Em reunião do DC, Rodrigo Voltolini negou que atuou para incriminar Jocimar dos Santos; ouça áudios
Postura de Voltolini na reunião após prisão de Jocimar foi questionada durante fase de depoimentos da comissão que investiga caso
O áudio da reunião entre membros do diretório do Democracia Cristã de Brusque, realizada após a prisão do vereador afastado Jocimar dos Santos (DC), foi anexado aos autos da comissão processante que investiga o caso na Câmara de Brusque. No encontro, o hoje vereador Rodrigo Voltolini (DC), na época diretor-geral do Zoobotânico, negou os rumores de que arquitetou um esquema para incriminar Jocimar.
A data em que a reunião foi realizada não está esclarecida, mas ocorreu no final do ano passado, ou seja, logo após a prisão do vereador afastado. Posteriormente, a defesa de Jocimar passou a acusar Voltolini, o suplente Eder Leite (denunciante) e a companheira de Eder, Maria Silvana Fugazza, de armarem a prisão em flagrante do vereador afastado.
A reunião foi mencionada em vários momentos durante a fase de depoimentos da comissão processante. A defesa de Jocimar questionou o fato de Voltolini ter justificado, já naquele momento, que não se envolveu em uma armação. A reunião, de 40 minutos, foi gravada em áudio pela secretária do partido, Fabiana Gascoin, sob consenso dos participantes.
O vereador Natal Lira (presidente municipal do DC), Voltolini e Daniel da Maia Bueno (presidente municipal do Cidadania ligado a Jocimar) foram os participantes da reunião que mais falaram. Próximo à metade do encontro, Voltolini disse que estava “lidando com uma situação bastante delicada” em meio aos rumores de que atuou para prejudicar Jocimar.
O grupo presente no encontro depositou confiança em Voltolini, que estava prestes a assumir o cargo de vereador com a determinação da Justiça pelo afastamento de Jocimar da Câmara. Posteriormente, alguns membros do partido relataram estranheza nas falas de Voltolini quando prestaram depoimento à comissão processante.
Rodrigo Voltolini: “Eu estou lidando com uma situação bastante delicada e complicada. O Eder tem vindo todos os dias no Zoobotânico (…) A esposa do Eder Leite trabalha comigo. Ela é minha subordinada (…) Tem alguns boatos, enfim, de que estou metido nisso. Vocês podem ter certeza, não tem uma vírgula ou um grão de mostarda que eu tenha mexido para que isso acontecesse”.
Em diversos momentos, os membros do DC defenderam Jocimar. Uma das participantes disse que os filiados tinham que defender o vereador afastado quando falarem sobre a prisão com outras pessoas. Outro membro do DC afirmou que mantinha a confiança em Jocimar mesmo após ele ser preso.
“Sempre falamos que o DC é uma família. Não é agora que aconteceu este episódio que vamos pular do barco”, defendeu Natal Lira. Além disso, o presidente do DC de Brusque pediu para que os filiados do partido seguissem realizando o trabalho na prefeitura com qualidade e para cuidarem com as coisas que falam.
O DC é um dos partidos aliados ao governo do prefeito André Vechi (PL). O chefe do Executivo, inclusive, foi eleito pela sigla. Com o apoio do DC na eleição de Vechi em 2023, diversos membros do partido passaram a ocupar cargos na prefeitura. Fabiana Gascoin (DC), por exemplo, é secretária de Desenvolvimento Social, um cargo do alto escalão do governo.
Voltolini se defendeu em mais de um momento da reunião. Quando o encontro se encaminhava para o fim, ele novamente negou que atuou para incriminar Jocimar e foi advertido por Daniel Bueno.
Rodrigo Voltolini: “Tem muita gente comentando, como defesa… O Jocimar… Que eu articulei ao Eder…”
Daniel Bueno: “Oh Rodrigo… Esse tipo de comentário vai ter. Não falaram só de ti, falaram de todo mundo”.
Voltolini: “Hoje eu vi uma pessoa comentando que, 100%, foi o André [Vechi, que incriminou Jocimar]”.
