Empresa de Joinville é acusada de aplicar golpe em mais de mil pessoas pelo Brasil
Produtos comprados nunca chegaram e consumidores não conseguem contato com a loja
A Mundial Eletro, empresa de Joinville, está no centro de diversos processos judiciais de mais de 1,3 mil pessoas de vários lugares do Brasil. Os clientes acusam a empresa de aplicar golpes. As ações na Justiça variam entre violações do Código de Defesa do Consumidor e, segundo advogadas envolvidas no caso, acusações de estelionato.
A Mundial Eletro e Tecnologia Ltda foi aberta no dia 11 de julho de 2023, com o CNPJ 51.375.455/0001-22. Em consulta no site da Receita Federal, consta a sede sendo na rua Frontin, 128, no bairro Iririú. A reportagem de O Município Joinville foi até o endereço nesta quarta-feira, 22, mas, há cerca de duas semanas, foi aberto um novo negócio no local.
Clientes contam que os preços atraíram a curiosidade e que a desconfiança com os valores e a idoneidade do estabelecimento sumiram a partir de buscas na web. No site Reclame Aqui, uma das referências no assunto, a Mundial Eletro era muito bem avaliada, com nota 9,4, considerada ótima. Também havia avaliações positivas no Google e Google Maps.
Apesar de o CNPJ atual ter data de abertura em julho de 2023, no Reclame Aqui consta a informação de que a Mundial Eletro está na plataforma há quatro anos. Esse detalhe passou despercebido pelos clientes de início.
Eles fizeram as compras na página da loja, no site mundiaeletro.com.br. Esse foi o caso de Rafael Silva. “Fui olhar quatro ares-condicionados e encontrei essa Mundial Eletro. Ela estava com boa avaliação no Reclame Aqui, há mais de quatro anos de existência no RA, então me deu confiança para tomar a decisão de comprar”, comenta.
Com isso, ele confirmou a compra. “Comprei e paguei no PIX. Não havia grandes divergências de preços para os valores de outros mercados. No total dos quatro aparelhos, tive uma margem de desconto de R$ 800. Então, fiz o PIX”, lembra Rafael.
O mesmo aconteceu com diversas outras vítimas, como Débora de Jesus. “Eu e meu marido estávamos pesquisando ar-condicionado e surgiu essa Mundial Eletro. Vimos que era de Joinville, fomos até a loja e nos falaram que a promoção existente no site duraria só mais um dia. Cheguei em casa, finalizei a compra e paguei no PIX, porque era mais barato”, relata.
Sara Rodrigues, outra pessoa lesada pela loja, também comprou um ar-condicionado. Ao procurar a loja na internet, encontrou as boas avaliações e decidiu adquirir o produto. “Pelo PIX, tinha um bom desconto. Fechei a compra do ar, fiz o PIX e recebi a confirmação da compra, além da nota fiscal. O prazo de entrega era de 15 dias úteis, mas estava tudo certo”, conta.
Foi a partir do processo de entrega que os clientes começaram a suspeitar de irregularidades. Josiel, outro cliente, estranhou quando a Mundial Eletro não forneceu o código de rastreamento da compra, prática extremamente comum em compras pela internet. Todo o suposto trâmite logístico era notificado pelo e-mail.
“Eles mandavam cada etapa, como ‘produto despachado’, ‘produto em trânsito’. Isso era mandado pelo e-mail. Quando mandávamos e-mail pedindo o código de rastreamento e a transportadora, eles respondiam que não tinham acesso, sempre com alguma desculpa. O prazo de 15 a 20 dias úteis começou a ser extrapolado e o produto não chegava”, afirma Josiel.
A tentativa de obter informações sobre a entrega também foi sem sucesso para Sara. “Quando eles mandaram e-mail falando que o produto estava em transporte, não mandaram o código de rastreio. Entrei em contato e a resposta foi que, como eles optavam por uma transportadora, eles mesmos atualizavam o status”, diz.
Um exemplo de como aconteciam as atualizações são os e-mails para o Rafael Silva. Confira:
“Imagino que, para ganhar tempo, o pessoal criou toda essa estrutura de trâmite do pedido, da movimentação da mercadoria. O pessoal ficou ganhando tempo com isso e, provavelmente, foi movimentando esse dinheiro entre as contas. Assim, foi o golpe”, supõe Rafael.
