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Emoção e fé marcaram a primeira apresentação do espetáculo Paixão e Morte de um Homem Livre

Peça levou 4 mil pessoas ao pátio da Igreja São Cristóvão, no bairro Aymoré, em Guabiruba

“Meu filho, podes estar entre milhares de pessoas que eu ainda te reconheceria. Sou tua mãe, esquecestes disso?”.

Nas passagens bíblicas, a mãe do menino Deus é presença silenciosa. Recebe a visita de um anjo, concebe uma criança em seu ventre pelo Espírito Santo, vê nascer o salvador em meio a uma estrebaria, rodeado de animais, pastores e reis magos guiados pela estrela. Pouco tempo depois, perde o filho por três dias e o reencontra no templo, entre doutores e profetas. Vivencia milagres: água transformada em vinho, pães multiplicados, doentes e a cura esperada. O menino cresce e fala do amor de Deus. Confunde os poderosos, irrita os governantes, desafia os sacerdotes. Sem culpa, morre na cruz. E Maria continua lá, de pé.

Pode existir dor maior para uma mãe do que a perda de seu filho? O espetáculo Paixão e Morte de Um Homem Livre, na edição de 2017, contou com muita sensibilidade o exemplo mais arrebatador da fé cristã: a confiança de Maria em Deus diante da morte do seu filho salvador pela mão dos homens. E apesar da música de abertura dizer que Maria marcha na frente de seus filhos, a impressão é de que ela caminhou ao lado de todos enquanto contava a história de Jesus…

Nesta quinta-feira, 13, às 21h, no pátio da Igreja São Cristóvão, no bairro Aymoré, em Guabiruba, foi realizada a primeira apresentação do espetáculo Paixão e Morte de Um Homem Livre. Promovido pela Associação Artístico Cultural São Pedro (AACSP), o evento chegou a sua 21ª edição com números expressivos: mais de 400 voluntários entre atores e equipe técnica e um público formado por quatro mil pessoas.

“Estamos felizes com o sucesso desta primeira apresentação. Foram 350 atores no palco que conseguiram nos surpreender. Fica esse desejo que estas quatro mil pessoas que assistiram o teatro levem a mensagem de Jesus e tenham uma Páscoa diferente e abençoada”, afirmou o presidente da Associação Artístico Cultural São Pedro, Marcelo do Nascimento.

Segundo ele, a edição de 2017 permitiu vivenciar uma emoção diferente. Depois de 20 apresentações no palco, é a primeira vez que Nascimento assume a coordenação do projeto. “Comecei como soldado romano em 1986. E nas últimas três edições interpretei sumos sacerdotes. Ser presidente da Associação é uma responsabilidade enorme, mas vou levar esta experiência como ensinamento para me dedicar com mais afinco quando voltar aos palcos nas próximas edições”, observou.

“Um marco na história do Brasil”
Apesar do teatro contar a vida, morte de ressurreição de Jesus, através da narração de sua mãe, Maria, muitos dos holofotes se direcionaram para a participação especial do ator global Francisco Cuoco. Ele deu vida ao sumo sacerdote Neftali, um dos incentivadores da flagelação e crucificação de Jesus.

No palco, Francisco Cuoco viveu o personagem em plenitude, sempre preocupado que os quatro mil expectadores pudessem apreciar sua participação. Por vezes lançava a túnica sobre os ombros, para que o rosto e a barba branquinha ganhassem evidência. Mesmo quando não havia fala, ele estava absolutamente conectado na cena, através de gestos e expressões.

Ao final do espetáculo pôde conversar um pouco com a platéia e, mais uma vez, contribuiu com o propósito de evangelização do projeto.

“Eu me sinto abençoado por ter participado deste espetáculo lindo que envolveu toda a cidade e com a participação de vocês. Isso mostra como a fé é determinante e como ela existe em nossa vida”, avaliou.

O ator também falou sobre o que viu em Guabiruba: crianças e adultos trabalhando arduamente por esta realização “dando seu coração e alma por uma história linda que aconteceu no passado e que nos acompanha até hoje. Eu jamais poderia imaginar que depois de tanta novela, de tanto teatro, a esta altura da minha vida, receberia um prêmio deste, com a presença de vocês. Este espetáculo é um marco na história do Brasil”, descreveu.

