Empresa de Brusque fabrica casas modulares para penitenciárias
Unidades projetadas pela Irmãos Fischer serão instaladas em outras cidades do estado
Com o sistema prisional catarinense em situação de emergência, o governo do estado busca soluções mais rápidas e baratas para desafogar os presídios e penitenciárias. Uma das alternativas escolhidas pela Secretaria de Estado da Justiça e Cidadania (SJC) para o Complexo Penitenciário do Vale do Itajaí – mais conhecido como Canhanduba -, em Itajaí, foi o sistema modular de construção desenvolvido pela Irmãos Fischer, de Brusque.
A empresa brusquense entregou, em fevereiro, 14 casas para a penitenciária. Elas serão usadas no regime semiaberto, no qual o preso deve trabalhar e obrigatoriamente dorme na prisão.
O regime já existe há tempos, mas numa tentativa de humanizar o sistema prisional, as autoridades têm seguido a nova legislação. Ela determina que o apenado do semiaberto não pode dormir com um preso do regime fechado.
Esse novo posicionamento criou um problema para o estado, que se viu obrigado a criar mais vagas rapidamente. A Canhanduba, inaugurada há cinco anos, também sofre com superlotação, mas agora, com as novas casas produzidas em Brusque, o problema poderá ser amenizado.
Cada unidade entregue comporta 16 apenados. Elas contam com todo o sistema hidráulico e elétrico de uma residência normal. O gerente de atividades laborais do complexo penitenciário, José Sálvio Goulart, diz que a ampliação de 160 vagas do semiaberto garantirá mais espaço para os presos do regime fechado, já que o complexo é dividido em duas áreas. No presídio, devem ficar somente os presos do fechado; na penitenciária, os do semiaberto. Hoje, todos convivem, mas com a ampliação, serão separados.
“Vai desafogar o presídio. Vamos trazer os presos do semiaberto, que estão cumprindo pena no presídio, para a penitenciária”, afirma Goulart. Segundo o gerente de atividades laborais, essa mudança é importante porque significa mais controle e segurança para a administração do complexo. O objetivo, no entanto, é que a ampliação comporte melhor os presos que já estão na unidade, e não haja transferências de outras cidades para Itajaí.
Além das casas, a Fischer também construiu, no sistema modular, um parlatório para advogados, uma sala de visitas para familiares, quatro salas íntimas e uma sala de atendimento psicossocial.
Sistema gera economia ao governo
O modelo de construção modular empregado pela Fischer não é original, tampouco novo. A Toyota, no Japão, já o utiliza há mais de 50 anos, porém, na realidade do sistema prisional brasileiro, ele é uma solução nova e viável porque tem custo menor por vagas e é construído mais rápido.
De acordo com Goulart, uma vaga no regime fechado custa em torno de R$ 44 mil no sistema de construção convencional. Já no modular, o valor cai para entre R$ 8 e R$ 9 mil. “O sistema deles de construção tem praticidade. Depois de projeto aprovado, o tempo na fábrica e de montagem é bem rápido”, diz.
O tempo que levou para construir da primeira casa até a última casa foi 90 dias. Mas a montagem de uma unidade é mais rápida: em torno de 15 dias, segundo o diretor industrial da Irmãos Fischer, Norival Fischer.
O gerente de atividades laborais da Canhanduba ressalta que a manutenção do sistema modular é mais barata. “Nem pintura precisa, é lavável. Numa cela de concreto, os presos escrevem nas paredes e precisamos pintar. Nessas casas, é só lavar”.
Solução é exportada para várias unidades
O mesmo sistema modular de construção de casas para o semiaberto será – em alguns casos já foi – implementado em outras penitenciárias de Santa Catarina. De acordo com o diretor industrial da Irmãos Fischer, Norival Fischer, a empresa deverá atender, além da Canhanduba: Palhoça, Tubarão, Xanxerê, Araranguá e Ponte Serrada.
“Nenhum sistema prisional está preparado para a nova legislação do semiaberto. O apenado do semiaberto só pode dormir com pessoas que cumprem o mesmo regime. Eles devem ficar separados”, diz Norival.
O diretor é familiarizado com o sistema prisional porque faz parte do Conselho da Comunidade, que acompanha a Unidade Prisional Avançada (UPA) de Brusque. Ele avalia que são raras as unidades catarinenses que têm condições de atender todas as demandas do semiaberto.
O motivo, na visão de Norival, é que as exigências eram diferentes na época da criação do sistema prisional. Mas a agora a missão de mudar essa realidade é da Secretaria de Estado da Justiça e Cidadania.
Para ele, o ganho de tempo e a economia de dinheiro do sistema modular o colocam como uma alternativa viável. “No semiaberto, também existe essa alternativa de concreto, mas é um sistema caríssimo”, diz Norival.
“Hoje, avaliando o custo, é possível fazer três vezes mais no sistema modular do que no sistema normal de construção. No decorrer do tempo, faz cinco vezes mais. Eu tenho muito mais velocidade no processo construtivo, isso é uma característica do processo modelar”, afirma.
Flexibilidade permite vários tipos de construções
Por ser construído em módulos, o sistema construtivo que a Fischer empregou nas penitenciárias permite uma flexibilidade na construção. Como o próprio diretor industrial diz, “o céu é limite”.
Segundo Norival, é possível construir vários tipos de estabelecimentos com o mesmo sistema. Dentro do parque fabril da Fischer, há uma casa e um posto de combustíveis montados, por exemplo.
As construções são construídas com um sistema térmico e com paredes sólidas, por isso não se diferenciam das paredes de tijolos. O telhado também é feito de metal resistente. Segundo o diretor industrial, isso torna as casas mais resistentes ao clima.
De acordo com Norival, o mesmo sistema pode ser usado para construir creches, escolas e outros espaços públicos. O tempo de construção varia, mas fica em torno de 15 dias.