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Empresários discutem a crise no Brasil em Seminário da Abit

Encontro reuniu lideranças dos setores têxtil e de confecção

O prognóstico econômico para o ano que vem não é de melhora. O diagnóstico pode parecer repetido, mas foi dito por Fernando Pimentel, diretor superintende da Associação Brasileira da Indústria Têxtil da Confecção (Abit), que tem relações com os políticos do primeiro escalão do governo federal. Ele diz que a falta de conexão política entre o Congresso Nacional e os interesses da população é um dos principais fatores para a situação atual.

“Brasília está de costas para o Brasil”, diz. “Nada do que é discutido lá [Congresso Nacional] tem relação com o mundo real”, completa. Pimentel, uma das principais figuras do empresariado têxtil brasileiro, deu uma palestra sobre a agenda de prioridades do setores têxtil e de confecção até 2018 na sexta, em Brusque, como parte do Circuito Abit/Tex Brasil de seminários.

A avaliação que ele passou para os empresários não foi nada boa. Ainda sobre o desprendimento dos deputados e senadores em relação ao resto do Brasil, Pimentel fez fortes críticas ao governo. Para ele, a capital federal é uma ilha da fantasia que discute política, enquanto os empreendedores se esforçam para gerar emprego e tocar o país.

Pimentel é bem relacionado na capital federal, vai todas as semanas para lá, com o objetivo de defender os interesses dos setores têxtil e de confecção. Na avaliação do diretor, o Congresso Nacional “está um nó” porque cada partido puxa para um lado. A falta de governabilidade e coesão política é a fonte da maioria dos problemas da nação: como a falta de segurança jurídica.

Conforme o especialista, o respeito às leis deve ser a base de um país, porque só assim os empresários se sentem confortáveis para poder investir sem medo de ter seus bens confiscados ou qualquer outro prejuízo. Pois no Brasil isto acontece, mas não sempre, diz Pimentel. Ele cita o ditado que diz que “não confie no governo nem estando no governo”.

O problema é que muitas leis trabalhistas, por exemplo, mudam demais. Os empregadores ficam com medo de processos e por vezes freiam a sua atividade econômica por causa disso. Este é um dos pontos a serem aprimorados, conforme o diretor da Abit.

Pimentel criticou duramente o governo federal pelas “pedaladas fiscais”. O termo se refere à manobra que a equipe de Dilma Rousseff adotou ano passado, mudando as leis para conseguir fechar o caixa da União, que havia registrado grandes perdas. Isto não é permitido, por isso o Tribunal de Contas da União (TCU) recomendou ao Congresso Nacional a rejeição das contas de 2014, o que poderia gerar o processo de impeachment de Dilma.

O diretor da Abit criticou a pompa com a qual a equipe do governo entregou a sua defesa para o caso das “pedaladas”.

Desemprego e inflação

Pimentel apresentou alguns números que dão dimensão da situação atual. Segundo ele, o segmento têxtil fechará 100 mil postos de trabalho em 2015. O desemprego é o primeiro passo da crise, avalia o diretor. “O segundo passo, infelizmente, é a inflação, hoje está em 10%, mas pode ir a 20% ou 30%, se nada for feito, como aconteceu na Argentina e em outros países”, afirma.

A inflação é um dos piores efeitos da crise porque corrói o poder de compra do trabalhador e encarece a indústria. Para Pimentel, o motivador deste cenário é um só: o governo brasileiro. “É barbeiragem nossa”.

Além da inflação e da insegurança política e jurídica, o custo da energia elétrica também afeta a indústria. Este foi o tema da palestra de Rodrigo Sarmento Garcia, da Confederação Nacional da Indústria.

“O segundo passo, infelizmente, é a inflação, hoje está em 10%, mas pode ir a 20% ou 30%, se nada for feito, como aconteceu na Argentina e em outros países”

100 mil
Empregos no setor têxtil extintos até o fim do ano


Exportação é a alternativa para evitar mais perdas

“O Brasil quebrou em real dessa vez, não foi em dólar. Vamos gastar alguns anos para nos recuperarmos”, diz o diretor superintendente da Abit. A recessão interna tem o impacto de que a demanda por roupas dentro do país é reduzida. Com menos serviço, as empresas demitem; os trabalhadores sem dinheiro não compram, o que reduz ainda mais a demanda. É um ciclo vicioso.

O objetivo do seminário foi, também, apresentar o projeto da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil). Antônio Carlos Cambauva, do programa TexBrasil, mostrou como funciona o sistema e como ele já está dando resultados para várias empresas.

O Brasil tem vantagem sobre os outros países fortes no segmento têxtil: todos os elos da cadeia produtiva estão aqui. O desafio para os empresários é conseguir utilizar isto e se manterem competitivos. Pimentel diz que há espaço para os produtos brasileiros em outras nações e que esta é, talvez, uma das melhores medidas para não deixar a atividade interna piorar ainda mais.

“Ano que vem acreditamos que poderemos alcançar 10% em exportação. Veja bem, tem dois condicionantes aí”, afirma. Pimentel cobra que o governo federal busque mais acordos internacionais para facilitar a vida dos empresários exportadores. Ele diz que focar na América do Sul foi um erro guiado por uma “ideologia tosca”. “Podemos negociar com quem quiser, mas não podemos nos esquecer dos grandes mercados”, comenta.