José Francisco dos Santos

Mestre e doutor em Filosofia pela PUC/SP, é professor na Faculdade São Luiz e Unifebe, em Brusque e Faculdade Sinergia, em Navegantes/SC e funcionário do TJSC, lotado no Forum de Itajaí/SC.

Em busca da integridade

José Francisco dos Santos

Mestre e doutor em Filosofia pela PUC/SP, é professor na Faculdade São Luiz e Unifebe, em Brusque e Faculdade Sinergia, em Navegantes/SC e funcionário do TJSC, lotado no Forum de Itajaí/SC.

Em busca da integridade

José Francisco dos Santos

Integração significa, genericamente, incorporar e articular elementos diferentes e às vezes contrários na formação de um todo orgânico. Chamamos de integrais os alimentos que não perderam partes importantes de seus nutrientes e de suas propriedades nos processos de refinamento ou industrialização. Na política, a integração nacional é inclusive nome de ministério, dada a importância de se pensar o país integrando as diversas regiões, mesmo as mais longínquas, como condição para se manter a soberania em todo o território nacional.

Mas integrar implica lidar com diferenças. É muito fácil fazer funcionar em conjunto aquilo que é homogêneo, mas constitui um enorme desafio congregar diferentes interesses, olhares, crenças e entendimentos num todo harmônico e coerente. Quando os conflitos se exacerbam, parece ser sempre mais fácil eliminar o diferente, o oponente, como querem os radicais e extremistas. Na história, os inúmeros massacres, do passado mais longínquo ao mais recente, testemunham a força letal dessa ideia. Os grandes líderes sempre foram aqueles que conseguiram congregar sob uma mesma bandeira realidades e interesses diversos. Gandhi conseguiu “segurar” hindus e muçulmanos enquanto viveu, mas sua morte foi a senha para a guerra fratricida que separou a Índia do Paquistão. Em muitas famílias, a presença forte do pai ou da mãe acalma ou esconde os conflitos latentes. Com sua morte, a briga pela herança às vezes já começa no velório.

Esse negócio de integração não parece ser uma coisa instintiva nossa, muito embora sejamos, por natureza, “animais políticos”, ou sociais. Essa sociabilidade, no entanto, só se efetiva com muito diálogo e civilidade, ingredientes também nem sempre à disposição. Das guerras de torcidas ao bullying, das desavenças familiares às puxadas de tapete no trabalho, são inúmeras as manifestações da nossa tendência a eliminar quem nos incomoda. Daí que a sociedade humana ainda está longe de se tornar uma irmandade integrada.

Na vida pessoal, essa integração talvez seja ainda mais difícil. Integração ou integridade significa a capacidade de poder reconhecer, lidar e transformar em possibilidades positivas todos os fatores da vida: a história pessoal, com seus erros e acertos, as capacidades e limitações, os sonhos, os sentimentos, as crenças. Uma pessoa íntegra, ou integrada, pensa, sente, fala e age sob um mesmo princípio, de modo que se torna confiável e dá segurança a quem com ela convive. Mas isso está longe de ser uma coisa frequente. É relativamente fácil coadunar o pensamento e a fala, mas isso nem sempre vem acompanhado de ações articuladas e coerentes. A ação é a manifestação concreta do que pensamos e sentimos, e a incoerência entre o que se diz e o que se faz é um dos primeiros sintomas de falta de integridade. Mais difícil ainda é articular os sentimentos, pois tendemos a negligenciá-los, dar-lhes pouca importância. No fim das contas, é por meio deles que agimos com mais eficiência, pois uma ideia é um nada perto de uma emoção. Daí a necessidade que temos de buscar a integração desses elementos todos. A integridade nos faz mais honestos conosco mesmos e abre caminho para uma felicidade genuína e duradoura. Mas como diz nosso título, isso é uma busca, em geral bastante trabalhosa. Mas será apenas com indivíduos integrados em si mesmos que poderemos construir uma sociedade mais harmoniosa, mais tolerante e mais íntegra.

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