Empresa propõe projeto piloto para uso de rede de esgoto inativa de Brusque
Rio Vivo garante recuperação de estrutura implantada nos anos 90; Samae alega que manilhas "estão condenadas"
A Rio Vivo quer realizar um projeto piloto no entorno da Vila Schlösser para verificar se é possível recuperar a rede de manilhas. A empresa diz que arcará com os custos desta fase e que tem conhecimento por onde passa a rede, algo que até hoje é alvo de contestações.
As manilhas são alvo de polêmica há anos. A Prefeitura de Brusque, em diferentes gestões, informou que não havia dados fidedignos de por onde a rede passa. No entanto, o gerente da Rio Vivo, Gustavo Pereira Bez, afirma que a empresa tem em mãos um levantamento.
De acordo com ele, há uma série de documentos públicos, no Ministério das Cidades, nos quais “há uma boa ideia do projeto original”. “Temos o projeto original do que foi previsto. Não temos confirmação se todos os pontos foram executados conforme o documento”, afirma.
“A Rio Vivo fez confirmação com poços de visita [acesso às redes de serviços subterrâneos]. Foi feito o levantamento de 40 poços, com sua localização exata. Todos foram inspecionados com fotos e determinação do diâmetro da tubulação. Também vimos se está seco ou se tem líquidos, seja da rede pluvial ou de esgoto”, diz Bez.
Com base nessa amostra, a Rio Vivo acredita que poderá reutilizar a rede de manilhas para o esgoto doméstico. O levantamento mostra, inclusive, que em alguns poços há passagem de esgotamento.
Provavelmente, são ligações de esgoto que foram feitas no início da década de 1990, quando a rede de manilhas foi construída. Já em alguns poços passa apenas água da chuva.
O levantamento da Rio Vivo não diagnosticou toda a rede, que tem mais de 50 quilômetros no projeto original. Por isso, não há como ter a confirmação de todo o trajeto dela. Porém, como a amostra bateu com o projeto, a crença da empresa é que o traçado seja bastante parecido com o que está no papel.
Projeto interligaria redes pública e industrial
Há, atualmente, duas redes de esgotamento em Brusque. A rede pública é a de manilhas cerâmicas, cuja construção começou em 1993. Ela tem extensão de mais de 50 km e nunca entrou em operação porque a obra não foi finalizada por completo.
A rede pública é composta apenas pelas manilhas e não leva a estações.
Já a rede industrial foi construída pela Rio Vivo também na década de 1990. Ela passa pela área central e serve para coletar esgoto das empresas e tratá-lo na estação que fica no bairro Steffen.
As duas redes não são interligadas, mas podem ser conectadas, segundo o gerente. Esta é a ideia da empresa no entorno da Vila Schlösser.
Se o projeto for posto em prática, o esgoto coletado nesta rede pública será levado para uma estação elevatória da Rio Vivo, que encaminhará os resíduos para estação de tratamento. Bez diz que a empresa está disposta a arcar com os custos deste projeto piloto para verificar se é possível reutilizar a antiga rede de manilhas.
A proposta já foi apresentada à Câmara de Vereadores, à Associação Empresarial de Brusque (Acibr) e à prefeitura.
Segundo Bez, a resposta dada foi que a prefeitura irá analisar a questão do saneamento ainda neste ano. Não houve indicativo sobre o aceite ou não ao projeto.
Apenas na área central
A Rio Vivo está interessada em assumir o saneamento básico do município há anos. Fez várias propostas, algumas negadas, outras ignoradas por diferentes gestões.
Segundo o gerente, todas foram no sentido de aproveitar a rede de manilhas, que fica na região central. O tratamento de esgoto começaria por ali, e a sua expansão dependeria de que tipo de contrato seria firmado com a prefeitura.
Bez diz que a Rio Vivo “não discute forma de contratação”. O gerente garante, contudo, que a empresa consegue implantar o sistema de tratamento de esgoto ao custo de 70% da conta água do contribuinte.
Números de outras cidades dão conta que o esgoto pode custar até 110% o valor da conta de água.
Rede de manilhas pode ser recuperada, diz Rio Vivo
O levantamento da Rio Vivo nos poços de visita tem dois pontos principais. O primeiro deles é a evidência de que há algumas casas ligadas à antiga rede. O segundo é que a rede, provavelmente, passa exatamente, ou muito perto, do traçado previsto no projeto original.
“Além deste levantamento, que mostra onde há rede e a presença dos poços de visita, pudemos comprovar a integridade da rede”, diz Bez. De acordo com ele, por enquanto não se sabe a porcentagem da rede original que está em bom estado.
“Não há como afirmar quantos porcento são íntegros, se a solução ideal é a A, B ou C. Seriam necessários estudos. Mas há disponível no mercado nacional tecnologia para inspeção por robôs”, afirma o gerente.
Pelas análises prévias, a Rio Vivo entende que a rede de manilhas é viável. Segundo Bez, há redes cerâmicas com 70, 80 até 100 anos em funcionamento no país.
Com base na análise prévia e na durabilidade da cerâmica, a Rio Vivo entende que pode recuperar a antiga rede. A forma de fazer isso é que deve ser avaliada, poderia ser com revestimento interno ou outra tecnologia. Bez garante que esses métodos são viáveis economicamente e podem ser empregados pela empresa.
Rede condenada
Consultado por O Município, o diretor-presidente do Serviço Autônomo Municipal de Água e Esgoto (Samae), Roberto Bolognini, diz que não acredita na possibilidade de uso da rede.
“Com minha experiência, posso dizer que a rede manilhas está condenada”, garante o diretor-presidente. Ele lamenta o fato de Brusque ter perdido a “oportunidade de ser pioneira no tratamento de esgoto doméstico na década de 90”.
Proposta acabaria com pendência no governo federal
A Rio Vivo procurou dados no Ministério das Cidades e obteve a informação de que a rede foi executada totalmente no que se refere às manilhas cerâmicas. No entanto, ela nunca entrou em operação porque não foi feita uma segunda etapa, que seria o coletor-tronco.
Esse tronco principal é fundamental para levar o esgoto para as estações elevatórias e à estação de tratamento. Como ele não existe, a obra não entrou em funcionamento, o que gerou pendência no governo federal.
Na década de 1990, a Prefeitura de Brusque ficou com o nome sujo na esfera federal. Só conseguiu receber recursos depois da obtenção de uma liminar na Justiça.
Um parecer técnico do Ministério das Cidades de 2002 comprova que a rede de manilhas foi completamente terminada, mas nunca entrou em operação. O documento é público e foi assinado por Errol T. Kohnert Seidler, gerente de projeto.
O gerente da Rio Vivo avalia que, caso a rede de manilhas fosse reaproveitada, entraria em operação. Portanto, pela lógica, acabaria a pendência com a União.
Contudo, Bez diz que seria necessária uma consulta prévia ao ministério para saber se é possível. “Foi feita uma obra, veio dinheiro, mas nunca entrou em operação. Nunca foi tratada uma gota de esgoto. Essa me parece ser a grande pendência”.