Daniel: “Sim, já teve esse tipo de comentário. Tipo assim… De todo tipo de pessoa. Todo mundo já foi acusado. Todo mundo já foi acusado de alguma coisa”.
Voltolini também disse que não iria sair do DC e que queria alavancar o partido em Brusque. “O DC não pode morrer”, defendeu. O então diretor-geral do Zoobotânico falou que, caso fosse convocado, iria assumir a vaga de vereador no lugar de Jocimar, o que acabou acontecendo.
Ele reforçou que o ato de assumir a vaga de Jocimar na Câmara não era “trairagem”, mas que ocuparia a cadeira por ser primeiro suplente do partido. Voltolini recebeu apoio do grupo naquele momento.
Revelação à comissão processante
Em depoimento à comissão processante em janeiro, semanas após a reunião do DC, Voltolini informou que sabia que Jocimar queria “repartir salário” de Eder Leite antes de o vereador afastado ser preso. A companheira de Eder, Maria Silvana, é quem informou a Voltolini o interesse de Jocimar em repartir o salário.
Conforme o depoimento, Voltolini disse que não concordava com a divisão de salário proposta por Jocimar a Eder, e revelada a ele por Maria Silvana. “Falei que não concordava, que não acharia legal, [esperava] que eles (Eder e Maria Silvana) se resolvessem”. O presidente da comissão, vereador Nik Imhof (MDB), pediu detalhes da conversa.
“Tratei como algo sigiloso, pois ela me pediu. Antes que o Richard [Olivette, advogado de Jocimar] pergunte: ‘por que você não denunciou?’… Muita gente vem falar, ‘ah, o Jocimar fez isso ou fez aquilo’. Quem me falou não foi o Eder, foi a mulher dele. Não que estou desconfiando, mas, como ela pediu sigilo e eu não sabia se era verdade… Fui para o Zoobotânico para trabalhar”, justificou.
O advogado de Jocimar, Richard Olivette, perguntou qual era a relação entre Voltolini e Maria Silvana no Zoobotânico. O vereador e ex-diretor-geral do parque relatou que os dois quase não conversavam. O advogado seguiu questionando a intimidade dos dois a ponto de “contar segredos”, conforme argumentou.
Richard ainda perguntou sobre uma declaração de Voltolini ao jornal O Município após a prisão de Jocimar, em que ele declarou que ficou surpreso quando foi informado do crime e da prisão do então vereador.
No momento da pergunta, o advogado alegou que Voltolini se contradisse, pois falou à comissão que tinha conhecimento prévio da divisão de salário, o que, na visão de Richard, não haveria motivo então para ser surpreendido. Voltolini respondeu: “A minha surpresa [que falei ao jornal] foi sobre a prisão do Jocimar”, justificou. “Não tenho intimidade nenhuma com ela (Maria Silvana)”, garantiu.
Prisão de Jocimar
Jocimar foi preso em flagrante no dia 30 de novembro pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) por suspeita de rachadinha. A prisão aconteceu em frente ao Banco do Brasil, no Centro I, enquanto recebia parte do salário do suplente que ocupava o mandato provisoriamente, Eder, pois Jocimar estava licenciado do cargo.
Posteriormente, foi divulgado que Eder denunciou o caso ao Ministério Público de Santa Catarina (MP-SC) dias antes da prisão. Jocimar é o terceiro vereador preso durante o mandato na história de Brusque. Ele foi solto no dia seguinte após pagamento de fiança e afastado do mandato por ordem da Justiça.
Desde então, Jocimar optou pelo silêncio, até se manifestar cerca de 20 dias após prisão. Eder, ainda quando ocupava o mandato, apresentou o pedido de cassação de Jocimar, aprovado pelo plenário da Câmara. Assim, foi formada comissão processante que analisa a denúncia.
Após o período de licença de Jocimar, Eder deixou o cargo. Em razão do afastamento, o primeiro suplente de vereador pelo DC, Voltolini, assumiu a cadeira de Jocimar na Câmara por tempo indeterminado. Na primeira entrevista que concedeu à imprensa depois do episódio, Jocimar se defendeu. “Fui envolvido em um golpe terrível para destruir a minha imagem”, disse.
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