Em grande momento no Brusque, Waguinho Dias fala sobre carreira e missão
Técnico fez grandes campanhas com clubes pequenos e quer engrandecer o quadricolor
O Brusque realizou sua melhor campanha em edições de Série D do Campeonato Brasileiro em 2019, e muito dela se deve à chegada de Waguinho Dias na equipe quadricolor, em 9 de abril.
Trazendo consigo estrutura e visões inéditas no cotidiano do clube e com um histórico de sucessos recentes passando por Internacional de Lages, Tubarão e Marcílio Dias, o técnico acertou as pontas do Marreco, que vinha de um conturbado Campeonato Catarinense. Neste domingo, 16, ele enfrentará uma equipe pela qual atuou como atleta e da qual foi rival como treinador: o Hercílio Luz, pela segunda fase da Série D.
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Foram cinco equipes como jogador e 14 como técnico até chegar em Brusque, mas já compartilhava de uma atividade importante: a indústria têxtil. Waguinho possuía uma confecção, na qual produzia roupas em jeans e outras malhas. Foi com uma crise grave no setor e com o furto de todos os seus equipamentos que o ex-jogador acabaria começando a superar as mágoas com o futebol e iniciou a carreira de técnico.
O meia direita
Wagner Santos de Souza Dias nasceu em Sumaré (SP), município da região de Campinas que possui atualmente cerca de 250 mil habitantes. Após se destacar em um campeonato no município, chegou ao time sub-17 da Ponte Preta. Era um meia direita. “Eu era bom, tinha velocidade, era meio fominha. Não tinha a habilidade do Jefferson Renan, por exemplo”, brinca, referindo-se a um de seus principais jogadores no Brusque.
Foi na Ponte Preta que Waguinho se profissionalizou, e onde teve a orientação de grandes jogadores da história da Macaca, como Juninho Fonseca, zagueiro convocado à Copa do Mundo de 1982. Viu ali a importância de haver líderes dentro de campo, e tenta encontrá-los pelas equipes que passa. No quadricolor, ele elenca o capitão, Zé Carlos, além do zagueiro Magrão e do meia Thiago Alagoano.
A sequência da carreira não foi o que ele imaginava no começo promissor na ponte. Esteve vinculado à Macaca de 1980 a 1987, quando o Mogi Mirim comprou seu passe, mas já não atuava pelo clube desde 1985, sendo emprestado frequentemente. Passou por Rio Branco de Americana (SP), XV de Piracicaba, Mogi Mirim, e até mesmo no Hercílio Luz, em 1987. Depois de uma passagem pelo Bragantino e um retorno ao Rio Branco, se aposentou em 1993, com apenas 30 anos, por causa de uma lesão no púbis considerada grave para a época.
Hiato
Em 1994, Waguinho Dias abriu sua própria escolinha de futebol, a Fome de Bola, após sugestão de Dicá, grande ídolo da Ponte Preta. “O nome é porque eu era muito fominha”, ri.
Paralelamente à carreira, Waguinho possuía sua confecção em Sumaré, com mais de 30 empregados, que foi completamente perdida em 1996, três anos após a aposentadoria dos gramados, com um grande furto.
A atividade mais próxima do futebol que o sumareense praticava era administrar sua escolinha e comandar os garotos. Frustrado com a carreira de jogador, sequer assistia a jogos.
O técnico
A carreira de técnico começou em 1999, após uma insistência imensa por parte do União Barbarense, de Santa Bárbara d’Oeste, a 30 quilômetros de Sumaré. Partidas entre a Fome de Bola e equipes da base do clube terminaram com vitória da equipe de Waguinho Dias.
A ascensão ocorreu com grandes campanhas e atuações dos times sub-15 e sub-20 do União Barbarense, comandados em períodos diferentes. O bom desempenho chamou a atenção de Corinthians e São Paulo, para que Waguinho Dias fosse o técnico do sub-15.
“Eu já havia deixado tudo apalavrado com o São Paulo, mas no caminho de volta para casa, o Guarani havia me ligado com uma proposta, e eu deveria ir até Campinas, que fica quase no caminho entre São Paulo e Sumaré. Aceitei o Guarani, por questão logística e também por pedido da minha esposa”, lembra.
Como técnico sub-15 do Guarani, em 2000, houve bastante pressão e até xingamentos por parte da torcida, afinal o início de Waguinho no futebol está ligado ao arquirrival do Bugre, a Ponte Preta.
A carreira de treinador de Waguinho ficou marcada por bons trabalhos em pequenos clubes. O maior deles foi o Guarani, que sofreria com muitas quedas e problemas financeiros, principalmente a partir dos anos 2000. Chegou também a ser coordenador técnico, atuando em um cargo de gestão, e também auxiliar-técnico e treinador das categorias de base.
O atual técnico do Brusque também passou pelo Rio Branco, onde atuou como jogador e foi técnico com uma proposta irrecusável. “O Neto [ex-jogador de Guarani e Corinthians, atualmente apresentador e comentarista esportivo] era o diretor de futebol, e pra ele foi difícil entender como eu poderia deixar o Guarani para um time melhor. E também, ele é um cabeça-dura do c******”, explica, em tom de brincadeira.
Ao longo dos quase 20 anos de carreira, Waguinho também passou por Atlético Sorocaba (SP), Sumaré (SP), Santa Rita (SP), Portuguesa Santista, Operário (MS), Audax Rio, Galícia, Inter de Lages, Atlético Tubarão e Marcílio Dias.
