Empresários questionam falta de divulgação de dados em apreensões de cargas roubadas
Núcleo de Fabricantes de Toalhas da Acibr divulgou nota pública; delegado da DIC de Itajaí explica trâmites
Uma nota pública do Núcleo de Fabricantes de Toalhas da Associação Empresarial de Brusque (Acibr), divulgada na terça-feira, 21, teve grande repercussão, especialmente nas redes sociais. O manifesto tratava sobre as apreensões de cargas de algodão roubadas na região.
Conforme a nota, as práticas ilícitas, além de denegrir a reputação da classe têxtil, também provocam prejuízos com concorrências desleais, sonegações de impostos e aumento exponencial no valor do frete. “Tais crimes fazem com que companhias de seguros e transportadoras deixem de trabalhar com algodão em nossa região”.
Por isso, além de cobrar das autoridades policiais a divulgação dos nomes dos investigados e envolvidos, o núcleo se colocou à disposição das autoridades competentes para ajudar na elucidação dos crimes. “Acreditamos que só a verdade dos fatos ajuda a resguardar a reputação das empresas idôneas”, completa a nota.
O coordenador do núcleo, Jonas Groh, afirma que o objetivo da nota é tentar ajudar a polícia. “Sabemos quais empresas trabalham de forma correta e quais não. Somos em 25 empresas no núcleo e nenhuma delas foi questionada pelo delegado, porque não há nada de irregular”, diz.
Ele acrescenta que o núcleo não concorda com a falta de publicação dos envolvidos, pois “muitas vezes podemos ser parceiros de uma dessas empresas e sermos prejudicados por algo que não tem nada a ver”, afirma Groh.
Segundo o coordenador, o núcleo trabalha em parceria com fabricantes de algodão e fiações e já está adotando medidas para evitar que cargas possivelmente furtadas ou roubadas cheguem até as empresas. “Quero frisar que apoiamos a polícia e parabenizamos pelo trabalho que vem realizando na região”, diz.
Sigilo necessário
O delegado da Divisão de Investigação Criminal (DIC) de Itajaí, Weydson da Silva, explica que desde abril a Polícia Civil trabalha em investigações nas cidades de Brusque, Botuverá e Guabiruba, sobretudo na apreensão de cargas de plumas de algodão.
Todas as apreensões foram em virtude, comprovadamente, da origem ilícita: ou foram furtadas ou roubadas. No primeiro momento, a polícia não apurou irregularidades praticadas nas etapas seguintes de produção. “O objetivo foi tirar de circulação mercadorias de origem ilícita”.
Desde abril deste ano até novembro, a DIC de Itajaí realizou diversas apreensões na região. No total, mais de 150 toneladas de plumas de algodão de origem ilícita foram apreendidas por meio de investigações em Botuverá e Guabiruba.
“Em abril fizemos a prisão em flagrante de um empresário. Posteriormente tivemos várias outras apreensões que inclusive não foram divulgadas em virtude do sigilo que é necessário para chegar, de maneira satisfatória, na apuração dos responsáveis pelas cargas”, diz o delegado.
Em outubro, 54 toneladas de plumas de algodão, avaliadas em mais de R$ 330 mil, foram recuperadas pela Polícia Civil de Itajaí em apenas uma semana. “As situações foram divulgadas porque já havíamos coletado material probatório suficiente de modo que a divulgação, preservando alguns dados, não atrapalharia o trabalho policial”, informa.
O delegado acrescenta que alguns casos não são divulgados momentaneamente para obter sucesso necessário para a investigação. Quando ocorre a divulgação com nomes, endereços e identificações, é em virtude do trabalho da Polícia Civil já ter sido feito de maneira a poder afirmar, conclusivamente, que os dados são os que a polícia adotou como sendo os verdadeiros. Ou seja, as pessoas indicadas e empresas envolvidas tem algum nível de responsabilidade nos casos.
Entretanto, quando o nome e identificação não são divulgados à imprensa e à população é porque a polícia ainda não tem segurança para apontar a participação efetiva dessas pessoas. “É necessário um trabalho com segurança, técnico e com isenção para que cheguemos a um resultado satisfatório para apurar e apontar no final do inquérito policial os responsáveis por receptação, apropriação, adulteração de documentos ou uso de documentos falsos”.
Em alguns casos, a empresa simplesmente recebeu a mercadoria e foi tão ludibriada ou prejudicada no fim do processo quanto a que teve a carga roubada, por isso a investigação precisa ser cuidadosa, diz o delegado.
“Não podemos agir com irresponsabilidade e denegrir sem fundamentos concretos o nome de pessoas e empresas que, às vezes estão sediadas e trabalhando no mercado há mais de 10, 15 anos. Acho que a nota do núcleo foi um pouco infeliz neste sentido, porque o trabalho da Polícia Civil tem que ser feito com responsabilidade para apurar os responsáveis pelos atos criminosos”, afirma.
Disponível para explicações
O delegado da DIC de Itajaí esclarece que sempre esteve aberto a todos os empresários de fiações e transportadoras para fornecer todos os dados possíveis. Contudo, ele afirma que nunca foi procurado.
“Estou de portas abertas para receber os empresários e explicar o que vem ocorrendo na região, indicar pontos falhos que os empresários cometem em relação a recepção de cargas suspeitas e como estancar essa suspeitas de supostas origens ilícitas de cargas”, avisa.
Da Silva ressalta que está disposto também a orientar os empresários sobre o recebimento de mercadorias de origem suspeita, como por exemplo, documentações que devem ser solicitadas para o resguardo das empresas quando algo que não é usual ocorrer.
O delegado afirma que, oportunamente, serão divulgadas as identificações dos responsáveis pelas cargas apreendidas na região, quando forem indiciados, “para aí sim a população tomar ciência de quem atua de maneira correta e lícita no mercado e quem não”.