governador, dada como certa até meia hora antes do evento, mas que acabou não se confirmando.
Mesmo com a ausência do governador, veio um grupo de políticos e lideranças, entre eles o deputado estadual Jerry Comper (MDB-SC) que tem uma boa relação com a região e é um dos articuladores desta questão junto ao governo e do deputado federal Carlos Gomes (Republicanos- RS) que ajudará nas tratativas federais.
Na ocasião foi informado que a licitação terá que vencer três etapas. A primeira é a aprovação do projeto atualizado no governo federal. A segunda é a obtenção da Licença Ambiental de Instalação (LAI). A partir daí a obra será licitada.
È uma inciativa louvável e com certeza terá o apoio incondicional de toda a região, mas cada vez que este tema vem a tona, aumentam também as expectativas para que esta obra saia do papel, para que ela de fato aconteça, e é ai que aparece também a lembrança de tudo o que já foi feito e de uma imensa frustração nas tentativas anteriores.
Nosso reservatório de expectativas está transbordando e pode romper a paciência se a represa de verdade não sair do papel
Na verdade, o anúncio desta semana é um recomeço. As etapas a que o secretário se refere já foram trilhadas e tanto o ex-prefeito Nene Colombi como o atual Alcir Merizio são doutores no assunto.
Eles já batalharam muito por esta obra. Viram o governador Raimundo Colombo assinar o edital de R$ 90 milhões da licitação para contratação do projeto em fevereiro de 2012. Na ocasião, assim como agora, a obra era prioritária e deveria ficar pronta em 2015.
Também viram, em novembro de 2014, o secretário da defesa Civil, Rodrigo Moratelli, tentar vencer a segunda etapa, enfrentando a burocracia do Ibama, da Fatma e até do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Cultural (Iphan), que alegava “sítios arqueológicos” na região. Isso sem contar a birra do ICMBio, que em setembro de 2016 chegou a pedir a mudança do local de construção da barragem.
Mas com certeza um dos capítulos mais tristes foi em junho de 2018, quando os mais de mais de R$ 90 milhões garantidos em financiamento com o Banco do Brasil para a execução da barragem de Botuverá, foram alocados em outras obras do governo do estado devido ao atraso na obtenção do licenciamento ambiental junto ao algoz Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).
Estes são só exemplos para mostrar que já passamos pelas três etapas, e por muitos outros obstáculos nesta última década. Movimentos para incluir a obra no orçamento da união, comitivas para pressionar governador, sessões da Câmara de cobrança, pandemia, troca de governos e secretários fizeram parte desta batalha.
Nem precisamos falar aqui da importância e benefícios que a barragem vai trazer pois neste tempo tratamos a exaustão este tema. Mas gostaríamos de ressaltar que esta obra iniciou com um orçamento de R$ 90 milhões, passou para R$ 165 milhões em 2018 e agora de espera algo em torno de R$ 250 ou R$ 300 milhões, mostrando que além de muito tempo estamos perdendo muito dinheiro.
Mas tudo isso pode valer a pena se este “recomeço” prometido pelo secretário não seja igual ao dos governos anteriores, não seja só mais uma manobra política com visão eleitoreira, pois nosso reservatório de expectativas está transbordando e pode romper a paciência se a represa de verdade não sair do papel.