Em depoimento de duas horas, Jocimar compara entrevista com depoimento de Rodrigo Voltolini e aponta contradições
Vereador afastado mostrou documento de suposta compra de moto por Eder Leite após prisão: “não tinha dinheiro para passe”
O vereador afastado Jocimar dos Santos (DC) prestou depoimento à comissão processante nesta quinta-feira, 25. O parlamentar rebateu as acusações de rachadinha em um depoimento que durou mais de duas horas. Ele trouxe novos argumentos para reforçar que houve um conluio entre o suplente Eder Leite (DC), a companheira Maria Silvana Fugazza e o vereador Rodrigo Voltolini (DC) para incriminá-lo.
Jocimar apresentou slides para reforçar os argumentos. Inicialmente, ele contou como conheceu Eder e disse que ajudou o suplente diversas vezes. O foco da fala do vereador afastado, porém, foi em torno de conflitos nas declarações de Voltolini em uma entrevista e no depoimento à comissão.
Ao jornal O Município, Voltolini disse que “não sabia de nada” sobre a situação que resultou na prisão do vereador afastado. No entanto, ele informou à comissão que tinha sim conhecimento prévio do pedido de Jocimar para “repartir o salário” de Eder e informou que a suposta exigência havia sido confidenciada a ele por Maria Silvana.
Suposta compra de moto
Nos slides, Jocimar também apresentou a documentação de uma suposta compra de moto por Eder alguns dias após a prisão, além de uma reclamação de Maria Silvana no Facebook em razão da compra do veículo. “Ele não tinha dinheiro para passe [de ônibus], mas como compra uma moto dias depois da minha prisão?”, questionou.
Além disso, o vereador afastado rebateu os argumentos de Eder e Maria Silvana de que sequer sabiam o que era rachadinha antes do pedido do parlamentar para repartir salário. “Nós estamos em 2023. Todo dia tem alguma coisa na TV. Quem que está na política e não sabe que rachadinha é crime?”.
Vídeo de Eder
Jocimar também trouxe detalhes sobre a prisão em frente ao Banco do Brasil. Ele disse que, no dia, havia esquecido do encontro com Eder e o suplente lembrou perto da hora. “Eu não nasci para ser bandido, mas também não nasci para ser burro. Qual ser humano iria cometer um crime na escadaria do Banco do Brasil?”.
O vereador afastado informou que ficou sentado na escadaria aguardando Eder. Depois, o suplente chegou e os dois começaram a falar sobre a proposta de aumento de salário dos vereadores. Eder gravou a conversa. Jocimar garante que o pagamento era uma dívida que o suplente tinha com ele.
“Ele não disse [no vídeo]: ‘você está me exigindo [parte do pagamento]. Eu não falei: ‘não esquece que mês que vem você tem que me dar metade [do salário]’. O Eder sabia que estava gravando, mas eu não. A fé na coisa certa era tão grande que eu não poderia imaginar qualquer coisa”, disse.
O vídeo mostra Eder entregando o dinheiro para Jocimar, equivalente a 50% do salário do suplente como parlamentar. O vereador afastado declarou que pegou o valor normalmente, enquanto o suplente entregou de forma “escondida”. “O Eder sabia que a polícia estava esperando. Ele preparou o flagrante”, alegou.
Além disso, Jocimar afirmou que Eder não falou no vídeo que entregava “rachadinha”, pois sabia que seria questionado imediatamente pelo vereador afastado. “O Eder podia ter falado: ‘estou pagando a rachadinha do meu salário’. Eu iria questionar. Ele não falou porque sabia que eu questionaria”.
Ele também minimizou o fato da entrega de parte do salário ter sido em dinheiro vivo. Jocimar exemplificou que o vereador Natal Lira (DC) também utiliza dinheiro vivo para as atividades do dia a dia e, inclusive, já o emprestou valores quando necessário. “Qual é o problema [de usar dinheiro vivo]? Não tem problema nenhum”.
