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Em cartas, alunos de Brusque relatam como o EJA mudou suas vidas

Ensino de Jovens e Adultos possibilitou conclusão dos estudos e obtenção de melhores empregos

De segunda a quinta-feira Maria Lourenço de Melo, 55 anos, pega o ônibus no bairro Águas Claras em direção ao bairro Paquetá. Ela é uma das 60 alunas do Ensino de Jovens e Adultos (EJA) da unidade que buscam na modalidade o sonho de concluir os estudos e melhorar a colocação no mercado de trabalho. 

Natural do Ceará, dona Maria chegou a Brusque há 22 anos. Na juventude cursou até o 6º ano. Hoje vende de porta em porta produtos para casa, como tapetes e cortinas. O sonho de concluir os estudos sempre teve, mas não via como tornar realidade. Isso mudou depois que um dos seus três filhos começou a cursar o EJA.

“Meu menino me incentivou. Estou gostando muito. Sem estudo você não tem nada”, diz ela, que retornou às salas de aula na metade do ano passado.

Os alunos do EJA Paquetá fizeram cartas contando suas histórias e a importância do Ensino de jovens e adultos em suas vidas. A atividade foi idealizada pelo professor de geografia Joelcio Mikaliski. Um dos objetivos é motivar mais pessoas a concluírem os estudos. “Tem pessoas que são barradas em empregos por causa da escolaridade”, conta o professor.

Joelcio afirma que todos estão muito contentes com a oportunidade. O EJA atende desde os 15 anos para quem não concluiu o ensino fundamental. Cada ano letivo na modalidade tem seis meses de duração, permitindo concluir em menos tempo. 

Dona Maria não pretende parar no diploma do ensino fundamental, ela quer concluir também o ensino médio e, com melhor escolaridade, conseguir um trabalho melhor. Ela conta que a idade tem pesado e fazer vendas de porta em porta tem ficado mais difícil. 

O sonho de cursar uma faculdade

Elicleia Seemann Cunha, 42, sonha ainda mais longe. Chegar à faculdade. Ela tinha parado os estudos no sexto ano e retornou às salas de aula no início de 2019, agora se prepara para fazer o oitavo ano no primeiro semestre. Esposa e mãe de quatro filhos, a família ajudou a tomar essa decisão.

“Meu marido foi quem mais me incentivou”, conta a estudante. Ela também relata que os filhos gostaram muito da ideia. Um deles, de 17 anos, estuda na Escola de Ensino Fundamental Paquetá.

“No começo ele ficou do meu lado o tempo todo, eu ficava bem envergonhada. Hoje já fiz amizade com muita gente”, diz. Seu filho se formou no nono ano em dezembro passado. O que a motiva a concluir os estudos é ter mais conhecimento, se atualizar e buscar uma colocação no mercado de trabalho.

Recomeço após separação

Se o marido foi o principal apoiador de Elicleia, Edite Dunn, 44, viveu o contrário. Criada na lavoura dos pais em Angelina, ela precisou largar os estudos na antiga quinta série para ajudar no campo. Pensou em voltar para a escola quando se casou aos 22 e se mudou para Brusque, mas o marido sempre a proibiu, mesmo nos bons momentos financeiros vividos na construtora que dividiam.   

Os dois se separaram no ano passado. Poucas semanas depois, a casa de Edite foi assaltada. Ela passou a ter medo de ficar no local e a apresentar sintomas como mal estar e falta de ar. Começou um tratamento médico e o profissional sugeriu que ela iniciasse uma atividade. Foi quando veio a ideia de cursar o EJA.

“Sempre tive vontade de estudar”, conta ela. Na volta aos estudos, fez amizade, passou a se sentir bem. Há poucas semanas descobriu um câncer, mas apesar do susto com a doença, nem pensa em parar as aulas. “No EJA eu encontrei o maior apoio”, garante.

Estudo em casal

Acompanhar a modernização da indústria foi o que levou o casal Fabrício Bette, 41, e Maristela Trindade, 40, do bairro Águas Claras, de volta a sala de aula. Incentivado pela empresa em que trabalha há 10 anos, o metalúrgico que tinha até a quinta série agora planeja concluir não só o ensino fundamental como também o ensino médio.

A rotina para concluir esse objetivo é bem pesada. Eles saem de casa às 3h30, deixam o trabalho às 14h e voltam no ônibus da empresa, chegando por volta das 15h45. Pegam os filhos na escola e voltam para casa. Por volta das 18h vão para o EJA. Esforço que Fabrício conta valer a pena.

“Deixamos nossos filhos e vamos conquistar nossos objetivos, pois o futuro vai exigir que nós estejamos preparados para dar o melhor de si, pois o mercado de trabalho está em expansão e se não nos aperfeiçoarmos ficaremos para trás”, escreveram, na redação conjunta.