Para Cuoco, foi uma alegria dividir o palco com centenas de atores voluntários, que classificou como “elenco admirável” porque trabalham com amor e doação total e interpretam cada cena com muito carinho para compor um grande espetáculo.

“Tenho certeza que todos levarão esta fé imensa no coração e um otimismo incrível diante de tantas coisas que vemos. Desejo que essa esperança indômita nunca morra no coração de vocês e que as pessoas que não puderam estar presentes, que alcancem bênçãos através de vocês”, enfatizou.

Deus no comando
O diretor do espetáculo, Marcelo Carminatti, tem um envolvimento muito especial com o projeto. Além de ser um dos fundadores da iniciativa em 1986, no bairro São Pedro, em Guabiruba, ele também interpretou Jesus naquele ano. “Mesmo sendo baixinho e moreno”, brincou, ao recordar.

Até 2007 ele escrevia, dirigia e atuava. Em 2009, por determinação da diretoria da Associação Artístico Cultural São Pedro, apenas escreveu e dirigiu, sem dar vida a nenhum personagem. “O espetáculo começou a crescer muito e era preciso focar na direção. Eu não vejo nenhum problema em estar no palco, porque no dia da apresentação o diretor não faz nada”, afirmou Carminatti, demonstrando avidez e versatilidade.

Mas, nesta Quinta-Feira Santa, enquanto o espetáculo acontecia, o diretor não sossegava. Nos bastidores, retocava a maquiagem dos personagens, se encolhia na frente dos palcos para filmar com o celular algumas cenas, conversava com a imprensa, entre outras atribuições.

Nas apresentações de 2011, 2013 e 2015, Carminatti não se envolveu com o espetáculo. E recebeu o convite para ser novamente diretor do projeto no decorrer de 2015. “Foi um susto. Estava habituado com um sistema de trabalho até 2009, quando era diretor e também presidente da Associação. Quando voltei, o teatro estava diferente e havia se estruturado de outras formas. Em 2009 eu conhecia todo mundo e tinha cerca de 200 voluntários. Agora, esse número dobrou. Mais do que isso, muitos atores experientes, que tem voz marcante, assumiram a diretoria e precisaram ser substituídos. Foi um desafio”, confessou.

Para servir como fundamento na construção dos personagens que tem fala, Carminatti iniciou uma pesquisa em setembro de 2015, concluída dois meses depois. Ao todo, 64 pesquisas foram entregues. “Cada ator recebeu seu papel junto com a pesquisa do personagem. Os três reis, por exemplo, tinham nacionalidades diferentes. Sobre os sacerdotes tem uma pesquisa imensa. As mulheres também precisavam entender como uma mulher se comportava na época de Jesus. Elas não podiam ser usadas como testemunha porque eram consideradas, por natureza, mentirosas. Na ressurreição Jesus aparece primeiro para Madalena, mas Pedro não acredita nela e vai ver com seus próprios olhos. Então, quando Pedro fala, daí tem valor”, explicou o diretor.

Outra frente importante de trabalho nesta edição foi a reconfiguração dos figurinos. O Centro Universitário de Brusque (Unifebe), através do curso de Design de Moda, sob coordenação do professor Rodrigo Zen, foi responsável pela pesquisa do traje dos soldados. Já a roupa da realeza foi revisada pela dress designer Simone Gums e o traje dos sumos sacerdotes, incluindo o usado pelo ator Francisco Cuoco, foi desenvolvido pelo fashion designer André Francisco Dalsegio. Tudo gratuitamente.

