Em abrigos, famílias atingidas pela enxurrada em Guabiruba vivem dias de incerteza
Atualmente, 13 famílias estão alojadas na Igreja Adventista e no salão da igreja São Vendelino
Mais de uma semana após a forte enxurrada que gerou muito transtorno no bairro Lageado Baixo, em Guabiruba, 31 famílias continuam fora de suas residências, em abrigos, à espera de uma definição se podem ou não retornar para retomar a vida normal.
Dessas, 18 famílias estão em casas de parentes – totalizando 58 pessoas – e 13 estão alojadas nos dois abrigos montados pela prefeitura: três na Igreja Adventista do bairro, ou seja, 13 pessoas, e outras 10 famílias no salão da igreja São Vendelino, totalizando 38 pessoas.
Uma dessas famílias é a de Helena Aparecida de Camargo, 51 anos. Ela morava na rua Kurt Waldheim junto com o marido, as duas filhas – uma delas grávida de 7 meses – e o genro.
A casa da família foi atingida pela água e muito pouco pode ser salvo. “Tiramos mais roupas, documentos. Tenho muita coisa que ficou dentro da casa, como minha geladeira, fogão, mas que não sei se vou conseguir tirar. Estamos esperando a Defesa Civil”, diz a moradora.
A família está há pouco mais de uma semana alojada em uma das salas disponibilizadas pela Igreja Adventista. Os cinco dividem o espaço da sala com o que conseguiram tirar da casa e também com as doações de roupas e calçados que já receberam. Os dias para a família são de incerteza. “Não sabemos se vamos poder voltar para casa. Está muito perigoso lá. É uma situação muito difícil, nunca imaginei que passaria por isso”, diz.
Quem quiser ajudar a família, pode entrar em contato pelo telefone 9 9149-8510. Helena diz que o que mais precisa no momento é de um guarda-roupa para poder guardar as doações que estão empilhadas no chão e também uma cama para a filha que está grávida.
“Quando vejo nuvem já fico assustada”
Quem também aguarda uma definição sobre o retorno para casa é a costureira Zilda Batista Guimarães, 52 anos. Ela também morava na rua Kurt Waldheim e está desde a última quarta-feira, 27, no abrigo montado pela Igreja Adventista.
A casa em que ela morava com o marido e uma das filhas foi atingida pela lama e pela água da enxurrada. “Entrou na cozinha, no banheiro, em um dos quartos e na lavanderia. Minha máquina de lavar estragou e ficou tudo, geladeira, fogão”.
Zilda não estava em casa na hora da chuva. Quando chegou, já não havia mais tempo de salvar nada. “Eu estava em Leoberto Leal. Recebi alguns vídeos da chuva, mas não pensei que tinha entrado na minha casa também. Quando cheguei levei um susto. Acho que foi até bom que eu não estava, acho que passaria mal”.
A filha de Zilda, Priscila Batista Guimarães, 30 anos, mora em outra casa, próxima da mãe, e também foi atingida pela enxurrada. “Eu tentei puxar a lama com a enxada, mas foi acumulando e não consegui. Tive que sair com a ajuda dos bombeiros”, lembra.
Priscila também não conseguiu salvar seus móveis. Além disso, mãe e filha que trabalham como costureiras autônomas, perderam todo o trabalho que estavam fazendo. “Não sabemos como vamos voltar a viver normalmente. Foi tudo muito assustador. Eu escutava o barulho das pedras descendo. Toda vez que chove fico com medo, começa uma nuvem e já fico preocupada”, destaca Priscila.
A família está apreensiva, pois não sabe até quando poderá ficar no abrigo. O desejo é voltar para a casa, que é própria, mas precisa da autorização da Defesa Civil. “Falaram que seria até ontem (domingo), mas continuamos aqui e sem previsão. A casa é nossa mesmo, e estamos sem saber o que fazer. Queremos voltar, mas temos medo”.
Quem quiser ajudar a família pode entrar em contato pelos telefones 9 9202-0456 e 9 9249-5629.
Em busca de respostas
Fernando Vieira, 39 anos, está com a esposa e os dois filhos pequenos no abrigo da Igreja Adventista. A casa da família fica na rua Roberto Pollheim e não foi atingida pela enxurrada. Porém, a Defesa Civil pediu para que eles fossem para o abrigo, devido a um desbarrancamento próximo à residência da família.
“A Defesa Civil mandou a gente sair e já estamos há uma semana aqui. Só quero que digam se podemos voltar ou não”.
A preocupação de Fernando é que a casa da família é própria e a prefeitura sugeriu que eles entrassem para o aluguel social enquanto a situação não se resolve.
“Como vou alugar uma casa com a rapidez que eles querem e por R$ 600. É impossível. Temos casa própria, não vou assumir um aluguel no meu nome. Só quero que venha alguém aqui e fale se vamos poder voltar ou não e o que vão fazer para nos ajudar. Estou aqui há uma semana esperando”, desabafa.
“A água entrou por uma porta e saiu pela outra”
Entre as famílias que estão abrigadas no salão da igreja São Vendelino está a da costureira Beatriz da Rosa, 38 anos. Viviam na casa que foi atingida pela enxurrada na rua Kurt Waldheim sete pessoas, incluindo um bebê de três meses.
“Eu estava em casa na hora. A água entrava por uma porta e saía pela outra. Não conseguimos salvar nada. Ficou tudo dentro de casa”.
Beatriz e a família chegaram no abrigo na quarta-feira, 27. Para se distrair e tentar não pensar tanto no que aconteceu, ela se voluntariou a ajudar na cozinha do abrigo. “Ajudo na organização e essa é uma forma de refúgio, porque não conseguimos pensar em outra coisa a não ser o que vamos fazer daqui pra frente”.
A cozinheira Elisete Pereira, 35 anos, é vizinha de Beatriz e também está no abrigo com a família, composta por cinco pessoas. Assim como a vizinha, ela não conseguiu salvar seus pertences. “Só queremos saber se vamos poder voltar para casa ou não”.
Reunião deve definir futuro das famílias
A secretária de Assistência Social de Guabiruba, Neide Luzeti Hort, destaca que esta é a primeira vez que a cidade precisa enfrentar uma situação como esta e com um agravante: a pandemia da Covid-19.
De acordo com ela, os abrigos foram estruturados pensando no distanciamento entre as famílias, para evitar o contágio do coronavírus. Além disso, há a disponibilidade de álcool em gel, máscaras e durante a alimentação todos são orientados a utilizar luvas. “Apesar do cuidado, é bastante difícil manter o distanciamento entre eles. A maioria são da mesma rua, se conhecem, são parentes, amigos, então tem essa relação”, afirma.
Neide afirma que nesta semana haverá uma reunião com a Defesa Civil para definir um prazo de manutenção dos dois abrigos. Saber se vão poder voltar para suas casas ou não é o principal anseio dos atingidos pela enxurrada. “Enquanto não tiver os laudos da Defesa Civil, não temos o que fazer. As famílias estão aguardando os laudos para saber se poderão ou não voltar para casa. A reunião que teremos essa semana é para ver isso, e dar o prazo para eles se organizarem”.
A secretária explica que as famílias que se encaixam nas regras do aluguel social, foram orientadas sobre o programa e já podem procurar a Assistência Social. “A princípio a prefeitura deve pagar dois meses de aluguel, mas todas as famílias já foram orientadas pela equipe do CRAS sobre qual a melhor forma de prosseguir até sair o laudo da Defesa Civil”.