Editorial: A vitória do mosquito
Os números da Dengue não estão dando trégua. Segundo o boletim divulgado nesta semana, já estamos com 2770 casos e estamos chegando a inacreditáveis mil focos na cidade. Como reflexo, já registramos seis mortes e um aumento significativo no atendimento dos hospitais.
Esta doença causada pela picada da fêmea do mosquito Aedes Aegypti tem tirado o sono dos brusquenses. Quem ainda não conhece um parente, amigo ou colega de trabalho que já tenha sido infectado?
Ao contrário da Covid, não há um esforço mundial para achar uma vacina ou remédio que cure este mal. Como típica doença de país tropical, sua expansão não tem merecido tanto holofote e nem interesse dos grandes laboratórios mundiais.
Sem vacina e sem remédio, a única alternativa é a precaução. Mas vamos combinar que erradicar um mosquito não é tarefa fácil.
A dengue vem para nos mostrar o quanto somos impotentes e frágeis, incapazes de cuidar de nosso quintal
Uma das inspirações neste sentido pode vir de nossa história, quando outro mosquito, do gênero Anopheles, causador da malária, assolou Brusque na década de 40. Naquele tempo tivemos a participação decisiva do padre Raulino Reitz, que coordenou os estudos da malária.
A situação foi tão complicada que o historiador Aloisius Carlos Lauth escreveu o livro “Flagelo da Malária em Brusque” contando a forma agressiva como as pessoas foram impactadas na época.
Muitas soluções aplicadas foram radicais, como o grande corte de vegetação, principalmente nos morros, retirada manual das bromélias e aplicação de herbicidas nas matas com pulverizadores. Até pequenos aviões sobrevoavam Brusque para jogar o pesticida DDT.
Mas uma das ações que muita gente lembra era a visita dos agentes do Serviço Nacional da Malária (SNM) que visitavam as casas à procura de focos de mosquito e deixavam aquela fichinha de controle atrás das portas.
Esta iniciativa envolvia toda a cidade e as pessoas tinham a preocupação de cuidar de sua casa e arredores para não entrar na lista do agente, e ter a sua casa classificada como sendo um foco.
Infelizmente esta iniciativa foi desativada e por mais que hoje os agentes epidemiológicos façam visitas, eles não têm a mesma intensidade nem constância necessária para resolver o problema.
O próprio uso de inseticidas e repelentes tão eficazes naquela época já não surtem o efeito desejado pois o mosquito vem se tornando resistente. De acordo com o guia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Flávio da Fonseca, isso ocorre porque esses insetos têm taxas de evolução e adaptação muito elevadas.
Assim, o ser humano com toda sua inteligência, razão e ciência não consegue vencer este minúsculo inseto. Ficamos à mercê de suas picadas e não conseguimos conter o avanço da doença.
A única arma eficaz contra o mosquito vem da própria natureza: o frio. A maioria deles morre em temperaturas baixas (por volta de 15º). Os que não morrem reduzem suas atividades.
A dengue vem para nos mostrar o quanto somos impotentes e frágeis, incapazes de cuidar de nosso quintal, de produzir um remédio. Só nos resta rezar para que a frente fria prevista para semana que vem realmente venha e contenha mais esta epidemia.