Com a falta de informação e sem as entregas, as pessoas começaram a publicar relatos no Reclame Aqui, no qual a nota da Mundial Eletro baixou drasticamente. Atualmente, nem avaliação há, pois está sob análise do site.
A plataforma Google Trends indica que houve um aumento nas buscas do termo “Mundial Eletro é confiável”. Analisando o período dos últimos 12 meses, houve algumas buscas no ano passado, mas as pesquisas aumentaram a partir agosto deste ano. Sobre o termo “Mundial Eletro”, o Trends mostra que nos últimos 12 meses houve um aumento repentino nas buscas por “Mundial Eletro Reclame Aqui”, “ME Mundial Eletro” e variações sobre a confiabilidade da empresa.
Com as suspeitas, Josiel criou um grupo no WhatsApp para juntar o maior número possível de clientes. Segundo ele, atualmente, mais de 600 pessoas participam do espaço virtual.
Foi a partir dele que as vítimas citadas nesta matéria entraram em contato com a reportagem do jornal O Município Joinville. Entre elas, além da Débora de Jesus, Sara Rodrigues e Rafael Silva, está a advogada Lídice Mayo. “Eu fui uma das vítimas e, como eu estava no grupo dos enganados pela Mundial Eletro, entrei com ação judicial para mais de 300 pessoas”, comenta.
Com a explosão de reclamações e acusações de golpe, a loja física foi fechada e as funcionárias, demitidas no dia 26 de setembro. Não se sabe onde o responsável pela empresa está. “Quando estourou essa bomba, esse pessoal sumiu. Sumiram com o nosso dinheiro”, explica Josiel.
Atualmente, o site oficial da Mundial Eletro, o telefone para contato e o e-mail do Serviço de Atendimento ao Consumidor (SAC) não existem mais.
A reportagem do jornal O Município Joinville buscou comunicação com o estabelecimento e com o responsável pela empresa, mas sem sucesso. O e-mail do SAC consta como inexistente e os números de telefone associados a Mundial Eletro e ao responsável também não existem. No local onde ficava a loja, outra empresa foi aberta.
Em última checagem nesta quarta-feira, 22, pela reportagem, o Instagram da empresa, @mundialeletro_me, permanece ativo. Entretanto, a última postagem foi há nove semanas. Uma publicação em 29 de agosto mostra um vídeo com o texto “Entrega programa lojistas Joinville”.
Outra postagem, há 13 semanas, no dia 22 de agosto, mostra prints (fotos da tela) de reclamações resolvidas. A legenda diz “Quando o assunto é resolver, somos ótimos”.
Os clientes, agora, buscam soluções na Justiça. “Em muitas dessas ações judiciais, o juiz deferiu o bloqueio das contas bancárias da Mundial Eletro”, diz a advogada. As contas do responsável pela empresa também foram bloqueadas. Isso ocorreu em São Paulo. “Na área cível, há várias ações no Brasil inteiro e estão pedindo a reparação do dano”, comenta advogada Lídice.
“Com relação ao golpe, estou tentando um advogado para poder entrar em processo contra eles. Esse caso é uma falta de respeito. O pobre sempre perde. Então, o que podemos fazer? É correr atrás. Vamos ver no que dá”, relata Débora.
“Nós ficamos de mãos atadas, porque fizemos o que era possível fazer. Abri o boletim de ocorrência, fiz a representação na Justiça e até agora ninguém da investigação me chamou para apurar. A sensação que temos é que ninguém se mexe para investigar. Não sabemos se vamos chegar no dinheiro, mas gostaríamos da justiça sendo feita”, afirma Sara.
Mesmo com as ações e os boletins de ocorrência, as possibilidades de resultados não são animadoras para os clientes. A advogada Gláucia Marinho, representante de um cliente no Rio Grande do Sul, explica que é “improvável que contra eles haja a responsabilização criminal”.
Ela diz que o pedido para bloquear as contas foi negado. “Dificilmente eles serão citados e, por isso, não sei se o processo terá um bom andamento. Vai ficar parado por um bom tempo. Então, o que se espera é que eles sejam responsabilizados criminalmente”, lamenta a advogada.
Um novo CNPJ foi aberto, agora como GCC Comercial Ltda., tendo como descrição das suas atividades e endereço os mesmos da Mundial Eletro.
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