“Na abertura dos trabalhos convidei Deus para estar no comando deste projeto. E tudo começou a dar certo. Fizemos dezenas de parcerias. A equipe saía para comprar algum material e recebia de graça. Isso é Deus que toca para aliviar o cansaço e para dizer que está prestando atenção na gente e no nosso trabalho. A previsão na semana passada era de chuva e até caíram algumas gotinhas durante a encenação desta Quinta-Feira Santa, mas foi possível continuar o espetáculo sem problema nenhum. Aconteceu tanta coisa, que só pode ser Deus”, revelou Carminatti, que faz lembrar a seguinte frase atribuída a Albert Einstein: “Existem apenas duas maneiras de ver a vida. Uma é pensar que não existem milagres e a outra é acreditar que tudo é um milagre”.

Os espectadores
Outra grandiosidade da peça foi a presença do público, que lotou o pátio da Capela São Cristóvão, no bairro Aymoré e prestigiou do início ao fim a encenação da história de Jesus. A supervisora de vendas, Rúbia Imhof foi uma das integrantes da plateia junto com toda a família: o marido, Daniel Xavier Imhof e os filhos Caroline, 7 anos, e Vinicius, de 13. O casal já havia assistido a peça há 16 anos, e voltou em 2017 com toda a família para conferir o espetáculo. “Ficamos impressionados quando chegamos aqui. A última vez que viemos era tudo mais simples, não havia cadeiras e nem a qualidade de som e iluminação que tem hoje”, relembra.

A família prestigiou o espetáculo a convite de um amigo voluntário da peça, e acredita que o sucesso e a beleza do teatro são ainda mais fortes pela motivação e crença de quem o realiza e de todos que o prestigiam. “Desde pequenos ensinamos os valores aos nossos filhos, e trazê-los pra cá foi uma forma também de mostrarmos a importância da fé para eles. Acredito que o Calvário de Jesus é o que nos motivou a assistir e se emocionar com esse grande espetáculo, feito com tanta dedicação”, comentou Rubia, que chegou a prestigiar também alguns ensaios da peça.

Quem também esteve no primeiro dia de apresentação foi o casal de Brusque, Valentin e Luciana Heil. A representante comercial chegou a ver a peça há oito anos e, em 2017 conseguiu adquirir os ingressos e garantir um lugar na plateia com o marido. “Esse ano finalmente conseguimos vir. Desde hoje de manhã estou emocionada, só pensando na beleza que é estar aqui e presenciar essa apresentação. Quem vem pela primeira vez, quer vir sempre e foi fantástico o que presenciamos hoje”, declarou Luciana. “É uma história que comove a todos e poder ver isso ao vivo, é fantástico, nos faz viajar para aquela época. Além disso, conhecemos a região e sabemos do capricho e dedicação das pessoas daqui, o que resultou nesse espetáculo magnífico. Parabéns a todos que fizeram parte desse espetáculo”, completou Valentin.

De outras regiões do estado
Mas não só de Guabiruba, Brusque e região foi formada a plateia da 21ª edição do espetáculo. Pessoas das mais variadas partes do estado marcaram presença na noite de quinta-feira, 13. Um delas foi Sandra da Silva, integrante de uma caravana de 39 pessoas, da cidade de Ibirama.

Após acompanhar a divulgação, o grupo não pensou duas vezes em prestigiar o teatro, narrado este ano por Maria, mãe de Jesus. “Vimos um vídeo de 2015, nos interessamos muito. Por tudo que acompanhamos de divulgação já ficamos emocionados e poder estar aqui foi maravilhoso. Saímos às 15h, viemos com calma, chegamos por volta das 20h, mas com certeza toda a viagem valeu muito à pena”, comentou.

O empresário Antônio Fraga também percorreu alguns quilômetros até o bairro Aymoré. Junto com a namorada e uma amiga do casal, eles vieram de Florianópolis, após receberem o convite de um amigo. Pela primeira vez também prestigiando a peça, ficaram surpresos com a apresentação. “Só pelos vídeos da outra edição já foi emocionante. Gostamos muito e vamos tentar vir mais vezes”, pontuou.

A segunda apresentação do espetáculo Paixão e Morte de Um Homem Livre acontece nesta Sexta-Feira Santa, 14, às 19h30 no pátio da Igreja São Cristóvão, bairro Aymoré, em Guabiruba. Os quatro mil ingressos para esta sexta-feira já estão esgotados.