Em um mês, Covid-19 quase iguala número total de casos da epidemia de H1N1 em Brusque
Em 2009, Brusque registrou 65 casos confirmados da chamada "gripe suína"
Em 2009, Brusque registrou 65 casos confirmados da chamada "gripe suína"
Em abril de 2009, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarava pandemia da gripe A H1N1. Mais de uma década depois, o mundo todo revive esse cenário, porém, de forma mais intensa.
Há 11 anos, o H1N1 não chegou a parar a economia mundial como o novo coronavírus, mesmo tendo atingido mais de 200 países entre 2009 e 2010. De acordo com a OMS, em quase 16 meses da “gripe suína”, foram mais de 493 mil casos confirmados e 18,6 mil mortes.
Em Brusque, de acordo com dados do sistema Datasus, do Ministério da Saúde, foram registrados 65 casos de gripe A H1N1 durante a pandemia. Em junho de 2009 foram contabilizados os dois primeiros casos, em julho foram confirmados seis, em agosto, pico da doença no município, foram 48 casos positivos da “gripe suína”, em setembro, sete, e em outubro dois casos.
Por outro lado, a Covid-19, doença causada pelo novo coronavírus, no primeiro mês já quase igualou os números da H1N1 em Brusque. O primeiro paciente positivo infectado com o coronavírus na cidade foi confirmado no dia 27 de março. No dia 27 de abril, a prefeitura informou o 49º caso positivo.
O médico infectologista da Prefeitura de Brusque, Ricardo Freitas, afirma que a diferença nos números da H1N1 e do coronavírus no município pode ser explicada, principalmente, por três fatores.
O primeiro é a taxa de transmissão. Diversos estudos já demonstraram que a Covid-19 é muito mais contagiosa que a gripe A H1N1, subtipo da influenza. Os dois vírus são transmitidos da mesma forma: por meio de tosse, espirros ou pelo contato direto com uma pessoa infectada e com secreções respiratórias.
Porém, segundo a OMS, na época da pandemia, uma pessoa com H1N1 era capaz de infectar de 1,2 a 1,6 pessoas. Já um paciente com coronavírus pode infectar, pelo menos, 2,79 pessoas, segundo estudo do Centro de Controle e Prevenção de Doenças da Europa.
“É fato que o coronavírus é muito mais contagioso que a H1N1”, destaca o médico.
Outro fator que o infectologista aponta como grande diferença entre a pandemia de H1N1 e de coronavírus é o fato de que na primeira, já havia medicamentos antivirais para combater o vírus da gripe comum.
Lá em 2009, dois antivirais foram utilizados para tratar o H1N1: o oseltamivir, mais conhecido como Tamiflu, e o zanamivir. Esses dois medicamentos já haviam sido aprovados pelas agências reguladoras americanas e europeias em 1999 e 2006, respectivamente.
Quando a epidemia chegou, não havia evidências científicas que esses medicamentos funcionariam para tratar o H1N1. O Tamiflu começou a ser aplicado em casos mais graves da doença e só mais tarde é que estudos clínicos comprovaram a eficácia da droga para o vírus.
No caso do coronavírus, estão sendo testados medicamentos que são usados para tratamento de outros vírus. Também há a hidroxocloroquina e a cloroquina, que são usadas para pacientes mais graves, porém, sua eficácia ainda não foi comprovada.
A terceira grande diferença apontada pelo médico é a vacina. A pesquisa de uma vacina que protege contra a Covid-19 está avançando rápido, porém, até ser confirmada a eficácia e segurança, ainda leva tempo. O infectologista acredita que uma vacina deve surgir em, pelo menos, 12 meses.
Por outro lado, em 2009, já havia uma vacina contra outro tipo de influenza, foi preciso apenas adaptar para o subtipo H1N1. A pandemia foi declarada em abril de 2009 e em novembro do mesmo ano a vacina começava a ser aplicada.
“A H1N1 tinha já um medicamento disponível e em pouco tempo foi desenvolvida a vacina, e isso ajudou a controlar a pandemia. Agora, não temos um medicamento disponível e o vírus é mais transmissível. Acredito que essas são as principais diferenças entre uma epidemia e outra. Por isso, o impacto do coronavírus é bem maior do que da H1N1 não só em Brusque, mas em todo o mundo”.