Em quatro anos, cerca de 3,5 mil moradores de Brusque deixaram de ter plano de saúde
Dados da ANS apontam que setor encolheu junto com a crise econômica
Dados da ANS apontam que setor encolheu junto com a crise econômica
Levantamento feito por O Município na base de dados da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) mostra que a quantidade de beneficiários de planos de saúde na cidade caiu 11,43% de 2014 até setembro de 2017, número mais recente disponível.
De acordo com a pesquisa, em 2014 havia, somente no município, 29.348 beneficiários de planos. A quantidade sofreu uma queda e, em setembro de 2017, o contingente já era de 25.993.
Os números revelam que de 2008 a 2014 a quantidade de usuários de planos de saúde manteve-se perto da casa dos 30 mil. No entanto, a partir de 2015 a quantidade caiu gradativamente.
O maior decréscimo aconteceu de 2015, quando havia 28.823 beneficiários em Brusque, para 2016, ano em que a quantidade despencou para 25.897. Já de 2016 para 2017 houve um leve aumento, todavia, ainda tímido e insuficiente para reverter o cenário que começou a se desenhar em 2014.
A queda no número de usuários no município coincide com o ano em que a crise econômica chegou mais forte. Em 2015 os indicadores econômicos atingiram níveis piores, o que, por consequência, levou muita gente ao desemprego.
Os números se referem ao mercado de seguros de saúde como um todo. Por exemplo, o Hospital Azambuja – o principal da cidade – aceita Agemed, Bradesco Saúde, Postal Saúde, SC Saúde, Sintimmmeb Saúde e Unimed.
A Unimed é a principal operadora da cidade e conta, aproximadamente, com 18 beneficiários neste momento. Segundo o gerente geral Guilherme Gamba, a cooperativa do município também sentiu uma queda no número de beneficiários de 2014 a 2017.
Gamba afirma que a redução foi compatível com o que se viu no cenário nacional. Em 2014, um quarto da população brasileira chegou a ser assistida por um seguro de saúde. Eram cerca de 50,3 milhões de usuários da saúde suplementar.
Assim como no país, a Unimed de Brusque sentiu o reflexo da economia em crise. Paulo Roberto Webster, vice-presidente da entidade, analisa que o número de beneficiários caiu porque o desemprego cresceu.
“Muitos julgaram que o plano de saúde era algo supérfluo”, diz o vice-presidente. Gamba explica que 73% da carteira de clientes da Unimed local é formada por empresas, portanto, quando demitem, cai o volume de beneficiários.
Recuperação
Segundo Gamba, a Unimed já tem registrado aumento na carteira de clientes, na área não só de Brusque, mas também de Guabiruba, Botuverá, Nova Trento, Canelinha, São João Batista e Major Gercino. De 2016 para 2017, o acréscimo foi de 0,6%. A retomada corrobora o que está na pesquisa da ANS.
O caminho para a recuperação perpassou por uma estratégia da operadora: os microempresários. A operadora passou a ofertar planos também para os Microempreendedores Individuais (MEI), como pessoa jurídica. Segundo o gerente da cooperativa, o resultado tem sido bastante positivo.
Outra ação que resultou no crescimento da Unimed foi a expansão da sua área de atuação. A cooperativa passou a atender São João Batista, Nova Trento, Major Gercino e Canelinha no fim de 2016. Isso ajudou a compensar a queda em Brusque.
A Agemed chegou a Brusque em 2015. Segundo o gestor comercial, Roni Nelson Santos Júnior, desde então a empresa registrou crescimento. Em 2017, foi de 58% na região de atendimento – que inclui os mesmos municípios da Unimed, mais Ilhota.
“A Agemed não registrou queda no número de beneficiários na cidade. A empresa chegou a Brusque em 2015 e vem crescendo de forma contínua”, afirma o gestor comercial.
Expectativa
Unimed e Agemed são unânimes ao afirmar que o cenário é de otimismo para este ano. A economia local voltou a gerar empregos. Segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), no primeiro trimestre deste ano foram geradas mais 2.088 vagas na cidade.
“O cenário é positivo. Os indicadores econômicos apresentam leve melhora e há expectativa de retomada na geração de empregos”, avalia o gestor comercial da Agemed no município. Segundo ele, a unidade passará, inclusive, por uma ampliação a partir do mês que vem, o que demonstra a confiança numa melhora.
Webster vai na mesma linha. Segundo ele, a perspectiva é boa para a Unimed. A expectativa é que a oferta de planos para MEIs e pequenas empresas continue a dar certo.
Gamba diz que a Unimed também tem sentido que, nos últimos tempos, os usuários estão reconhecendo quem atende bem. Ele avalia que, cada vez mais, os clientes olham os indicadores da ANS, onde, conforme ele, a cooperativa está bem posicionada.
O secretário de Saúde de Brusque, Humberto Fornari, diz que o contingente de pessoas que deixaram de ter plano desde 2014 foi absorvido pelo SUS, mas com dificuldades.
Segundo Fornari, esse aumento na quantidade de pessoas atendidas pelo SUS foi sentido. O secretário de Saúde já foi diretor da Unimed e, com essa experiência, avalia que o contingente de beneficiários era maior em 2014, quando cerca de 23% da população tinha seguro.
“Apesar de todos os esforços da prefeitura na área da Saúde, continua a mesma demanda”, diz Fornari. Em outras palavras, segundo o secretário, foram contratados mais médicos, mas, mesmo assim, as filas continuam. Para ele é reflexo do aumento da quantidade de pacientes no sistema público.
“Drena tudo para o SUS. Mesmo com todos os esforços, parece que o município não está fazendo nada”, avalia o secretário de Saúde. A pretensão dele é investir mais na parte de exames, para desafogar esse gargalo. Planeja também aumentar o número de profissionais e de Estratégias de Saúde da Família (ESF) quando a disponibilidade financeira permitir.
O levantamento da ANS revela que Guabiruba e Botuverá foram na contramão do país e registraram alta no período de 2014 até setembro de 2017. No primeiro município, o crescimento foi de 7,28%, e no segundo, 35,27%.
Havia 2.334 beneficiários em Guabiruba no ano de 2014. Já em setembro último, a cifra subiu para 2.504. Em Botuverá, o crescimento foi ainda mais expressivo: de 272 para 375.
Para o gerente geral da Unimed, o cenário pode ser explicado, em parte, pela estratégia da cooperativa de focar nos MEIs e pequenas empresas. Nessas duas cidades há muitas confecções e negócios menores que antes não tinham acesso à saúde suplementar.
A chegada da Agemed também pode ter contribuído para este crescimento exponencial. A empresa atua nas duas cidades a partir de Brusque.