Em 1961, enchente matou três pessoas e destruiu a cidade de Brusque
A retificação do rio Itajaí-Mirim, primeira grande obra para contenção de cheias no município, iniciou no ano seguinte
Não adianta. O que se vê nas próximas horas é uma grande tragédia. Nas primeiras horas da noite, o rio Itajaí-Mirim enche e seu volume cresce assustadoramente.
Em pouco tempo, as águas invadem ruas, casas, comércios e não param de subir, atingindo uma altura até então nunca registrada. Brusque ficou embaixo d’água.
Em 11 de novembro de 1961, o jornal O Município classifica a enchente ocorrida há poucos dias, como “uma tragédia dantesca, sem precedentes na história do município”.
De acordo com a reportagem, 90% das casas da cidade, que naquela época tinha 17 mil habitantes, foram atingidas e ficaram submersas. Moradores perderam tudo.
O comércio também sofreu muitos danos e estabelecimentos relataram prejuízos avaliados em 15 milhões de cruzeiros. A agricultura também enfrentou inúmeros transtornos.
Mas pior do que os danos econômicos e perdas materiais deixadas pelas águas, foi a perda de vidas. Ao total, três pessoas morreram durante a enchente de 1961 em Brusque. Segundo o jornal, uma mulher e seu filho de cinco anos desapareceram na correnteza quando a canoa que os transportava de casa para um lugar seguro virou. A terceira vítima da enchente foi um homem que foi levado pelas águas quando tentava nadar para se salvar.
90% das casas da cidade, que naquela época tinha 17 mil habitantes, foram atingidas e ficaram submersas
A tragédia das águas de Brusque foi notícia em todo o país. Grandes jornais de circulação nacional noticiaram os prejuízos causados pela enchente na região. No dia 18 de novembro, O Município trouxe trechos de reportagens publicadas pelos jornais O Globo, Última Hora e O Estado de São Paulo, que falavam sobre Brusque.
A grande enchente comoveu o país. Ao longo dos dias, a cidade recebeu diversas doações, vindas de São Paulo e Rio de Janeiro, por exemplo. Jaraguá do Sul também enviou dois caminhões cheios de alimentos, roupas e calçados para serem distribuídos para as vítimas do rio Itajaí-Mirim, que chegou a 10,46 metros acima do seu nível normal.
Governo federal e estadual também enviaram ajuda ao município, como abertura de crédito extraordinário para socorrer as vítimas, assim como reparação de estradas e estruturas danificadas pelas águas .
Iniciaram, então, as discussões sobre a necessidade de retificação do rio Itajaí-Mirim. Um comissão de engenheiros do Departamento Nacional de Obras e Saneamento (DNOS) esteve na cidade para avaliar o que poderia ser feito para minimizar os impactos das cheias.
Em abril de 1962, O Município noticia que uma equipe de técnicos seria enviada a Brusque para iniciar o corte e retificação de emergência do rio Itajaí-Mirim. A retificação iniciou ainda em 1962 e foi realizada em duas etapas, até 1975.
Das 82 curvas do rio Itajaí-Mirim, as pesadas máquinas do DNOS deixaram apenas 28, aumentando o volume de vazão das águas e modificando a paisagem de Brusque
A primeira fase foi a retificação do trecho que compreende a ponte Irineu Bornhausen até a foz, junto ao rio Itajaí-Açu, já em Itajaí. A segunda fase foi o corte do rio a partir da ponte Irineu Bornhausen em direção a Botuverá.
Com a retificação, as águas escoam com mais rapidez, pois sem as curvas, o rio corre praticamente em linha reta. De acordo com reportagens publicadas por O Município na época, o trecho mais complicado da obra foi o da rua Benjamin Constant, que foi cortada ao meio para dar lugar ao novo leito do rio.
Das 82 curvas do rio Itajaí-Mirim, as pesadas máquinas do DNOS deixaram apenas 28, aumentando o volume de vazão das águas e modificando a paisagem de Brusque.
Em outubro de 1975, a grande obra de contenção de enchentes foi posta à prova na cidade. Na ocasião, a região foi castigada, mais uma vez, com um grande volume de chuvas, mas Brusque, diferente de outros municípios não foi afetada.
Na edição de 10 de outubro, O Município destaca a eficácia da obra: “pela vez primeira na história triste das enchentes que assolaram o Vale do Itajaí, Brusque não foi atingida pelas águas. Isto graças a um convênio firmado entre a Prefeitura Municipal e o Departamento Nacional de Obras e Saneamento”, diz a reportagem.
De acordo com a reportagem, enquanto várias cidades da região tiveram prejuízos incalculáveis e até vítimas fatais, Brusque não teve problemas maiores, “pois as retificações foram responsáveis pelo rápido escoamento das águas em Brusque, o que deixou, sem dúvida alguma, a população tranquila e satisfeita”.
O geólogo Juarês Aumond destaca que a retificação foi uma boa solução encontrada para minimizar as enchentes na cidade. “Se não tivessem realizado a retificação, as enchentes que vieram depois poderiam ser muito maiores. Analisando custos e benefícios, foi uma grande alternativa para a sociedade, mas teve consequências, entre elas a erosão das margens”, diz.
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