Em 4 de julho de 2021, o empresário do ramo têxtil, Jonas Seubert, faleceu aos 54 anos de idade no Hospital Azambuja, em Brusque. Ele teve morte cerebral decorrente de um Acidente Vascular Cerebral (AVC) hemorrágico. O guabirubense foi um dos 13 doadores de órgãos em 2021.
A decisão de doar foi tomada pela filha, a assistente administrativa Fernanda Janine Seubert, 29. Ela recorda que uma enfermeira perguntou se havia interesse na doação. Então, Fernanda conversou com o irmão Jonatan Luan Seubert, 18, e com a mãe Simone Victorino Seubert, 50, que apoiaram a atitude.
“Ele nunca falava sobre isso [doação de órgão]. Só que, em 2018, eu fui diagnosticada com leucemia mieloide aguda e precisei de transplante de medula óssea. Na hora, o meu pai ficou bem preocupado, começou a correr atrás e perguntou aos médicos se os pais poderiam ser possíveis doadores”, conta.
De acordo com Fernanda, apenas o irmão dela poderia fazer a doação, o que garantiu que ela não precisasse entrar no banco de espera. Ou seja, caso fosse filha única, ela teria que entrar na fila e, possivelmente, sofrer a agonia da espera.
“Eu vi que o meu pai se preocupou bastante pela possibilidade de eu não achar um doador e demorar muito. Quando a enfermeira me perguntou se iríamos doar os órgãos dele, lembrei na hora desta situação”, continua.
Ainda, Fernanda relembra que precisou da doação de sangue durante o tratamento. Neste caso, não teve tanta sorte, pois o banco para o tipo sanguíneo dela estava baixo. Teve que aguardar.
“Como ele teve morte cerebral, os órgãos dele estavam bem. Antes da enfermeira falar, eu já pensava nisso. Demorou pela prática burocrática da liberação do corpo, mas tirando isso não influenciou em nada, além de salvar outras vidas”, complementa.
A decisão até hoje traz orgulho para a família de Jonas, que ainda sente a dor da perda. Porém, após a doação dos órgãos, Fernanda diz acreditar que o pai está vivo em diversos lugares.
“A gente não pode saber para quem foi, mas temos a esperança de que ele ajudou quem precisava. Ele salvou muitas pessoas. Eu sei que alguém está com o rim do meu pai, com o fígado, com os olhos. Só não está com o coração, porque não deu tempo”, conta.
“Ele morreu, mas fez com que outros pudessem sobreviver. O meu pai salvou muitas vidas e eu sei que tenho ele vivo em algum lugar. Ele morreu, mas não morreu. Ele deixou alguém para a família, alguém que estava praticamente morrendo. Ele ajudou”, completa.
Alegria compartilhada
Ao lembrar do pai, Fernanda comenta que os dois eram muito próximos e que a principal característica de Jonas era a alegria. “Ele estava sempre alegre, sempre fazendo fotos, selfies com caipirinha, chope. Onde ele ia fazia selfies”, diz.
“Não tem palavras para falar dele. É um homem excepcional, um exemplo. Se você perguntar para qualquer pessoa, de qualquer lugar, principalmente daqui do bairro [Rio Branco] e do Guarani, quem era Jonas Seubert, eles vão falar de um homem que tinha um coração que sobrava espaço. Sempre sorridente, por mais problemas que ele tivesse, não demonstrava, e sempre brincava com todo mundo”, lembra.
Hoje, a presença de Jonas ainda continua com Fernanda, que conta se inspirar a cada dia no pai. “Ele foi um exemplo para mim. Ele foi o esteio da nossa casa, que, com o falecimento dele, caiu. É um homem que muita gente deveria seguir como exemplo”, diz.
Sobre a doação dos órgãos, a filha acredita que Jonas também aprovaria a decisão. “Ele deve ter ficado muito orgulhoso de termos tomado a decisão para salvar outras vidas. Porque só quem passa sabe o quanto é difícil. O quanto a gente precisa esperar. Ficamos ansiosos, nervosos. Tenho certeza absoluta que ele, onde estiver, ficou muito contente com essa decisão. Sei que ele está muito feliz”, completa.
Doação de órgãos
Segundo Fernanda, Jonas não pôde doar os pulmões e o coração, pois não daria tempo suficiente para o órgão chegar no receptor em outro hospital, já que o Azambuja ainda não é autorizado pelo Ministério da Saúde para fazer transplantes.
Em Brusque, até junho, 14 pessoas poderiam doar os órgãos após o falecimento no Hospital Azambuja. Contudo, segundo a secretaria estadual, apenas três doaram com autorização familiar. Em seis casos houve a recusa na doação e em cinco casos a doação teve contraindicação clínica.
De acordo com as enfermeiras da Comissão Hospitalar de Transplantes (CHT) do Hospital Azambuja, Geisiane Sousa Braga, Suzele Pilar e Keila Barros, as recusas estão relacionadas a falta de conhecimento da população sobre o processo de doação de órgãos. Além disso, crenças religiosas e o processo de luto na dificuldade de aceitação afetam na recusa.
Setembro Verde
No mês de conscientização sobre a doação de órgãos e tecidos, o Setembro Verde surge em alusão ao Dia Nacional do Doador de Órgãos, comemorado no dia 27 de setembro.
“Doação é o ato de dar, em vida ou após a morte, uma parte de seu corpo para salvar a vida ou melhorar a saúde do outro. A doação é um princípio de imensa solidariedade que faz bem para a sociedade como um todo”, diz Geisiane.
Conforme o Ministério da Saúde, o Brasil tem 56.847 pacientes aguardando transplantes. A maioria, 32.481, aguarda a doação de um rim. E 21.260 aguardam pela doação de córnea. Em Santa Catarina, segundo a Secretaria de Estado de Saúde, em junho 1.114 pessoas na fila de espera.
Segundo as enfermeiras, através dos transplantes pode-se ajudar diversas pessoas que estão em situação de doença e encontram-se em um angustiante estado de espera por um órgão ou tecido essencial para o funcionamento do corpo.
“Antigamente essas pessoas morriam inevitavelmente. Hoje em dia, para algumas delas existe a opção de receber um transplante de órgãos, isto é, receber um órgão ou uma parte de um órgão, chamada tecido, de outra pessoa viva ou morta”, diz.
“A doação de órgãos é um ato pelo qual você manifesta a vontade de que, a partir do momento da constatação da morte encefálica, uma ou mais partes do seu corpo, em condições de serem aproveitadas para transplante, possam ajudar outras pessoas”, completa Geisiane.
Elas orientam que o passo principal para se tornar um doador é conversar com a própria família e deixar bem claro o desejo de doar.
“Não é obrigatório deixar nada por escrito. Porém, os familiares devem se comprometer a autorizar a doação de seus órgãos após a sua morte e, aí sim, será por escrito. Os familiares que podem autorizar a doação são os pais, filhos, avós, netos, irmãos e cônjuge, ou companheiro em união estável”, finaliza.