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Empreender com sustentabilidade

Ariberto Staack está à frente da Aradefe, que aposta em modernização produtiva para garantir o crescimento ordenado


A Aradefe Malhas trabalha com a ideia de que somente expandir seu número de clientes ou de vendas não é o suficiente. Pelo contrário, sua gestão acredita que o crescimento não pode ser desenfreado, sem se preocupar com a sustentabilidade, tanto ambiental quanto financeira.

“A gente sempre trabalhou com muita transparência, nossos clientes nunca tiveram dúvida sobre nossos processos, sobre a qualidade do nosso produto”, ressalta Ariberto Staack, o Beto, que hoje comanda a empresa.

Sem planos de grandes expansões, a empresa, que produz mais de 160 produtos, como meia malha, helanca, malhas para lençol e camisetas, caminha para aprimorar cada vez mais os processos e a sustentabilidade.

“Trabalhamos não em cima de produção, mas em cima de qualidade e valor agregado”, explica. “Temos 33 teares e produzimos no máximo 200 toneladas no mês, que é pouco para essa quantidade de máquinas, justamente por esse fator”.

Aos 61 anos, o empresário afirma que sua meta, agora, é tornar a empresa cada vez mais sustentável. Quer modernizar o parque fabril e ficar sempre à frente no mercado.

Planeja, por exemplo, começar o processo de utilização de energia solar, por meio de placas fotovoltaicas, para serem utilizadas na produção. “É mais um caminho para diminuir a despesa e o custo fixo”, avalia.

Ronie Staack, um dos filhos de Beto, também atua na administração da empresa, e aponta a melhora constante no atendimento e a facilitação ao acesso de clientes iniciantes aos seus produtos como prioridade atual.

Segundo ele, a Aradefe tem investido em diversificação dos métodos de pagamento e de compras, para dar chance aos novos clientes de crescerem. Para isso, foi implementado, por exemplo, um setor exclusivo para atendimento online, onde são recebidos pedidos e tiradas dúvidas sobre os produtos.

Um dos diferenciais da empresa, por exemplo, é a venda de malhas em quantidades pequenas, a partir de três quilos, uma raridade neste mercado.

Para a empresa, dar atenção aos pequenos clientes faz com que eles cresçam mais rapidamente e, de forma direta, contribuam para o crescimento da Aradefe.

O empresário Ariberto Staack, o Beto, administra a Aradefe, fundada junto aos seus irmãos| Foto: Marcelo Reis

Do setor agrícola nasce uma grande empresa

A Aradefe completou 27 anos de existência em 2017. Seu surgimento, em 1990, se deve ao fato de que a família Staack buscava diversificar seus negócios. Na época era reconhecida em Brusque por atividades no setor agrícola, com beneficiamento de arroz.

Foi então que os três irmãos, Ariberto, Aderbal e Fernando, investiram no sonho, sendo que os dois últimos não são mais sócios da empresa desde pouco antes dos anos 2000. Aliás, o nome da empresa nasceu na junção da primeira sílaba dos nomes dos três irmãos.

No início, atuava de forma mais modesta, produzindo em média quatro toneladas por mês de meia malha e moletom, em quatro teares. Já nos primeiros meses, o bom desempenho os levou a abrir uma filial em Criciúma.

Aumentos do espaço físico da empresa ocorreram em 1996 e, posteriormente, em 2001. Em 2008, novas melhorias foram feitas, como a construção de depósito de 3,5 mil metros quadrados, para aumentar a capacidade de estoque de matéria prima.

Essa capacidade, aliás, é uma das marcas da empresa, pois proporciona mais segurança ao cliente quando há oscilação no mercado e escassez de produtos. Com um grande estoque, a Aradefe garante agilidade na produção de seus clientes.

Ariberto Staack conta que, antes de iniciar a empresa, atuou em dois ramos diferentes. Lá pelos 18 anos, na década de 70, começou a trabalhar na seção de peças da Copal, uma revenda da Ford. Em meados de 1975, seu pai começou a construir o engenho de beneficiamento de arroz, e ele decidiu ajudá-lo nesta empreitada.

Porém, algumas décadas depois eles perceberam que a indústria do arroz no município já caminhava para o declínio, tanto é que hoje praticamente não mais existem beneficiadoras, comuns nas décadas de 70 e 80.

“No fim dos anos 1980 já começou o declínio, tivemos que optar por um negócio ou outro e o que estava muito em evidência era o ramo de malhas”, explica Beto. “Tivemos que tirar recursos do engenho do beneficiamento de arroz para investir no têxtil”.

Os irmãos Fernando , Ariberto e Aderbal Staack iniciaram a empresa ao lado do pai, Hugo | Foto Primavera

Exigência de qualidade e financiamento próprio

Segundo os administradores, uma das marcas do empreendedorismo da Aradefe é cobrar de seus fornecedores o mesmo padrão de qualidade praticado na empresa.

Ela busca trabalhar somente com fontes de matéria-prima que correspondam ao seu padrão de atendimento.

“Trabalhar com prestador de serviço que não atua da mesma forma quebraria todo o contexto da nossa filosofia de trabalho, que é de sustentabilidade”, explica Ronie.

Beto Staack, por sua vez, destaca também a forma que a empresa se baseou para se manter firme, independente das turbulências da economia nacional.

“Crise econômica sempre existiu. É só contar quantos zeros nossa moeda já perdeu ao longo desses anos todos”, afirma. “O nosso sistema de trabalho foi sempre investir naquilo que a gente tinha de concreto. Em matéria financeira, a gente não partia para financiamentos”.

Apesar de ter 33 teares e capacidade maior, a empresa produz “somente” 200 toneladas de malhas por mês, para garantir mais qualidade ao produto | Foto: Divulgação

Segundo ele, em situação de crise se avizinhando, automaticamente a empresa “tirava o pé” dos investimentos, de forma a se manter financeiramente saudável até que os tempos melhorem.

“Esse acredito que tenha sido o segredo do sucesso, não gastar mais do que aquilo que você tem. Quem fica neste caminho com certeza nunca teve problema muito sério”, avalia o empresário. “Quem se precaveu nesta parte de não depender de dinheiro oferecido no mercado com juros absurdos está sobrevivendo”.

Além disso, a empresa evita o acúmulo de contas pagas sempre optando pelo pagamento à vista da matéria-prima, que é 90% importada. Assim, se evita adquirir o produto com o preço incerto, já que a mercadoria é cotada em dólar, cuja cotação pode variar bruscamente no futuro.

“Quando vai vender já tem o custo formado”, diz Beto. “Quando o pagamento é futuro, você não sabe quanto vai ser, e pode vender com prejuízo”.

A Aradefe registrou perdas em 2014 e 2015, mas o patamar de vendas e produção anterior à última crise já foi recuperado, sobretudo com ações para reduzir os custos, como a terceirização da tecelagem.

Hoje, a expectativa da empresa é de que a situação melhore gradativamente, e que o Brasil “saia do marasmo” a partir de 2019.

“A nossa região hoje é valorizada e atrai pessoas que querem investir em vários ramos, principalmente no têxtil, e trouxe para muitos a certeza de sucesso financeiro”, afirma o empresário, o qual cobra, no entanto, que o poder público faça sua parte para ajudar os empresários a crescerem.

“O poder público tem que dar segurança e educação aos filhos destas famílias que estão chegando. É um contexto em que se todos têm de trabalhar em harmonia”, conclui.