Uma das poucas ressalvas que Waguinho faz em relação à sua carreira de treinador está ligada às decisões. No entanto, não tem arrependimentos marcantes sobre os rumos que sua vida tomou.
“Muitas vezes eu não tinha ninguém para me auxiliar, não tinha um empresário. Então talvez, em alguns momentos, eu poderia ter esperado um pouco mais, uma proposta de clube maior enquanto estava em boa fase… As coisas aconteciam rápido, eu tinha que tomar decisões.”
Brusque
Waguinho Dias esperava uma ligação do Brusque para assumir a equipe já no Campeonato Catarinense de 2019. Ele havia deixado o Marcílio Dias após o acesso à elite estadual, e estava em Sumaré. Se surpreendeu com o anúncio de Paulo Baier.
“Quase ao mesmo tempo, o Marcílio entrou em contato querendo acertar para o estadual. Então eu aceitei, e acabamos fazendo aquela ótima campanha.”
Antes do fim do estadual, houve ainda conversas com a diretoria do Criciúma para uma transferência. Waguinho quis encerrar a primeira fase para decidir se continuaria para eventuais semifinais ou se fecharia acordo com o time do Sul do estado. O Marcílio não passou adiante, o Criciúma contratou Gilson Kleina, e para Waguinho veio a proposta do Brusque.
Então, o técnico fez acordo verbal para um retorno ao Tubarão, mas como o clube havia sido salvo do rebaixamento no Catarinense, a diretoria se comprometeu em manter o técnico Luizinho Vieira.
A visão dos adversários no estado sobre o clube não é das mais positivas. Waguinho já havia escutado de atletas e dirigentes nos clubes pelos quais passou que o Brusque “era um time difícil de jogar, mas que havia apenas um time, e não o resto.”
Além do reforço no marketing e na comunicação com o torcedor com novos canais, Waguinho também tem a responsabilidade pela vinda de um analista de desempenho, que analisa com profundidade os adversários do Brusque.
Até mesmo vídeos com os melhores momentos de cada atleta do próximo adversário ficam disponíveis, assim como diferentes jogadas ensaiadas de escanteio e falta. Relatórios escritos com pontos fortes e fracos da equipe são enviados semanalmente, e o material completo lembra os aclamados games de futebol. Estatísticas das partidas também são colhidas, e auxiliam o técnico a corrigir determinadas situações de jogo e a dar focos específicos no trabalho.
“Eu vim com o intuito de ajudar este clube dentro e fora de campo. Alguns amigos me falaram que eu poderia fazer isto, porque existe o apoio da Havan, um time bom, uma cidade com potencial de atrair torcedores… É para isto que vim. Entendi que seria um bom momento, ficar por um ano em um clube como este.”
Fala, Waguinho!
Clube que mais marcou a carreira de treinador
“Tubarão. Foi um progresso muito grande, com crescimento do clube, da torcida, com bandeirão e música para mim. E pela intensidade da experiência, por responder pelo clube como coordenador também, pelos oito anos, o Guarani.”
Melhor jogador que treinou
“Thiago Ribeiro [ex-Cruzeiro, Cagliari e Santos]. Lancei ele nos profissionais quando treinava o Rio Branco, de Americana. Ele era demais.”
Estrutura do Brusque
“Hoje o Brusque não tem estrutura física. Não possui estádio, sede própria. Tem o CT, que é muito importante e dá condições razoáveis de treino. A academia é boa, mas terceirizada, longe de outras estruturas. A fisioterapia fica na Arena, o jogador fica sem o contato diário, sem a comunicação ideal. Eu já sabia de tudo isso. Não tem um refeitório, não há um acompanhamento dos jogadores. No Tubarão, havia nutricionista, chef de cozinha e refeitório, com refeições de acordo com as necessidades do atleta. E o principal é a questão do estádio. Treinamos pouco aqui [no Augusto Bauer]. Não é um campo neutro, mas também não é nosso, não é a casa.”
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Ponto forte
“A equipe já está entrosada, se conhece, o pessoal se gosta. O ambiente no vestiário é muito legal, o nível dos treinamentos é muito forte. E temos pontos muito fortes principalmente no lado direito, com o Edílson e com o Jefferson Renan. Poucos clubes do Brasil têm um jogador como o Jefferson Renan. E temos o Júnior Pirambu, um goleador, um artilheiro. No meio-campo, precisamos ter um setor de marcação melhor ainda.”
Comunicação
“Quando eu estava no Tubarão e queria informações sobre o Brusque, não havia nada. Era muito difícil. Víamos alguma coisa no jornal. Quando cheguei, trouxe práticas que eram utilizadas no Tubarão e no Marcílio para atingirmos um grande público.”
Torcida
“Essa questão da comunicação limita a relação da torcida com o clube, que fica sem saber o dia a dia do clube, quem está lesionado, por exemplo, quem chegou, quem saiu. O torcedor fica sem conhecer bem o time. Com o elenco tendo várias mudanças a cada três meses, pode ter gente que conhece só o Neguete e o Cleyton, que estão há mais tempo, ou o Dida. O torcedor acaba ficando afastado, esfriado. Tenho pedido para a torcida entender o momento do clube, a causa, este crescimento do Brusque enquanto clube.”