Filho levado ao hospital
Em diversos momentos, Jocimar expôs situações pessoais na vida de Eder, que teve conhecimento nos anos de relação com o suplente, envolvendo Maria Silvana, a ex-companheira e pedidos por ajuda financeira, mencionando até a mãe de Eder em algumas ocasiões.
No final do depoimento, Jocimar chorou e contou os momentos do dia da prisão, que considera “o pior da vida”. Ele relatou que o filho Leonardo foi levado ao hospital e, nesta hora, chamou Eder de “vagabundo”.
“O que a minha família passou, não quero para o meu pior inimigo, nem para o Eder. Quero que seja feita a Justiça pelo o que ele me provocou. Se eu perder o mandato, amanhã vou para o setor privado. Agora, o mal que ele causou para minha esposa, para meu filho e meus familiares…”, finalizou.
Relembre o caso
Jocimar foi preso em flagrante no dia 30 de novembro pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) por suspeita de rachadinha. A prisão aconteceu em frente ao Banco do Brasil, no Centro I, enquanto recebia parte do salário do suplente que ocupava o mandato provisoriamente, Eder, pois Jocimar estava licenciado do cargo.
Posteriormente, foi divulgado que Eder denunciou o caso ao Ministério Público de Santa Catarina (MP-SC) dias antes da prisão. Jocimar é o terceiro vereador preso durante o mandato na história de Brusque. Ele foi solto no dia seguinte após pagamento de fiança e afastado do mandato por ordem da Justiça.
Desde então, Jocimar optou pelo silêncio, até se manifestar cerca de 20 dias após prisão. Eder, ainda quando ocupava o mandato, apresentou o pedido de cassação de Jocimar, aprovado pelo plenário da Câmara. Assim, foi formada a comissão processante que analisa a denúncia.
Após o período de licença de Jocimar, Eder deixou o cargo. Em razão do afastamento, porém, o então diretor-geral do Zoobotânico, Rodrigo Voltolini, primeiro suplente de vereador pelo DC, assumiu a cadeira de Jocimar na Câmara por tempo indeterminado.
Na primeira entrevista que concedeu à imprensa depois do episódio, Jocimar se defendeu. “Fui envolvido em um golpe terrível para destruir a minha imagem”, disse. A defesa alega que houve um conluio entre suplentes, inclusive com a suspeita da participação do hoje vereador Voltolini.
Voltolini negou a acusação. “Com os fatos que aconteceram até então e essa última situação agora, ele perde um grande amigo”, disse ao jornal O Município após a alegação da defesa. A companheira de Eder, Maria Silvana Fugazza, também é apontada pela defesa como integrante do tal conluio.
Reações da política
Nos bastidores, a prisão de Jocimar pegou políticos de Brusque de surpresa. As informações começaram a chegar aos ouvidos de vereadores, assessores e servidores da prefeitura no início da noite do dia da prisão. Jocimar era membro da base de apoio do governo do prefeito André Vechi (PL) na Câmara.
Dias após a prisão, o prefeito se manifestou. Vechi, que antes de se filiar ao PL integrava o partido de Jocimar, disse que “qualquer relacionamento político com o vereador Jocimar está cortado”. Além disso, o prefeito afirmou que, caso fosse parlamentar, “avançaria na linha” de um pedido de cassação.
O que é comissão processante?
De acordo com o artigo 84 do regimento interno da Câmara de Brusque, a comissão processante é formada para apurar denúncias apresentadas contra vereadores, prefeito, vice-prefeito e outros. Na ocasião, comissão que investiga o pedido de cassação de Jocimar é formada por três vereadores.
O que é rachadinha?
A rachadinha, crime no qual Jocimar é acusado, trata-se na prática do repasse do salário de um terceiro, como assessor ou suplente, ao parlamentar. Nesta específica ocasião, o vereador afastado é suspeito de exigir 50% do salário do suplente Eder em troca de um mês no cargo de vereador.
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